Nunca mais sairei, se distrações são perigosas
Um homem passou por mim enquanto tocava repetidas vezes o sino de sua bicicleta. Neste momento, eu despertei.
Eu ainda estava no meio da calçada, ainda estava olhando para o horizonte e ainda não fazia ideia do que pensar. Eu só tinha certeza de uma coisa: Sofia me abandonou. Estou sozinho na minha loucura.
Olhei para baixo. "1... 2... 3... ", contei com a minha respiração, "Tudo está bem. Tudo vai ficar bem..."
Quando tomei a coragem que precisava, me virei em direção à rua silenciosa e comecei o caminho até a minha casa. Os meus suspiros eram ouvidos com facilidade, uma vez que todo o resto dormia em silêncio. Havia uma linda fumaça branca que era notada quando eu respirava, sinalizando o frio que havia silenciosamente se arrastado em Tauros.
Havia algo doendo no meu peito agora. Tudo em minha volta parecia diferente, mesmo sendo igual. O branco dos ipês pareciam ter escurecido. As flores em cada jardim, entristecido. O silêncio da noite que eu genuinamente admirava preencheu-se com os altos pensamentos da minha cabeça. "O que foi que eu vi?"
Talvez, tudo pareça sem graça quando uma vez já se teve o mundo.
Quando entrei no ônibus, permaneci o percurso em silêncio. As pessoas em minha volta não se davam o trabalho de me encarar. Todos nós tínhamos pensamentos martelando, mesmo estando cercados por outros indivíduos. Naquela noite escura, ninguém via ninguém. Mesmo juntos, estávamos sozinhos.
Pela janela, uma estação velha surgiu no meio da estrada monótona. Quando ele parou, saí do ônibus e comecei a caminhar. Pouco depois, já estava no campo.
Mesmo morando no lugar desde pequeno, eu nunca me cansei de encarar a região. Ela era grande e imperfeita demais para isso, tanto que se tornou impossível de entender. Para mim, é melhor assim, pois se algo crescer e mudar eu nunca vou ver. Mas se algo permanecer, nunca vou saber. É um mistério e isso faz ser único.
Em cima, uma andorinha azul passou por mim. Ela voava sem rota de chegada, como se procurasse, destemida, o seu lugar feliz. As árvores em multidões tentavam de vários jeitos chamar atenção para si, tão parecidas e tão diferentes, elas se completavam em uma floreta. No fundo, as enormes montanhas se erguiam e vedavam o negro do céu. Elas aproveitam, egoístas, a sua hora de brilhar. E as estrelas, ainda que paradas, estavam lá e viviam ao infinito. Elas não voavam e não eram mágicas, mas, mesmo que eu não as visse quando o sol chegar, saberei que elas sempre vão estar lá brilhando. Então não me preocupei em continuar o meu caminho em silêncio.
Um tempo depois, eu parei de andar quando avistei a minha casa. Era pequena, feita de tijolos vermelhos e se localizava ao lado direito da trilha de terra. Não era tão bonita, mas era o meu lar. No fim de tudo, ela ainda estava lá.
A escrivaninha preta surgiu quando eu entrei, além de um computador velho e os meus jogos de infância. Um sofá vermelho que ocupava a maior parte da sala estava em frente à uma televisão. Quando liguei as luzes, o piso de madeira se iluminou pela pequena lâmpada.
Depois da sala, uma cozinha pequena era encontrada e, do outro lado, um corredor com exatas 3 portas de madeira.
Meus passos leves viajavam pelo local, enquanto eu deixei, sem querer, um pequeno sorriso escapar. As brincadeiras de infância que nós fazíamos quando eu uma vez fui tão pequeno, tudo aquilo ainda estava lá. As almofadas vermelhas descansando no sofá e, no meio delas, uma outra azul estava enfileirada ao centro. Essa que sempre me chamou atenção era o que se destacava.
Segurei a almofada, encarando-a antes deixar cair no chão. Naquele momento, uma lembrança antes esquecida percorreu a minha mente.
Quando eu uma vez fui tão frágil, jogava almofadas para me salvar. Saltitava em cima delas, pelo medo de cair no chão.
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Se Histórias Fossem Para Sempre
Cerita PendekBen Wagner é um garoto de 16 anos que perdeu a mãe ao mesmo tempo que perdeu a inocência. Sem suas histórias de dormir e a tranquilidade ao acordar, ele foi se prendendo em uma prisão na qual a coerção de ser o melhor foi a única coisa que restou...