3. Passado

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24 de Outubro de 2038, 08h36 - Dynamite Space Comunications, Chicago, Eua

— Tudo certo senhorita Winters! Terá que fazer alguns exames e logo será enviada a base da DS em Wisconsin para se juntar aos outros e fazer o treinamento. - diz um homem que estava sentado do outro lado do vidro do guichê digitando no computador.
— Obrigada. Quando farei os exames e irei para Wisconsin?
— Amanhã. Como a senhorita decidiu um pouco em cima da hora, terá que fazer o mais rápido possível para passar na triagem. Logo que for aprovada, ficará aqui de quarentena por dois dias, e no dia 17 de Novembro, todos serão enviados para Madison, Wisconsin. Está tudo neste papel que te entreguei. Mais alguma dúvida?

Por alguns segundos parei pra processar tudo que ele disse. Então não era concreto, havia um "e se". Eu poderia não passar e também tinha o treinamento em Wisconsin. Será que daria conta? Não posso desistir. Prometi a mim mesma que faria pelo meu pai.

— Não, muito obrigada!
— Está liberada. Não esqueça de trazer este comprovante. - peguei os papeis e fui em direção a porta. Era isso. Aceitei a ideia. Minha mãe ficará tão feliz, assim como Rachel com esta notícia.

Antes de ir pra academia decidir passar numa cafeteria perto da DS. O dia só fica bom depois do segundo copo de café. Enquanto fazia o pedido, um rapaz do meu lado começou a me encarar. O observava pelo canto dos olhos. Ele parecia estar me pesquisando e tentando lembrar de onde já havia me visto. Segundos depois escuto uma voz vindo do mesmo. Algo me dizia que aquela voz era familiar.

— Celeste Winters! Olha você...Em Chicago! - ele se virou pra mim e fiz o mesmo.
— Ai Meu Deus! Jacob? Quanto tempo! - nos abraçamos. Era impossível não lembrar daquele moreno de olhos verdes que vivia em minha casa quando morava em Wisconsin.
— Você cortou o cabelo... E virou médica? Uau! Sempre acreditei em você. - peguei meu café e começamos a caminhar.
— A vida de Doutora me impede de ter cabelos longos! - rimos em assíncrono. - E você está... mais alto! Tá morando por aqui?
— Alguém tinha que crescer certo? Estou trabalhando como engenheiro espacial na Dynamite. Fui transferido a 4 meses pra missão em Marte.
— O quê?! Você também vai pro espaço? Eu acabei de entregar meu formulário. Fui selecionada pra terceira Colônia.
— Sério? Nossa que conhecidencia! Agora tenho uma amiga!

Jacob era meu vizinho desde os meu onze anos até os dezenove. Erámos melhores amigos. Talvez chegou a ser mais que isso em alguma época. Mas logo que vim fazer faculdade em Chicago, nós perdemos contato. Não o vejo a seis anos. E agora sabendo que ele também faz parte da 3a colônia, podemos nos aproximar novamente.

— Quantos anos tem agora? - ele perguntou.
— Vinte e seis. E você?
— Vinte e sete. O trinta tá mais perto do que vinte agora. - rimos juntos. Há quanto tempo nos conhecíamos? Uau. - Tem algo pra fazer agora? - ele checou o celular.
— Não! - menti. Não queria ir pra academia mesmo. - Você tem?
— Tenho que entregar uns documentos mas, podem esperar. - ele abriu um sorriso. Como pode? O sorriso era o mesmo. Simpático, encantador e reconfortante. Nos sentamos num banco próximo a um parque. - E sua família como estão? Sra. Diana e Sr. Winters. Sinto saudades deles.
— Minha mãe está bem. Continuo morando com ela. Já meu pai... Ele faleceu... Já tem três anos. - essas ultimas saíram estranhamente pra mim. Mesmo já tendo três anos.
— Oh! Eu sinto muito. Desculpa perguntar, eu não sab...
— Não, sem problemas. Você... não sabia. E já faz tempo... Mas, ele adoraria te ver. - fiz uma pequena pausa. - E seus pais, seu irmão...?
—  Sinto muito. Meus pais estão bem. Continuam em Wisconsin. Eles não largam aquela casa. Depois que terminei a faculdade, fui para Madison. E depois vim pra cá. Faz um ano que não os vejo também. Estou pensando em ir este final de semana pra lá, já que vou pra Marte.
— Se tiver um lugar pra mim, eu queria ir. Entrarei de recesso na quinta pra resolver as coisas do embarque...
— Você iria? Eles iriam amar vê-la, chegaríamos de surpresa..
— Ótimo. Marcado então.
— Bom - ele olha o celular e logo fica com uma expressão de decepção. - Ah, não acredito. Aconteceu um imprevisto terei que ir agora...
— Ah sim. Claro. Não quero atrapalhar.
— Você nunca atrapalha... A gente poderia marcar de jantar um dia desses.
— Claro. Hoje não vai dar porque tenho plantão, mas amanhã estou livre. Me manda uma mensagem. - passo meu número pra ele.
— Foi bom revê-la. Tchau, Leti!
— Também! Ninguém me chama assim há anos. Valeu pela companhia, tchau! - rimos em assíncrono. Logo ele foi embora.

Fico mais relaxada em saber que já tenho uma amizade. Não ficarei sozinha em Marte. Até que essa ideia estava começando a me animar...

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