xxiii.chapter

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Capítulo 23

Elsa Harper A.

Alguém está olhando para mim. Não consigo ver nenhum rosto. Nada além do uniforme da escola e um capuz tapando a identidade. Meu corpo começa a tremer, mas não consigo deixar de encarar.

Porque no fundo, eu sei, que isso é um jogo. É um jogo de horror. O jogo da minha vida.

Elsa.

O vento traz o sussurro sombrio até meus ouvidos, me gelando até os ossos, drenando quase toda a coragem de dentro de mim. A pessoa vira de costas, avançando pela neve sem dificuldade em direção até a orla da floresta. Calmamente. Minha respiração acelera. Thump. Thump. Thump. Thump.

Eu não consigo evitar. Saio correndo do quarto, batendo a porta. Desço as escadas tão rápido que quase tropeço. Não demoro para chegar até a porta de entrada. Ela ainda está lá, me esperando. Totalmente de costas para mim há pouco mais de cem metros de distância, quase desaparecendo na orla da floresta.

Meu coração pulsa. Horror corre nas minhas veias, ao invés de sangue. Estou paralisada contra a porta, sem conseguir sair.

Então ela vira. Seu capuz cai, revelando seu rosto para mim. Meu coração despenca dentro do peito, porque sei quem é. Porque lembro.

Miranda.

Eu começo a gritar.

Papai está lá dentro. Ele está lá dentro. Ele está lá dentro. Minha mente não consegue parar de repetir essas palavras na minha cabeça. O fogo é tão alto que mesmo a metros de distância consigo sentir o calor das chamas lambendo a minha pele. Me chamando. Me convidando a ver seja o que for que está lá dentro.

Começo a correr. Pelo menos faço enquanto posso, já que minha perna dói tanto que tenho de mancar ao invés disso. Mas eu ainda iria. Nem que eu tivesse que me arrastar na grama, contra paus e grama mal cortada. Eu preciso chegar até papai. Eu deveria tê-lo escutado, deveria saber que estava fazendo errado saindo se que ele permitisse.

Mas eu não escutei. Eu prometo escutá-lo da próxima vez. Eu prometo. Eu prometo. Repito para mim mesma.

Cambaleio contra os degraus de entrada, tendo que me segurar no corrimão. A varanda não está tomada pelas chamas, o que significa que tenho uma chance de ele estar vivo. Por favor, esteja vivo. Agarro a maçaneta, mas logo pulo para trás com a mão queimando em carne viva. Está quente como o inferno.

Dou um empurrão na porta e ela se abre rangendo. Mas o ranger mal é audível diante do sol de vidro explodindo e as chamas consumindo o lugar que chamei de casa por dois anos. Uma nuvem de fumaça toma meu rosto e eu tusso. Meus pulmões ardem, em um sinal de aviso que estão deteriorados demais para aguentar isso.

Bom, eles devem aguentar. Não temos opções.

A sala está livre, mas a cozinha, que fica nos fundos, parece tomada por chamas. Papai não está lá. É a primeira coisa que verifico. Não está aqui também. Minha única opção é as escadas. Olho para cima tentando ver algo além do corredor. Não há. Pisco rapidamente para afastar a ardência dos olhos.

Lágrimas nublam minha visão, do medo ou da fumaça, não me importa. Nada importa. Nada.

Começo a subir. Rasgo as bordas de minha saia com o pouco de força que tenho e amarro em volta do rosto. Algo molhado mancha minha pele. Por um segundo, penso que é água, mas então o cheiro de sangue me acerta. Meu sangue. A vontade de vomitar me abate e eu me debruço contra o corrimão derramando todo meu café da manhã.

Kalel [Royal Vamp¹]Onde histórias criam vida. Descubra agora