18 de novembro de 2038, 21h03, Nave Gênesis - Localização Não Identificada – Viagem a Marte Dia 1
– O QUÊ? A gente terminou! – Jacob diz cortando minha pergunta.
– Por que não me contou Leagh? – me direcionei para Leagh.
– Não sabia que você estava namorando o Jacob! – Ela revira os olhos.
– A gente é amigo! – digo pra ela.
– E você é minha ex! – Jacob enfrenta criando uma discussão. – A gente terminou a meses.– E eu não estou entendendo mais nada!
– Olha, eu a Leagh não namoramos mais. Parece que ela ainda não superou. – ele se redirecionou o olhar para ela.
– Mas eu achei que você tivesse mudado de ideia depois da conversa que tivemos hoje! – Leagh adentrou tentando se corrigir.
– Pra mim já deu, eu vou embora. – todas essas situações estragaram a minha noite.
– Espera! Por que? Ainda podemos ficar mais um pouco! – Jacob pegou o meu braço, o que me fez voltar para ele.
– Minha noite acaba aqui, desculpe. – me virei e deixei eles dois a sós.Eu não estava chateada com isso. Nem com quase beijo, nem com boato de ex, nem com quem estava certo ou errado. Acredito e confio na palavra de Jacob, ele é meu amigo! Mas pra mim, essa noite já foi o suficiente só por conta daquela briga. Só de lembrar que ainda vou ter que esbarrar com Noah na minha nave, me dá calafrios. Sabia que ele não era confiável desde o ataque no ônibus. Estava eu quase chegando na minha Dyna quando resolvi retirar os meus saltos e seguir o resto do caminho descalça. E enfim, cheguei. Era só colocar minha mão no painel para abrir a porta. Por que fazer isso é tão complicado?
Respirei fundo, estiquei o meu braço pra frente e encostei a minha mão no painel. Dois segundos após, uma luz verde se revelou e um barulho de bip confirmou a minha entrada. A porta começa a deslizar para a esquerda e meu coração palpita cada vez mais rápido. Resolvo entrar e me deparo com uma cena que não esperava. Noah está jogado no sofá jogando vídeo game? Que eu saiba, ele deveria estar com uma tornozeleira de choque no quarto dele. Não na nave.
– Que susto! – ele se vira abruptamente após me ver. – Não sou acostumado a morar com outras pessoas. – ele abre um pequeno sorriso.
– Desculpe, não quis incomodar.
– Não se desculpe, é sua casa, eu sou o intruso aqui. – ele diz enquanto se levanta.
– É... Eu não... Não precisa... – eu não conseguia terminar a frase, sem saber o que dizer.– Você tá querendo que eu saia né? – ele se levanta e fica de pé. – Eu já tentei. Agora mesmo. Mas eles disseram que só podem mudar após três meses.
– Na verdade não é bem isto...
– Olha, eu não fazia a menor ideia de que ele é seu amigo, e que eu iria socar a cara dele.
– Você é literalmente um imã de confusão.
– E isso não tem nada haver com você!
– Claro que tem! Vocês me meteram no meio disso tudo. – E mais uma vez, uma discussão se formava.– Você não faz ideia de onde tudo isso começou. Não faz ideia do que eu passei! – Noah mantinha sua voz firme enquanto se aproximava na minha direção.
– Então me fala. O porquê de vocês terem brigado. – também me aproximei olhando no fundo dos olhos dele. Por poucos segundos, ele se manteve nessa ação. Como se estivesse pensando em algo que queria falar.
– Meu irmão Austin morreu evacuado na segunda colônia. No dia, estávamos nos três em discussão e... Não me lembro quem apertou aquele botão. Foi tudo tão rápido que eu não... Não me lembro. Não lembro quem apertou a droga daquele botão maldito!– Se não se lembra, por que foi preso?
– Seu querido amigo me acusou. De acordo com ele, - Noah abre aspas imaginarias. – “Ele estava mais sóbrio.” – Dava pra ver o quanto aquilo causava remorso nele. – Mas depois de um tempo, o caso foi arquivado por falta de provas. Eu fui solto.
– E só agora que se reencontraram?
– Exato. Eu pensei que ele iria ficar em Marte, e não voltar pra colônia. – ele volta o seu olhar para mim, depois de estar apenas fixando o chão. – Agora você entende o que ele fez comigo? Ele acabou com a minha vida!– Claro, mas... Conheço o Jacob, ele não mentiria algo tão sério.
Noah iniciou uma risada sarcástica.
– Sei que você confia nele, mas cuidado para não confiar demais. Ás vezes você é muito ingênua.
– Você não o conhece direito. – digo em defesa.
– E você não sabe quem ele realmente é!***
O primeiro dia de trabalho na colônia foi intenso. O relógio marcava menos de oito horas e eu já havia trabalhado por 6 horas. E o mais impressionante é que nunca vai ser manhã por aqui. Isso é algo que terei que me acostumar. Não poder abrir as cortinas e deixar a luz do sol brilhar no ambiente. Depois sair para minha corrida matinal, sentir a brisa no rosto e o cheiro das plantas. O máximo que terei que fazer aqui é correr na esteira. Terei que me acostumar com a noite infinita. Prefiro achar que estou em meus plantões noturnos que nunca acabam.
O caso que mais me chocou foi a cirurgia que tive fazer em um astronauta que estava trabalhando na parte externa. Ele estava com uma grande perfuração na região peitoral, quase perto do coração. O General disse que ele manuseou alguma ferramenta de maneira errada. Mas estava estranho. Só um objeto ponte agudo poderia fazer tamanho estrago, o que eles teriam de ponte agudo lá fora? E por que o traje dele não o escudou? Talvez não seja tão tecnológico quanto disseram.
– Essas coisas são assim mesmo. – Tio Wes conversava comigo enquanto andávamos.
– Você não se importa com a vida dele? Ele quase morreu.
– Claro que me importo com os meus homens. Eu só estou dizendo que aqui muitos acidentes como este acontecem. Agora esquece isto e vá descansar.
– Eu poderia ver ao menos o objeto?
– Querida, ele agora está vagando por este vasto universo. Sei que você é profissional, mas precisa descansar, Celeste! Nós iremos partir em algumas horas, e assim precisaremos de você, está certo? – ele deposita um beijo na minha testa.
– Mas...
– Tenho que ir, tchau!Ele foi embora, eu fiquei ali sozinha refletindo. Eu acho que ele estava certo. Muitas vezes eu coloco meu trabalho acima das minhas necessidades. Decidi ir para minha Dyna, onde deveria encontrar-me com Noah mais uma vez. Ontem após a conversa, decidi dormir por lá mesmo. Depois não o vi mais. Quando chego em minha casa, me deparo com uma surpresa, ele não está com a tornozeleira.
– Noah? Mas você...?
– Doze horas. O General me deu doze horas.
– Ok. Então já pode trabalhar?
– Ainda não. Mas acho que vão me dar algum trabalho pra parte de mecânica.
– Acho que lá seria o último lugar que você iria hoje. – rimos em assíncrono.
– Exatamente! – ele estava indo embora quando resolvo perguntar sobre o astronauta.
– Noah? – ele se virou bruscamente para mim com ar de dúvida. – Você ficou sabendo do...
– Do Elliot, sim. Isso aconteceu 9 vezes ano passado.
– Sério? Perfuração peitoral?
– Sim, a mesma coisa com todos.– E você sabe... – me aproximei dele, falando em um tom mais baixo. – O que foi?
– Eles dizem a mesma coisa: Manusearam mal.
– Foi isso que meu tio me falou. Do que se lembra mais?
– Quem é o seu tio?
– General Winters.
– O QUÊ?! SÉRIO? - ele fez uma expressão engraçada de surpreso.
– Como assim você não sabia?
– Como eu ia saber?
– Agora me fala sobre o que você se lembra da segunda colônia.– Você é sobrinha do General... – ele olhou para o chão, falando baixo, mas eu consegui ouvir.
– Noah!
– Ah sim, eu... – ele levanta a cabeça e coloca a mão no queixo, olhando para o nada. Como se estivesse buscando as lembranças na memória. – Aconteceu algo estranho sim. Foi...Uma mulher entrou na minha Dyna e nos interrompeu. Era a mesma assistente de ontem.
– Mil perdões Doutora, desculpe atrapalhar. Mas houve um imprevisto e teremos que fazer a viagem agora. Vocês precisam se sentarem nas cabines agora.
– Vamos, eu te ajudo a colocar os cintos. – Noah me puxava para a parte das cabines da Dyna. Eu não estava entendendo nada, mas resolvi obedecer.
– Qualquer coisa, acionem o botão de S. Preciso ir agora, tomem cuidado. – a assistente saiu correndo trancando a porta da nave.
– Se segure e ore. Vai ser um pouco turbulento. – Logo que terminou de me ajudar com os cintos, ele se sentou em outra cadeira.
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SEM DIREÇÃO
Science FictionCeleste Winters, uma renomada médica de Chicago, é convocada pela Dynamite Space para embarcar em uma nova aventura: fazer parte da terceira missão da colonização em Marte. Com o intuito de esquecer seu passado, e começar uma nova vida, ela aceita...