Acho que eu já estive apaixonada por alguém por tempo suficiente para chegar à conclusão de que é horrível estar apaixonada por alguém.
E ao mesmo tempo em que é horrível, é uma das melhores coisas do universo todinho.
Mesmo assim, eu odeio.
E gosto muito também. Mas na maior parte do tempo eu odeio.
E foi isso o que eu disse num sábado ensolarado para a Dona Rute enquanto estávamos sentadas num banco de madeira perto da área da piscina, onde alguns velhinhos faziam hidroginástica.
Desde que comecei meu trabalho voluntário, me aproximei muito de todos na casa de repouso. Passei a conhecer mais de Kiara e sua animação habitual e contagiante. Descobri que o casal de velhinhos Sra. Eugênia e Sr. Francisco não eram tão antipáticos quanto pareceram ser na primeira vez em que estive lá com Rosa. Eles eram não apenas MUITO antipáticos como super amargurados também. Viviam reclamando de tudo, menos do xadrez que jogavam todas as tardes, sem falta.
D. Zilda e D. Alda com certeza eram as velhinhas mais animadas que eu já conheci na minha vida. Seu José se deu muito bem com elas, isso eu posso assegurar. D. Zilda sempre que podia me elogiava, o que fazia seu José contar histórias e mais histórias das vezes em que eu aparecia na sorveteria.
D. Alda, eu tinha certeza, estava apaixonada pelo Sr. Márcio, que não cansava de tirar a D. Zilda do sério. Logo, o passatempo preferido de Seu José e do Sr. Márcio era provocar as velhinhas até serem ameaçados de levarem bengaladas na cabeça.
Todos os sábados, eu acordava animada para chegar logo até a casa de repouso, me perguntando que história eu ouviria dessa vez, ou que novo babado estava rolando entre os velhinhos. Além de que eu ficava imensamente feliz de ver o Sr. José tão bem instalado e cuidado naquele lugar. Ele parecia feliz, então eu também estava.
- Você só diz isso porque é muito negativa, criança. – D. Rute me olhou. Seu olhar era calmo e brilhante. Ela estava sempre em um estado invejável de tranquilidade. - Se apaixonar não é ruim, Syd. Não quando você dá a chance para a pessoa se apaixonar por você também.
As palavras pairaram no ar, mas a verdade me atingiu.
- Não acho que dei a chance para ela se apaixonar por mim. – Pensei alto. Pensar alto é algo que eu me sentia segura de fazer com D. Rute, a qual estava a par de toda essa minha "paixonite" por Rosa.
- Talvez não tenha dado, mas isso é desimportante no momento. Afinal... – Dona Rute fez uma pausa, olhou para o céu azulado e em seguida para mim. – Creio que você nem precisou dar essa chance, menina. Acho que Rosa gosta de você também. Assim como você gosta dela.
- Como a senhora pode ter tanta certeza? – Perguntei, pois queria muito saber a resposta.
- A primeira vez que vocês duas vieram aqui. – Ela disse, apenas. Esperei que ela complementasse com mais alguma informação, mas ela não o fez.
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Com Todos Os Meus Átomos
RomantizmCrescer é algo assustador. Mas não tão assustador quanto se apaixonar, segundo Sydélia Martins. Syd tem uma vida monótona. Uma mãe ausente com muito dinheiro, duas irmãs completamente diferentes, um melhor amigo que em algum momento com certeza vai...