O isqueiro & o amor

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Era quase quatro da madrugada naquele ponto, e todo mundo já tinha aquietado as energias

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Era quase quatro da madrugada naquele ponto, e todo mundo já tinha aquietado as energias. Muita gente dormia de qualquer jeito por aí, mas Rosa não parecia estar com sono.
Só percebi que ela estava me levando até a biblioteca quando contornamos o prédio e paramos em frente à porta branca dos fundos. Olhei para Rosa, me perguntando o que estávamos fazendo ali visto que obviamente o local estava fechado. Ademais, eu tinha quase certeza de que era proibida a entrada de alunos naquele horário.

Iríamos entrar?

- Hmm... O que exatamen... - Comecei a questionar, mas nesse instante ela tirou um molho de chaves do bolso, e o chacoalhou na minha frente.

- O zelador tira uns cochilos sinistros. - Sorriu um sorriso sapeca. Seus olhos estavam escuros, e tinham um brilho de aventura. Percebi que Rosa curtia fazer coisas às escondidas.
Ela achou a chave certa com mais facilidade do que eu esperava e abriu a porta, me deixando entrar primeiro.

A biblioteca estava surpreendentemente quentinha, e me senti aliviada por sair da brisa fria da noite. Pelo jeito o lugar esquentava muito sem o ar-condicionado ligado. Tudo estava no mais puro breu, e eu não conseguia enxergar absolutamente nada, ainda mais quando Rosa fechou a porta atrás da gente.

Um medo começou a tomar o meu peito. Odiava ficar no escuro assim. É quase como se um monstro pudesse me devorar a qualquer instante, ou um assassino pudesse aparecer do nada. E, além de tudo, minha cota de medo diário já havia passado do limite. Quando eu estava prestes a me virar e dar o fora dali, senti a mão quente de Rosa envolver a minha. Instintivamente me virei para olhá-la. Com a outra mão, ela acendeu um isqueiro.

Quando Rosa me puxou gentilmente para que eu a acompanhasse, meus pés desgrudaram do piso como se tivessem sido colados ali por uma cola de má qualidade.

- Também tenho medo de escuro assim, mas não se preocupe. Vem. – Ela disse.

Fui conduzida por entre as prateleiras, e subimos as escadas até o segundo andar da biblioteca. Eu já não me importava com o escuro, com a possibilidade de tropeçar sozinha, com o calor que começava a sentir ou com qualquer outra coisa. Rosa segurava minha mão, e mais uma vez meu estômago estava tomado de borboletas.

Eu não sabia se gostava ou se odiava esse sentimento. Era bom, mas incômodo. Me soava fatal.
- Lembra que você me disse uma vez - Ela se virou para mim, andando de costas conforme passávamos pelos corredores. - Que imaginava como seria passar uma noite na biblioteca?

Puxei na memória, mas não me lembrei de ter dito isso. Eu posso ter pensado, mas não me lembro de ter externado esse pensamento. Comecei a desconfiar que Rosa realmente podia ler minha mente. Não que eu já não tivesse cogitado essa possibilidade antes, mas agora parecia algo mais pautável.

- Não. – Decidi falar a verdade.

- Bem, acho que em algum momento você disse isso. – Ela deu de ombros. – Então, cá estamos. Na biblioteca, de madrugada. O que quer fazer?

Com Todos Os Meus ÁtomosOnde histórias criam vida. Descubra agora