xvi. chapter

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 Obs: É uma terça feira chuvosa aqui. Então, eu pensei: por quê não mais um capítulo sobre vampiros no Alasca?

Elsa Harper A.

Aparentemente fazer um retrato falado é mais difícil do que eu imaginava. Muito mais difícil. Vinte e cinco horas depois, e um punhado de folhas cheias de rabiscos, eu estou quase desistindo. Eu estava sentada nos fundos do colégio tomando uma brisa de ar fresco. Meus dedos doíam de segurar o lápis de madeira entre eles, mas eu não poderia largá-lo ainda. Eu tinha apenas uma coisa para fazer. 

Desenhar Miranda.

Mas tudo dava errado. O nariz saia estranho demais, os cabelos finos demais, as feições redondas demais ou simplesmente, tudo ao contrário. A frustração estava exalando de mim em ondas.

Poppy se sentou ao meu lado segurando sua xícara enorme de chocolate quente. Ela estava sendo minha companhia e não me deixando queimar o caderno a cada desapontamento. Simplesmente não dava nada certo. Toda vez que eu evocava o rosto de Miranda em meus pensamentos, a pressão era tão grande no meu peito que parecia me teletransportar para o mundo dos meus pesadelos.

— Talvez devêssemos continuar com isso amanhã? — Poppy pergunta suavemente, com aquele costumeiro olhar preocupado.

Aperto o lápis. — Não, eu posso fazer isso.

Posso encara aqueles olhos cruéis de novo, digo a mim mesma. Sinto o cheiro de chocolate no meu nariz e vejo a caneca de Poppy a minha frente. — Combustível.

Dou um pequeno sorriso e bebo alguns goles. A quentura aquece meu corpo. Apesar do feitiço de Poppy ser muito bom, ainda não tinha essa sensação natural e leve de beber algo quente no meio de todo esse frio congelante. Eu estava tentando me acostumar aos poucos.

Vamos lá.

 Encarei o papel branco. Foi fácil traçar a linha oval do rosto fino, até mesmo a curva ligeiramente lisa dos seus cabelos castanhos. Miranda era bonita de um jeito peculiar, por mais que sua beleza fosse uma casca de uma alma vazia e completamente surtada. Desenho as sobrancelhas finas, o nariz arrebitado e as maçãs do rosto altas. Isso a fazia parecer uma supermodelo estrangeira.

Desenho os lábios finos paralisados em um sorriso cruel. O mesmo sorriso que ela me deu enquanto tirava as cartas de tarot sobre a minha vida. A roda da fortuna, a morte e a sacerdotisa. Uma parte de mim, a que eu tento esconder, me faz pensar que ela pode estar certa sobre a leitura. Dor, mudança e colapso moldaram esses meus dias.

E então paro. Respiro fundo, evoco a memória dos seus olhos. Minha mão escorrega no lápis, mas o mantenho firme entre os dedos. Eu tenho o direito de temê-la, mas não posso deixar o medo me paralisar. Lembro-me dela caindo sob um toque das minhas mãos, da sua expressão de dor física enquanto, de alguma forma, meus poderes a deixaram perturbada.

Eu sou forte. Não sei ainda o que tenho dentro de mim, mas vou descobrir. E isso está mais perto do que jamais esteve.

Pisco lentamente. E ali está ela depois de um silencioso momento de desenho.

— Pronto. — Respiro fundo.

Poppy espia sob meus ombros. Me viro para ver seu rosto quando ela fica em silêncio. Seus olhos castanhos analisam cada traço com um vinco entre suas sobrancelhas. — Eu não me lembro dela, mas tenho a sensação de que ela parece alguém que conhecemos.

— Eu também. — Digo, aliviada por não ser a única. — Não sei. Talvez pelo cabelo ou as feições marcantes. Parece uma lembrança distante de alguém que já vi.

Kalel [Royal Vamp¹]Onde histórias criam vida. Descubra agora