17 de Novembro de 2038, 16h50 – Route 91 Madison, Wisconsin
Os últimos dias de treinamento foram intensos. Nem sei como conseguir passar nos testes de tensão e estresse. Ficamos 3 dias sem dormir, o que pra mim que sou medica não foi difícil, mas continua sendo cansativo. Depois nos deram um dia de folga para descansarmos, claro. Mas meu cansaço ultimamente tem sido mental. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e muito rápido. Mas essa foi minha decisão, tinha que arcar com as consequências.
Agora depois de todo esse processo, finalmente vamos embarcar. Amanhã. Estou tão ansiosa e com medo ao mesmo tempo. Eu vou pro espaço! Uau. Peguei minha mochila e entrei no ônibus para irmos pro local onde embarcaríamos. Um lugar totalmente confidencial. Nem o próprio motorista sabia. Ele seguia uma espécie de GPS embutido no ônibus que só funcionava com o ônibus ligado. Seria uma viagem de uma hora, logo cheg...
— Senhores Passageiros, houve um pequeno imprevisto e teremos que parar para que possamos checar o que aconteceu. Agradeço a compreensão de todos, mantenham-se dentro do ônibus. Obrigado. - o som do motorista começou a ecoar pelo local. Mal sabia que isso era só o começo dos imprevistos que iriam acontecer...
Me virei para o lado e vi um cara retirando uma garrafa de cerveja de sua mochila. Pra ele estava tudo sobre controle. Nada havia acontecido afinal.
— Pensei que essas coisas eram proibidas por aqui... – disse sem tirar o olhar da janela.
— E são. Mas para quê seguir regras se podemos quebra-las? – ele me olha com um sorriso malicioso e depois dá um gole em sua bebida.
— Eles revistam tudo antes de entrar. Como conseguiu?
— Faço isso a três anos. Garanto que tenham bebidas em Marte. Você quer? – apontou a bebida em minha direção.
— Não bebo essas coisas.
— O.K. então dona de toda pureza... Raro por aqui. O que você é?
— Cirurgiã. Posso suturar sua boca sabia? – sorri sarcástica. Ele levantou e olhou no fundo dos meus olhos. Um olhar tomado pela raiva. Com certeza não foi apenas pelo que eu falei. Senti uma espécie de eletricidade correr pelo meu corpo. Isso começou a me incomodar.
— Uma dica: toma cuidado com o que fala e com quem fala. Você não sabe o que as pessoas são capazes de fazer. – ele disse e logo saiu. Parecia perder a paciência e não queria descontar em mim.Como o próprio disse, ama quebrar regras. Comecei a observar o motorista mexendo no ônibus com uma cara de preocupado. O cara que estava do meu lado encostou nele e pareciam conversar algo sobre o ocorrido. Observei a estrada deserta em que estávamos. Não havia ninguém além de nós. Mas foi em questão de segundo que dois lobos surgiram não sei de onde e vieram ferozmente na direção dos caras. Comecei a bater no vidro da janela tentando avisá-los quando um deles olhou pra mim e identificou a mensagem. Mas já era tarde demais.
Um grande burburinho dentro do ônibus começara. As pessoas começaram a gritar desesperadas com a cena. O motorista estava sendo atacado agressivamente enquanto o outro homem lutava tentando afastar os lobos e protegerem ambos. Pensei em como deveria ajudar. Olhei para os lados e comecei a analisar o local. Avistei um extintor de incêndio e corri para pega-lo.
— APERTEM A BUZINA! VÃO ASSUSTA-LOS! — disse enquanto abria a janela para jogar o ar esbranquiçado sobre eles. – FECHEM OS OLHOS! E DEPOIS SUBAM! – avistei os lobos se afastarem quando apenas um dos homens subira no ônibus e fechava a porta.
— Não saiam lá pra fora... – ele estava com muitos arranhões pelo rosto e pescoço e seu braço esquerdo estava aberto perto do punho. Estava jorrando sangue, havia pelo menos uns 10cm de abertura.
— Céus! Você esta muito ferido seu teimoso. — aproximei perto dele e senti revirar os olhos. – Onde esta o motorista?
— Gritei por ele e não respondeu. Deve estar morto. – ele responde com cara de dor. — Merda! Já que é médica da pra fazer alguma coisa?
— Noah Bucker? – olhei seu crachá. — Só tenho kit de primeiros socorros. Você precisa fechar isto o mais rápido possível. Está perdendo muito sangue.
— Tem materiais dentro desse compartimento. – ele apontou pro local. Corri na direção e peguei os materiais e comecei a separá-los.
— Você bebe isto, é pra dor. – entreguei uma capsula de remédio. — E agora vou aplicar anestesia pra poder suturar... Eu disse que iria suturá-lo, lembra? – soltei uma risadinha enquanto limpava o local ferido.
— Boca santa a sua! – ele riu ironicamente. — Vou ter que precisar de mais panos... alguém tem casaco ou algo do tipo? – as pessoas começaram a se entre olharem até que algumas me entregaram seus casacos e os coloquei sobe o braço do Noah.
— Eu tiro minha camisa. – ele retirou sua camisa com cuidado e colocou em volta de seu braço. Por segundos me distraí com aquele abdômen esculpido. Ele pareceu perceber e deu uma risadinha.
— É... Eu... Vou começar a costurar você, certo? Agora me conta o por que de ter largado o motorista lá fora.
— Eu tentei ajudar ele, mas daí a fumaça apareceu e vim pra cá. Senti os lobos levarem o corpo dele e...
— Aí, credo! Para. Que horror... Mas, e agora o que faremos?
— Qualquer um que tiver com o chip pode ligar o ônibus.
— Ainda bem que foi o esquerdo, imagina ficar sem o chip? –olhei para o seu punho ainda aberto e não contive, dei uma risada.
— Nossa, por isso que é médica, não tem coração? Doutora... Winters- ele olhou meu crachá com decepção. — Afinal, deixa eu terminar... Mesmo se ligarmos, ele tá quebrado, ninguém vai querer ir lá fora depois disso e o GPS também só é ativado pelo chip do motorista.
— Celeste, por favor. Então, vamos ficar aqui? O embarque é amanhã, nós somos a ultima remessas de passageiros, eles não...
— Calma! Eles vão vir atrás da gente, eles irão ver que não chegamos e vai mandar outro ônibus!
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SEM DIREÇÃO
Science FictionCeleste Winters, uma renomada médica de Chicago, é convocada pela Dynamite Space para embarcar em uma nova aventura: fazer parte da terceira missão da colonização em Marte. Com o intuito de esquecer seu passado, e começar uma nova vida, ela aceita...