É como o mundo é. As imperfeições perfeitas...
A manhã seguinte apareceu pela janela exatamente como nascia quase todos os dias de verão em Tauros. O muito Sol estava clareando as árvores, e pouquíssima água que voava no ar se recusava a chamar mais dos seus.
Sem muito tempo para dormir, eu acordei naquele dia antes do sol clarear. Para mim, um dos melhores benefícios de acordar cedo é o de poder ver o pôr do sol se expandir pela janela do ônibus, enquanto posso pensar sem interrupções nos questionamentos da vida.
Naquele dia, em nada foi diferente para mim ao encarar o colorido. Apesar de que, assim como em todos os meus dias ruins, pensamentos ainda pareciam querer me sucumbir. Eu estava em um dilema naquele momento, que espremia minha cabeça e me obrigava a pensar. Minhas múltiplas negações e preocupações eram diferentes das de ontem, em um passado onde eu estivera com a cabeça lotada. Mas agora, mesmo que eu possivelmente estivesse em um risco de morte assombroso e, graças isso, passado praticamente a noite inteira acordado e com o medo amedrontador de algum monstro aparecer no momento mais importuno; mesmo que eu e os meus amigos tivéssemos demorado meia hora para elaborar o "Plano Possivelmente Mortal E Nem Um Pouco Lúcido Tomada 1" (PS: Eu escolhi o nome, de nada) e, por último, mesmo que aquela pudesse ser a minha última chance para entender o que Sofia tanto esconde, eu ainda pensava na escola e o quanto que aquilo podia prejudicar o que o diretor pensava de mim.
Talvez seja um pouco burro e até mesmo egoísta decidir de última hora que queria colocar Paramythi antes de qualquer outra coisa, mas, para mim, era o meu sonho e ele estava óbvio. Eu sentia que não conseguiria viver sem completar uma escola de prestígio, sem ter um futuro perfeito em mãos e, principalmente, sem poder dizer que orgulharia a minha mãe se ela ainda estivesse aqui.
Uma hora depois, cheguei na escola. Quinze minutos depois, a aula começou. E algumas horas após isso, enquanto estava atento ao relógio, decidi começar o que havíamos planejado.
A grande sala de aula reprimiu-se em um silêncio instantâneo, depois que nossa professora regressou do banheiro. Até então, todos estavam dormindo, correndo, gritando ou conversando, enquanto desconsideravam o mínimo espaço que as cadeiras os permitiam ficar. Já eu, me aproximei vagamente da carreira da professora, antes de pegar as chaves que estavam encima dela. Elas eram um tanto frias, pesadas e, no meio delas, era visível um pequeno chaveiro de ouro falso decorando o objeto com o seu lindo formato de crisântemo (A autora recomenda olhar as notas no final do cap). Quando agarrei e o coloquei contra as minhas costas, guardei-o no bolso das minhas calças. Olhei em volta. Ninguém parecia ter me visto.
Comemorei em silêncio o passo um: Pegar a chave.
Quando a Senhora Bianche - uma professora baixa e gorda, de cabelos grisalhos e amarrados em um coque apertado - começou a escrever no quadro branco, foi preciso apenas 5 minutos para eu me entediar. Levantei a mão, "Posso ir ao banheiro?", perguntei quando ela finalmente virou os olhos para a turma.
"Não", respondeu curta e seca.
Revirei os olhos. Levantei o braço novamente, desta vez me esquecendo de esperar a permissão para falar, "Por favor?", fingi um gemido, "Estou com dor de barriga..."
A professora parou a cópia, se virou para mim e cruzou os braços. Ela parecia ter raiva, "Engraçado... Você não parece estar com dor de barriga quando eu vim até aqui..."
Encolhi os ombros, mas uma voz feminina me pegou desprevenido quando se manifestou no fundo. Era Sofia: "Sim, porque agora precisa ter um jeito certo para parecer ao ter dor de barriga", disse ela sarcasticamente.
A professora parecia estar tão surpresa quanto eu, "Senhorita Trabelsi?", perguntou, enquanto lançava um sorriso para a garota, que por sua vez retribuiu, "Precisa de alguma coisa?"
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Se Histórias Fossem Para Sempre
Short StoryBen Wagner é um garoto de 16 anos que perdeu a mãe ao mesmo tempo que perdeu a inocência. Sem suas histórias de dormir e a tranquilidade ao acordar, ele foi se prendendo em uma prisão na qual a coerção de ser o melhor foi a única coisa que restou...