Morta & Seminua

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Na segunda feira seguinte, assim que eu pisei na escola, notei que algum grande babado estava no ar, prontíssimo para chegar aos meus ouvidos

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Na segunda feira seguinte, assim que eu pisei na escola, notei que algum grande babado estava no ar, prontíssimo para chegar aos meus ouvidos. É quase como uma atmosfera que se expande pelos corredores. Education Light High é considerada uma escola grande, mas não o suficiente para as fofocas. Se algo acontece na portaria, em menos de dois minutos a galera do auditório já está sabendo. E olha que o auditório fica do lado oposto da portaria.

Pedro ainda não tinha chegado, o que é péssimo, pois assim não tenho como saber o que aconteceu. Odeio essa mania que eu tenho de ou chegar muito cedo ou completamente atrasada. Por que eu não consigo simplesmente chegar na hora?

Já que a minha fonte mais próxima não se fazia presente, lá fui eu em busca da outra fonte. Aqui na ELH nós temos uma rádio de fofocas que trabalha a todo fervor por todas as oito horas que somos obrigados a passar na escola, também conhecida como: Yasmin Bravado.

Yasmin sempre está a tagarelar sobre tudo o que acontece, em alto e bom som para quem quiser ouvir. E para quem não quiser também, pois pensa numa garota que fala alto. Não sei como as cordas vocais dela aguentam. Se eu tivesse sorte, ela estaria abrindo o armário e conversando com Beatriz e Ana nesse exato momento. Se eu apertasse o passo, passaria por elas a tempo de ouvir a última notícia.

E foi o que fiz. Graças aos deuses meu armário fica no mesmo corredor que o armário da rádio. Quer dizer, da Yasmin Bravado. Fui até o local como quem não quer nada, e avistei a garota de cachos loiros e longos com os braços cruzados e as costas apoiadas no metal frio. Ao lado direito dela estava Ana, a garota que eu invejava no maternal por ter um nome tão fácil de se escrever. Tenho a sensação de que ela me odeia, não sei por quê. Talvez seja porque o meu nome é complicado demais para uma criança de cinco anos aprender, e por isso a professora sempre me dava mais atenção. Ou dava mais atenção a qualquer outro aluno, até porque Ana só tinha que saber fazer duas letras. E eu, sete! E ainda, entender a razão de ter um traço em cima do ''e''!

Acho que eu nunca vou superar o fato do meu nome ser Sydélia. Eu poderia só aceitar isso e seguir com a minha vida, mas mano, que tipo de nome é esse?

Coloquei a senha no cadeado do meu armário e apurei os ouvidos.

Bia também estava ali, do lado esquerdo de Yasmin. Outra que tem o nome facílimo. E o mais engraçado é que Bia e Ana são irmãs gêmeas. Ambas são completamente iguais em tudo: nos cabelos curtos e castanhos acima dos ombros, nos óculos de grau e no nariz meio quadrado. Nos nomes fáceis de escrever e de se lembrar. A única diferença entre as duas, para mim, é que Ana parece me odiar e a Bia não. É assim que as diferencio, pura intuição.

Ali, só faltava uma pessoa para que o quarteto mais popular da escola estivesse completo.

- Ai meu Deus, olhem só aquilo! – Yasmin arregalou os olhos e apontou para o final do corredor.

Minha atenção se voltou para lá quase que de forma involuntária. Às vezes, funciono assim, sabe... Movida pela curiosidade.

Não pude esconder meu espanto. Pedro Costa, o meu melhor amigo, virava o corredor de mãos dadas com Luíza Pavarotti. Foi quase como se o tempo tivesse parado. Todos os olhares se direcionaram para os dois. Pessoas apontaram, cochicharam, arregalaram os olhos e logo em seguida mergulharam em seus celulares, espalhando a notícia. Foi quase como uma cena de filme. Posso jurar que nesse instante uma brisa bateu no corredor, movimentando os longos cabelos ruivos de Luíza.

Com Todos Os Meus ÁtomosOnde histórias criam vida. Descubra agora