5. Esperança

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17 de Novembro de 2038, 20h29 – Route 91 Madison, Wisconsin

— Vai dar nove horas e nada! – disse irritada.
— Eu já falei, o último ônibus sai as 7h da manhã. A gente vai ter que esperar, ninguém vai passar aqui agora. – Noah disse se levantando com sua bebida, ele não larga nem mesmo sem um pedaço do braço?
— Não tem sinal nem pra mandar mensagem, quem dirá uma ligação... – uma mulher disse, enquanto segurava o celular.

Aquela situação estava sendo desgastante. Sorte minha ter vindo no ônibus de cozinheiros e ninguém sabe pensar em nada, a não ser ficar com medo e assustados. Como que conseguiram passar nos testes neurais? Será que avisaram que eles vão morar fora do planeta? Noah me dissera que é piloto e havia seu amigo Paul que era Copiloto. Deviam saber algo sobre mecânica. Devia insistir.

— Olha se quisermos chegar na base antes do embarque, precisamos fazer alguma coisa. Ficar parado não vai ajudar nada. Nem desesperado. – disse já irritada.
— Nem se irritar! – Noah se virou pra mim também irritado. Ele negava.
— Então por que você não vai, desce e conserta essa droga? Vai me dizer que tá com medo dos lobos levarem você também?
— OLHA, CHEGA! Desde que você abriu a boca, não para de falar merda. Você não passa de uma superior que quer mandar em todo mundo sem ter o cargo. – Noah me lançava um olhar de fúria. Fiz o mesmo.
— E você um cara descontrolado e mal educado que não tem um pingo de respeito pelos outros.
— Se não fosse mulher, eu já tinha quebrado sua cara!
— Ainda por cima é machista!

Estavámos tão perto que podíamos sentir a respiração pesada uma do outro. Olhei no fundo dos seus olhos e pude perceber tamanha raiva que ele estava de mim. Ele se virou segundos depois esquecendo da bebida em sua mão e derramou o líquido sobre o painel do ônibus. Vi nossa única chance sendo jogada ralo abaixo. Aquilo foi o ápice.

— PARABÉNS! AGORA TEMOS QUE ESPERAR ATÉ AMANHÃ! SE PASSAR ALGUEM AINDA.. – sorri ironicamente, batendo palmas sarcasticamente.
— QUAL É O SEU PROBLEMA? NÃO TENHO CULPA SE VOCÊ TÁ COM RAIVA E QUER DESCONTAR EM MIM!  – Noah pegou a garrafa e jogou pela janela que logo se estilhaçou no chão. Nós dois estávamos gritando e ignorando totalmente a presença das pessoas.
— VOCÊ NÃO RESPEITA NEM UMA MULHER, QUEM DIRÁ AS PESSOAS...
— Chega de showzinho vocês né! – Paul entrou em nossa frente falando firme, e empurrou o amigo pra fora do veículo, escutei Noah falar um palavrão e chutar a parte do ônibus. Fui em direção ao banheiro na esperança de relaxar a cabeça que estava explodindo.  

***

Tivemos que ficar aqui esperando até amanhecer. Noah ficou na porta junto com Paul. Eles pareceram não terem dormido. Como não queria me encontrar com ele, preferi sentar nos fundos e tentar dormir um pouco. Apenas tirei alguns cochilos, toda a situação deixava minha mente em funcionamento. Comecei a refletir sobre tudo. Eu que comecei com toda a confusão. Maldita hora que fui olhar pra aquela cerveja. Se bem que um vinho agora iria me ajudar e tanto!

— Pessoal, eles estão vindo! - Fui interrompida pela luz solar que entrava pela porta que Paul entrava. — Nossa carona chegou! Peguem seus pertences e desçam.

Um grande alivio! Em segundos peguei minha bolsa e conferi se tudo estava lá e não havia esquecido nada. Todos descemos e nos transferimos pro outro ônibus. Ficou um pouco cheio por conta de todo mundo mas, consegui um lugar pra sentar. Estava me ajeitando na cadeira quando percebo alguém sentar do meu lado. Sim, era Noah. Justamente ele. Nos entreolhamos e ele suspirou, como se estivesse feito a coisa errada. Mas era o único lugar vazio. O ignorei e peguei uma barrinha de cereais para comer enquanto olhava a vista da janela. Aquele silencio me incomodava.

— Como tá seu braço? – disse e ele me olhou surpreso.
— Olha, não estou a fim de conversar com pessoas que gritam. E eu não tive uma boa noite então não...
— Desculpa! Foi culpa minha... Esses últimos dias no treinamento me deixou estressada. Acabei descontando em você.

Ele não me olhou, mas sua expressão era de surpreso. Acho que ele não esperava essa atitude. Ele ficou alguns segundos olhando pra frente como se estivesse tentando decifrar cada palavra que disse.

— Tudo bem vai. Todo mundo esta com os nervos á flor da pele esses dias... – ele apertou os olhos. E deu de ombros. Logo olhou pra mim. — Desculpa também... Eu... Gritei com você. Não foi... adequado.
— Quem diria... Estamos conversando sem gritar. – rimos em síncrono. — Desculpas aceitas! – estiquei o braço para um aperto de mão e ele fez o mesmo.
— Desculpas aceitas!
— Afinal... Você tem vinho aí? – apontei para sua mochila. Ele me olhou confuso e surpreso ao mesmo tempo.
— Pelo que me lembro, alguém me disse que não bebia...
— Cerveja! Mas amo vinho.
— Por sua sorte, eu tenho sim... Mas vai ter que beber só um pouco, tem esse apenas e não quero ficar sem. – ele me entrega a garrafa mas antes dá um gole demorado na bebida.
— Ei! Deixe pra mim também! – rimos em assíncrono e tomei de suas mãos a garrafa de vinho. Fazia tempo que não tomava um. Acho que foi antes de começar toda essa bagunça. Por isso estou tão estressada...

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