O Amor não é obvio

CAPÍTULO 5 •

De: Carlota

_ Eu odeie o Felipe por tanto tempo. Como se eu tivesse estragado algo que eu havia feito com tanto carinho para nós. Ele tinha estragado a nossa oportunidade de ser uma família normal. Eu sei que as minhas palavras são duras e que você pode pensar que estou louca. Mas eu te esperei por tanto tempo. Eu almejei tanto por esse momento. Aonde eu não precisasse fingir ser uma boa mãe e muito menos uma boa esposa. Eu posso compartilhar com você o tanto que eu odeio a maternidade. Eu não sabia que precisaria me doar tanto, me sacrificar por completo pela minha família. As vezes eu sinto vontade de sumir, de ir embora. Mas quando eu me pego planejando ir embora é com os meus filhos no colo. É surreal a solidão que eu senti por não ter ninguém a quem eu pudesse contar. Você foi uma das pessoas que eu quis colocar em um potinho e jogar fora. Eu fiquei com tanta raiva, o ódio me possuía algumas noites em que eu só precisava de tomar um café, jogar conversa fora e esquecer dos meus problemas. A sua ausência me gerou longas sessões de terapia. - Gargalhou.

_ É muita coisa para processar! - Falei ainda tentando digerir as palavras ditas como uma faca no meu estômago.

_ Isso é só o começo de tudo que tenho para te contar. Agora você entende que tudo mudou?

_ Eu não sei estou preparada para continuar essa conversa. - Falei trêmula.

_ Você precisa estar preparada para a realidade. Nós mudamos. Nada é como era antes. O Edgar não mora mais na frente da praça, a Sarah refez a vida dela e [...]

_ Emma estou sentindo como se estivesse descongelando. Eu esperava que as coisas tivesse no mesmo lugar que eu as deixei. É desesperador saber que vou ter que ouvir todos os meus amigos. Eu só espero que eles estejam bem. Não quero me sentir mais culpada.

_ É só o começo! Eu não vou falar nada que não seja a respito da minha vida. Você terá tempo de entender melhor tudo que aconteceu com todos nesses últimos anos. - Repirou fundo e continuou. _ Felipe bateu o carro naquela maldita árvore pois estava bêbado e muito provavelmente drogado. Ele por um bom tempo não conseguia nem sequer olhar para minha cara de tanta repulsa que sentia pela mãe de seus filhos. A rejeição foi mais um sentimento deplorável que aprendi a lidar, a indiferença que ele me travava. Ele foi um grande filha da puta comigo esse tempo todo. Ele foi um marido péssimo para mim. Nos momentos que eu mais precisei de um homem de verdade ao meu lado ele se ausentou. A sua dor sucumbio tudo aquilo que nós havia construído juntos! Éramos um casal admirável, vivemos momentos incríveis e inesquecível. A dor nos fez tirar todos aspectos melancólico e nos transformou em meros sobreviventes.

_ Você sempre amou tanto a vida. Ter que te ouvir falar palavras tão duras e sufocantes me desespera. Você também não é a mesma Emma.

_ Sem dúvidas eu não sou a mesma! Depois de tudo que passei eu precisei mudar. A Emma do passado não suportaria tamanha desgraça. Os pensamentos dela eram fértil demais para uma vida tão sofrida. Eu sacrifiquei o meu próprio eu como ferramenta de sobrevivência.

_ E como está hoje? Preciso de um final feliz Emma. Preciso ter fé que depois de tudo isso você está passando por uma temporada de coisas boas porque você merece mais que ninguem

_ O Felipe não está bem. Continua vivendo como se não importasse com a própria família. Nós estamos casados mas não estamos juntos. Ele vive uma vida de solteiro. Enquanto eu sou a empregada que cuida de todo resto.

_ Não é possível que o Feh se transformou em um homem, em um marido e pai tão repugnante. Você sabe que não precisa mais continuar com isso né? Pode levar as crianças para minha casa.

_ Carlota pelo amor de Deus. Eu não vou trocar o certo pelo duvidoso. Se eu ficar desamparada por conta das suas frustrações eu até suporto. Mas você acha que vou abandonar a minha casa com os meus filhos para estar com uma pessoa que pode se cansar e sumir? Eles são tudo que eu tenho, por eles sou capaz de tudo. É um amor que me faz ser irracional quando o assunto é os meus filhos.

_ Mamãe - Uma voz baixinha se aproxima. _ Dessa vez eu não fiz xixi na cama.

_ Oi meu amor. - Emma fala pegando o menino no colo e enchendo de beijinhos, enquanto passa as mãos em seus cabelos bagunçados. _ Como foi a sua noite? Quer compartilhar com a mamãe os seus sonhos?

_ Hoje eu posso comer panquecas com chocolate no café da manhã mamãe? Sonhei que estava em um castelo feito com bloquinhos de chocolate.

_ Humm! Deixa eu pensar no seu caso. PODE SIM! - Gritou.

O menino se encheu de felicidade. Seu sorriso se tornou de orelha a orelha. Enquanto Emma conferia o quarto aonde o Brayan havia dormindo eu aproveitei para ajudar ela com as coisas da casa. Começando pela enorme louça que tinha na pia da cozinha. Eu precisava refazer meu laço com a mesma que estava muito fragilizada por conta de toda situação. Precisava ajudá-la da forma mais fácil e rápida sair dessa situação. Ela não merecia passar o resto da vida ao lado de um cara que ela não suporta.

_ Uaal.- Falou olhando para cozinha limpa. - Com os olhos fixados com uma bebê no colo. _ Essa é a Helena.

_ Que bebê mais linda Emma. Ela é a sua cara. - Gesticulei expressando imensa felicidade.

Estar conhecendo os filhos da Emma, foi uma experiência incrível. Uma felicidade gigantesca em poder fazer parte da vida dessas crianças. Eu tinha todas as oportunidades do mundo para ser uma boa tia e reconciliar com a Emma. Que no fundo já tinha me desculpado só pelo fato ter voltado.

_ Então você é o príncipe que eu vim conhecer. - Falei me abaixando e dando espaço para criança me olhar. _ Eu vim de longe só para poder ter uma luta justa com você. O guerreiro mais feroz do todo mundo.

Ele não se aguentou. Correu para o quarto sem olhar para trás. Eu fiquei ajoelhada, sem entender o que se passava na cabeça do menino. Sempre lidei muito bem com criança. E não estava acostumada a não ser compreendida.

_ Ele é autista. Está aprendendo a se socializar. Se você estivesse aqui saberia lidar com as emoções do Bryan.