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Quero esquecer a sanidade. Os portões do nosso mundo.

"Ei!", um cara baixo berrou quando eu esbarrei nele e derrubei o líquido que o mesmo segurava em seu corpo. A bebida de espalhou de imediato na blusa branca, manchando-a de roxo. "Seu...", ele começou a falar nervoso, mas eu já andava longe o suficiente para não ouvi-lo mais.

Me empurrando entre a massa de adolescentes à minha frente que parecia infinita, eu procurava freneticamente a filha do dono do lugar. Sob as luzes piscantes e coloridas e bem no meio da claraboia, Ana dançava acompanhada de Raquel e uma outra menina com os braços para cima enquanto gritava como se não houvesse nunca mais o dia de amanhã.

Dei um suspiro frustrado. Aquilo já havia virado uma grande bagunça.

Bebidas doces e alcóolicas jaziam na mesa. Guloseimas de todos os tipos eram pegos graças à cantina. A escola havia em poucos minutos se transformado em um inferno, e onde estava a polícia e os cidadãos preocupados nesta hora?

Ah sim, as câmeras foram hackeadas. Após o aumento de preço e as injustiças que estavam de pouco em pouco assombrando Paramythi, os alunos estavam rebeldes o suficiente para não ligar se aquela festa transformaria a escola - e a minha vida - para sempre. E foi isso o que aconteceu.

Mas que merda, Ana.

Andei até ela. "Ana!", gritei, mas ela não pareceu me ver nem me ouvir. Ou a garota estava me ignorando como sempre fazia, ou já estava bêbada demais para assimilar o seu redor, ou, muito provavelmente, os dois juntos. 

"Ana!", segurei os ombros dela e os sacudi um pouco, apenas o suficiente para ela conseguir me notar. Quando o fez, a garota revirou os olhos, como se eu fosse algum tipo de projétil do mal criado para irrita-la.   

"O que você quer, nerd?", ela perguntou e cruzou os braços.

"Você não acha que essa festa está passando dos limites?", questionei.

"Ana, quem é esse?", antes que ela pudesse responder, a menina ao lado dela perguntou. Ela tinha um sotaque bem aparente na voz.

Bufei e me virei para ela indignado, mas por algum motivo, eu travei. Só agora pude vê-la. 

A garota que estava em minha frente tinha olhos castanhos que eram claros como amêndoa, agitados sobre as luzes da festa. Seus cabelos eram loiro escuros, longos e cacheados, eles caiam abaixo dos ombros, como uma juba que protegia o seu rosto tímido. Ela tinha uma linda pele escura que lembrava chocolate, nariz pequeno, lábios rosados e suas orelhas, que estavam escondidos por dentro dos cabelos selvagens. 

Ela, apesar de tudo, parecia estar deslocada de todos os outros. Era como se estivesse dançando ali, vivendo e estando ali, mas nunca fizesse parte da festa de verdade.

Eu entendia esse sentimento.

"Esquece ele, Sofia.", disse Ana, "Ele é só um nerd que não gosta de se divertir."

Inclinei a cabeça por um breve segundo. Sofia. 

Arregalei os olhos. Foi só aí que a ficha caiu. 

Sem o coque de sempre, a correria para ir à biblioteca da escola, o nariz empinado e o olhar decidido, ela parecia agora ser uma pessoa diferente. Mas era a garota que eu pensava, sem dúvidas ou confusões. Aquela em minha frente era Sofia Trabelsi, a mesma que pegou a minha bolsa e destruiu a minha vida.

"Oi!", Raquel falou ofegante para mim, depois se apoiou na coxa com a aparência cansada. "Mais alguém tá com sede? É que eu dancei muito agora."

"Não, eu também tô.", respondeu Ana. "Mas relaxa, o nerd vai pegar as bebidas pra gente. Não é, nerd?", ela sorriu para mim fazendo-se de inocente.

Se Histórias Fossem Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora