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JESSI





Pesadelo.

Isso só pode ser um pesadelo, daqueles que te fazem acorda suado e ofegante, que te deixam com medo e tudo oque você quer fazer e se estreitar pra cama da sua mãe.

- Como assim ele perdeu a memória?

- Parece que no impacto com o caminhão, ele acabou batendo a cabeça.

- Jessi, você tem que se acalmar.- a mãe do  Sobin me lembra.
-  Não dá pra se acalmar. Ele esqueceu da filha dele, esqueceu da mãe, pai e família.

- Ele esqueceu de mim.- digo com a voz trêmula.- Ele realmente esqueceu de mim?

- Não se preocupem senhoras, jaja ele se  recupera. Existem alguns casos que o paciente depois de um acidente como esse perdem a memória.- a médica responsável pelo Sobin diz.

- Quanto tempo você acha que ele permanecerá sem memória? - Somin pergunta.

- Provavelmente por duas semanas, logo ele estará ciente de quem vocês são.

- Espero. - sussurro.

(...)

Já se passaram 6 dias que o Sobin acordou e até agora eu não  voltei a vê-lo  de novo. Depois da cena que ele deu quando acordou, ele preferiu não se encontrar comigo ou com a filha dele.

Parece que ele não quer aceitar que agora é pai.

A Jia tem estado meio tristinha por esses dias, talvez seja pelo fato de não ver o pai. Bebês são muito inteligentes, eles conseguem sentir quando são rejeitados.

Rejeitada.

Foi assim que eu me senti quando minha mãe  me abandonou no orfanato. Me perguntava por que ela só me mandou  embora, por que ela não mandou embora o meu irmãozinho também?  Claro que eu não gostaria que ele tivesse a mesma vida que eu tive, isso eu não desejo a ninguém.

Mas me pergunto por que ela abandonou somente a mim.

Ah, é mesmo. Deve ser por que ela não queria uma filha que faz parte da comunidade LGBT.

Eu me descobri bissexual com 11 anos. Precoce não é?

Me lembro da primeira menina que eu gostei. Eu estava no sexto ano e ela era do nono, nessa época eu achava que oque eu sentia era amizade, mas depois de um tempo, veio o ciúmes.

Doía muito quando eu via ela com o namorado, mas achava que isso era normal e que todas as amizades eram assim.

Mas não eram.

Confusa do jeito que eu estava, decide perguntar a pessoa que eu mais confiava no mundo, minha melhor amiga, minha confidente

Minha mãe.

Eu sempre contava tudo pra ela e dessa vez não foi diferente. Disse tudo oque eu sentia sobre a tal menina, contei como eu achava que ela era a pessoa mais linda e engraçada do mundo.

Que o cheiro dela era uma das coisas que eu mais gostava de sentir.

Em quanto eu dizia isso, minha mãe continuava calada, de cabeça baixa, eu inocente achava que ela só estava me escutando.

Depois de confessar todo o meu sentimento, a minha mãe, ela levantou a cabeça, olhou no fundo dos meus olhos, e disse:

" Você é uma aberração."

" Você irá pro inferno."

" Como eu pude dar a luz a um monstro?."

Todas essas palavras foram direcionadas a uma menininha de apenas 11 anos. Essa menina que não sabia dos seus próprios sentimentos. Apenas uma criança.

Bom, o final da história vocês podem adivinhar, fui posta em um orfanato, fiquei lá por uns três anos, os piores anos da minha vida.

Lá não era como os orfanatos das novelas, onde as crianças eram felizes e bem alimentadas.

Lá as crianças eram abusadas, passavam fome, frio e sentiam dor.

Eu tive a sorte de ser adotada, por ser mais velha achava que ninguém nunca me tiraria daquele inferno.

Mas Deus enviou dois anjos na minha vida.

Minhas mães.

Mães de verdade, não uma igual aquele monstro que me deu a luz.

Elas são o motivo de eu ainda viver, se não fosse por elas, eu estaria morta, a muito tempo.

Elas me deram uma casa, comida, uma cama quentinha, irmãos  e o melhor. 

Me deram amor.

Me deram aceitação.

Me fizeram ver que o vilão da história, nunca fui eu.

Hoje eu sei que a culpa nunca foi minha.

- Não se preocupe meu bolinho de arroz, a mamãe vai sempre proteger você. - converso com o meu mundo em meus braços, em quanto dou de mamar a ela.

- Jessi, o Sobin quer ver a Jia.- Somin sai do quarto do Hospital com uma expressão de esperança.

- Só agora ele quer saber dela?

- Vamos lá Jessi, meu filho voltou a ter 20 anos, eu acho que nessa idade nem de casa ele saía, imagina como deve ser confuso acordar e descobrir que tem uma filha.

- Eu sei. Desculpa, não é que eu não queira que ele veja a Jia, eu só estou um pouco estressada demais nesses dias.

- Jessi, nesses 6 dias, quantas horas você dormiu?

- Somin, eu tô legal tá bem? Vamos logo levar a Jia pra ele ver.- tento fugir desse assunto. A verdade é que eu dormir no máximo 5  horas por dia nessa última semana.

Entramos no quarto do Sobin e essa é a primeira vez que eu vejo ele em dias. Como sempre ele está lindo, um pouco pálido e magro, mas continua lindo.

- V-Você pode me dar ela por um minuto?.- sou tirada do meu desvaneio pela sua doce voz.

- Claro, mas ela acabou de mamar, então tome  cuidado pra ela não gorfa em você.

Entrego a bebê nos braços do pai. No mesmo instante em que o Sobin pega a Jia no colo, seus olhos enchem de água.

- Ela parece comigo.- diz dando um sorriso bobo.

- Ela é linda, igual a você.- percebo oque eu disse e vejo o dono dos olhos castanhos mais lindos corar.

- O-obrigada. Posso perguntar uma coisa?

- Vá em frente.

- A gente é c-casado?

- Casado? Por que você acha isso ?

- Você não é a mãe da Jia? Eu acho que mesmo o Eu do futuro não teria uma filha antes do casamento.

- ah, como eu posso ficar com raiva de você, se você é tão fofo.- digo apertando as suas bochechas.

- Não somos? Claro que não. Quem gostaria de casar comigo?.- fala com tristeza na voz.

-  Eu gostaria.- Sobin me olha assustado.

- Se você não tivesse saído de casa e sofrido um acidente, é oque eu pediria pra você. Eu pediria pra casar com você,  Sobin.






                       ✈✈✈✈✈✈




Oi gente, desculpem pela demora.
Espero que vocês não tenham desistido de mim. A história está quase chegando ao fim, então espero que vocês continuem lendo. ❤







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