vii. chapter

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CAPÍTULO 7

"She couldn't wait to go to college

She was tired 'cause she was brought

Into a world where family was merely blood"

- Hope ur ok, Olivia Rodrigo (Deus, eu amo essa música!)

Por Elsa Harper A.

Acordo com a respiração acelerada. A sensação queima no meu peito. É aterrador, magnânimo e me causa um pânico que eu nunca senti. Reviro minha mesinha de cabeceira e pego o caderno e um lápis. Minhas mãos correm pelo papel. Preciso desenhar, se eu não desenhar vou esquecer. Vou esquecê-la. Vou esquecer como ela se parece. Tento traçar com o máximo de detalhes que posso.

O nariz de botão, os lábios relativamente grossos, os olhos grandes e castanhos, como os de Poppy. São os olhos dos Ackworth, os olhos de Jensen. A profusão de cabelos castanhos que desce até cintura, até a ligeira covinha que há na sua bochecha direita. Uma versão mais nova minha me olha de volta quando largo o desenho.

É minha mãe. 

Por um segundo, a sensação é tão aterradora que parece que um martelo me acertou no estômago e quebrou todos os meus ossos. Eu sempre sabia que tive uma mãe, sempre. Mas agora parece mais real. Agora o nome vem logo seguido de um rosto. Um rosto como o meu.

Abraço o desenho contra o peito, como se estivesse abraçando-a. O abraço que nunca tive a chance de ter. Meu Deus. Eu conheci o rosto dela no mesmo dia que perdi meu pai. No mesmo dia da tragédia. Ganhar muito e perder muito. Perder tudo. 

Outra revelação me soca. Ela estudou aqui. Mamãe estudou aqui.

Não consigo parar de pensar que ela andou por esses corredores, dormiu em algum quarto como o meu, frequentou as mesmas aulas. É o mais próximo dela que me senti em anos. Ela esteve aqui. Ela é real. Pulo da cama, ansiosa para sair do quarto.

Poppy ainda dorme, encolhida embaixo do lençol. Tomo um banho rápido, minhas mãos tremiam mesmo segurando o sabonete. Euforia.

 Visto meu uniforme, ignorando propositalmente a gravata que não sei amarrar e saio do quarto. O relógio de cabeceira marcava sete da manhã, as aulas apenas começariam as oito.

Meu estômago ronca, mas não quero ver isso. Quero ver outra coisa. Desço as escadas correndo em busca do corredor de entrada. Não demora para achá-lo, talvez eu estivesse me familiarizando com o Instituto Rosemary, afinal de contas. No meu primeiro dia, Poppy me apresentou um pouco do Instituto e passamos por um imenso corredor que atuava como painel com uma dezena de fotos dos alunos formandos. Cada ano uma foto. Cada ano uma turma.

Meus olhos sabem exatamente onde procurar. 1995. 1994. 1993. Meu coração pulsa dentro do peito. 1992. A foto foi tirada na frente do colégio, bem no meio da enorme estrutura gótica, onde o nome "Instituto Rosemary" está cravado. Vinte, ou vinte cinco, estudantes estão encolhidos uns contra os outros. Cada um fardado com o mesmo uniforme que eu uso. Não demora para achá-la.

Ela está bem no meio, na segunda de três fileiras, entre um garoto loiro e outro ruivo. Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus. Ela parece exatamente como na foto. Com o mesmo sorriso, os mesmos olhos. Turma de 1992 — Instituto Rosemary, lê-se na borda da foto. Não consigo parar de sorrir.

Alguém esbarra em mim e só então percebo que estava parada no meio do corredor, como uma idiota. Pego o livro no chão. É Macbeth do William Shakespeare. Não desvio o olhar da capa mesmo quando me levanto para entregar ao dono.

Kalel [Royal Vamp¹]Onde histórias criam vida. Descubra agora