vi. chapter

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CAPÍTULO 6

Por Elsa Harper A.

— Então, você não é algum tipo de assassina colecionadora de adagas antigas? — Pergunto, pela milésima vez. Minha voz soa estranha nos meus ouvidos, mas não dou a mínima. Eu estava assustada o suficiente e precisava de algum conforto antes de fechar os olhos perto da minha prima novamente. — Sabe, apenas perguntando.

— Claro que não. — Poppy corou até o último frio de cabelo. O desconforto exalava dela em ondas conforme ela se remexia na sua cama. — Papai me deu apenas para casos de emergência.

Pisquei novamente para a adaga. A lâmina brilhante parecia capaz de cortar o ar. Ou uma jugular. Ou minha jugular se eu não tivesse gritado que era apenas Elsa e não um suposto assassino em série invasor de quartos de adolescentes em um instituto que aparentemente era um antigo sanatório. 

Brilhante.

— Desculpe de novo, Elsa. — Poppy se apressou a dizer. — Você me acordou com um susto e eu fiz a primeira coisa que pensei, foi um reflexo, desculpe mesmo.

Assinto vagarosamente. Não a culpo nem um pouco, só preciso me recuperar, muita emoção para um dia só.

— O que estava fazendo fora do quarto? — Ela pergunta preenchendo o silêncio. — O toque de recolher já bateu.

— Sim, eu sai ás nove e meia para andar um pouco, acabei na biblioteca. — Passo as mãos pelo rosto. — Então, comecei a subir as escadas e..

— E? Com o que você se assustou para entrar daquele jeito? — Ela se inclina em minha direção com os grandes olhos castanhos cheios de perguntas.

— Eu... — Molho os lábios sem saber bem o que dizer. — Não sei. Quer saber? Acho que todo o estresse do acidente de hoje mais cedo, os remédios, a mudança, tudo isso tem me tornado volátil e emocional. Acho que preciso dormir.

Poppy fica em silêncio por alguns instantes e depois assente com o olhar compreensivo. — Apenas saiba que pode me contar, entendeu? Qualquer coisa.

Concordo. Sei que posso. Mas quando você sai de um universo onde tudo que você tinha era seu pai, é difícil se acostumar a dividir o fardo com outra pessoa. É difícil se acostumar a ter uma amiga, a ter uma família. Dou um sorriso para Poppy, deixando-a saber que estou feliz e agradecida pela sua proposta. Amanhã. Contarei a ela amanhã. Hoje não. Hoje preciso esquecer e fingir que não pareço estar a beira de um surto.

Mas quando me deito na cama, não consigo dormir. Meu corpo parece ligado, meu cérebro correndo a mil por hora. Pode ser apenas coisa da minha cabeça. Quem sabe fosse a ventilação, uma impressão. Talvez eu estivesse doente. Sim. Talvez fosse a hora de tomar aqueles calmantes como a psiquiatra recomendou.

Talvez eu tenha desenvolvido estresse pós-traumático intenso e esteja tendo alucinações. Mas foi tão real. Tão real. Me viro de lado e pego o chá que Poppy havia me dado mais cedo. Bebo um gole. Tem gosto de gengibre, sálvia e alguma coisa mais forte que eu não consigo identificar. Mas bebo três goles, ansiosa para relaxar. Ansiosa para parar de pensar.

Poppy não consegue dormir também. Suas costas são a única coisa que consigo ver. Ela está encolhida e virada para parede, o corpo tão tenso quanto uma corda. Algo está acontecendo. Algo que não tenho a mínima ideia.

Algo que eu preciso, desesperadamente, descobrir.

Mas eu durmo em um sono repleto de sonhos.

Abro os olhos e estou em casa. Estou sentada na beira da minha cama de solteiro. Eu reconheço imediatamente que é Michigan. Meu pequeno quarto é meu refúgio particular. Eu gosto dos meus lençóis verde água, dos inúmeros desenhos enchendo minha parede, das cortinas branco gelo que tapam a visão para o mundo exterior. Nada além de mais casas e um bando de vizinhos chatos que escondem seus filhos de mim.

Eles dizem que sou uma aberração.

Tudo porque tive um episódio de colapso no meu primeiro dia de aula em Michigan. Eu berrei e chorei. Não sei como chegaram aos ouvidos dos pais dos alunos. Esse é problema de cidades pequenas. As notícias correm. No meu segundo dia de aula, o diretor me chamou na sua sala. Ele nem mesmo me deixou passar pelo corredor em direção as salas de aula. Papai já estava lá.

Segundo o diretor, as reclamações foram tantas que ele não poderia fazer nada além de, infelizmente, interromper meus estudos na Michigan High School. Em outras palavras, ele estava me convidando a sair do colégio. A humilhação era tanta que eu queria morrer. Papai apenas acenou, concordando. Ele não brigou como qualquer outro pai faria. Na verdade, ele estava acostumado. Não era a primeira vez e não seria a última.

Desde então tenho frequentado a escola do outro lado da cidade. Uma escola privada de classe média restrita com poucos alunos. Eu sabia que papai trabalhava dias e noites, fazendo hora extra, apenas para conseguir pagar a mensalidade. Isso fazia uma onda de culpa cair sob mim.

Meu celular toca, me tirando do torpor dos meus pensamentos.

— Pronta para hoje a noite? — O nome de Claire aparece no touchscreen. É uma mensagem.

Outra onde de culpa. Droga. Papai odeia que saia de casa a noite. Mas tecnicamente ele me deixou ver Claire, não foi? Qual é? Sempre fui obediente, sempre ouvi cada palavra dele. Agora eu só desejava curtir um pouco com minha primeira amiga em anos. Minha primeira amiga da vida. Claire.

Claire Donovan. Uma estudante que se transferiu de Vancouver para Michigan. Ela chegou há duas semanas. Uma parte de mim pensa que é apenas uma questão de tempo até os comentários sob minha falta de sanidade chegarem até ela, uma questão de tempo até que ela decida que sou realmente uma perca de tempo.

— Sim. — Respondo simples e logo depois volto a digitar. — Meu pai deixou.

Jogo o celular na cama e cruzo as pernas embaixo de mim. Dou uma olhada para a porta. Está trancada. Só então tiro aquilo que fui buscar no escritório do meu pai. Está amassada depois de eu ter apertado nas mãos. Corro para desamassar. É uma foto.

A mulher de cabelos castanhos sorri em direção a câmera. Ela tem traços delicados, mas fortes. Com um nariz de botão, dentes bem alinhados e um bocado de sardas e suas bochechas. Ela parece jovem, algo entre vinte e vinte e dois anos. Ela está sentada em uma fonte congelada e há neve sob seus pés, mas ela não parece ter frio, já que veste apenas um uniforme azul marinho com um estranho símbolo parecido com uma rosa no peito direito.

Aperto os olhos para tentar ler as letras do uniforme. Mas não consigo. A imagem não é nítida o suficiente. Não há mais alunos, apenas ela.

Viro a imagem e leio o que está escrito atrás em uma letra cursiva: — Formatura de Katrina no Instituto Rosemary, 1992. 

Meu coração acelera, porque eu sei, enquanto olho naqueles olhos castanhos, que estou olhando para uma foto da minha mãe. 

[NOTA DA AUTORA]

Dois capítulo em um dia só! UUHUUUUUL! Sei que o capítulo foi pequeno, mas as revelações foram legais, hm? haha. Me contem o que estão achando.

XOXO, AILEEN.

Kalel [Royal Vamp¹]Onde histórias criam vida. Descubra agora