cap 1

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Luana

Deslizo as mãos pelos cabelos indignada com o que é falado de mim na reunião com os moradores da pensão. E o pior que não tenho nem como me defender, queria mesmo é achar um buraco aqui para enfiar minha cara, de tanta vergonha.

ㅡ Não é justo dona Sônia, todos temos pago a luz e água, e essazinha aí não paga nada a três meses seguidos. ㅡ uma mulher diz indignada, enquanto me encara furiosa.

ㅡ Eu te entendo Dona Bruna, será resolvido. ㅡ Sônia tenta apaziguar as coisas mas a mulher não está com cara de quem quer conversa.

ㅡ É claro que no primeiro mês a gente entendeu, Aliás dificuldades todos temos! Não é mesmo? ㅡ Encara outros moradores da pensão que concordam, me encarando. ㅡ mas três meses é de mais. Fora que todas as noites ela sai, bem arrumada e perfumada, como tem dinheiro para comprar roupas, perfumes e maquiagem, mas não tem para manter o aluguel e as contas em dia. ㅡ Me alfineta. E me seguro para não voar no pescoço dessa mulher.

ㅡ Ok já falaram tudo que queriam sobre mim ? ㅡ Pergunto chateada. ㅡ Dona Sônia, prometo acertar tudo ainda esse mês. ㅡ Me apróximo da mulher de meia idade com poucas rugas no rosto. ㅡ assim que receber lhe procuro para acertar minhas dúvidas. ㅡ Agarro suas mãos totalmente constrangida,recebendo um olhar atencioso da mesma. dona sonia tem visto meu sofrimento nos ultimos tres meses, e tenho certeza que ela entende meu lado mas nao cabe somente a ela. Antes de sair  encaro o rosto de todos os moradores e me retiro do local.

    É certo que eu perdi um pouco as rédeas da minha vida, desde que internei minha mãe na clinica de apoio às pessoas que sofrem com mal de Alzheimer, e que a lanchonete em que eu trabalhava fechou por mau administração, mas isso não dá a a eles o direito de me julgarem e me esculacharem como fizeram.

É claro que dá!

Abro a porta do quarto da pensão e me deito na cama, me lembrando de quando eu exatamente perdi o controle de tudo. Me recordo bem de quem me pos aqui, de quem me destruiu G20 que mesmo sabendo que eu tinha um envolvimento com Terror não me ajudou, tão pouco se importou com oque ele pensaria. Foi por covardia, e percebi isso a três meses atrás quando tive a necessidade de me encontrar com Claudia.

  Precisava vender a casa que morava com Guilherme e ela fez questao de me ajudar foi um encontro e tanto, pedi a ela que fosse responsavel pela venda, já que nao pretendia voltar tao cedo naquele lugar. E ela topou,nosso encontro foi demorado, colocamos todas as fofocas em dia e eu soube noticias dele, noticia essa que pensei não escutar tao cedo, noticia que me abala a cada vez que lembro e que em pensar meu corpo se arrepia por inteiro por nunca termos tido uma conversa descente depois do acontecido.

  ㅡ Merda! ㅡ limpo a lagrima solitaria que desce por meu rosto so de me lembrar dele.

E apesar de saber que as coisas nunca mais seriam as mesmas entre nos dois, eu nunca o desejaria algo como a morte,ainda mais de forma tao cruel. Me elembro de ficar estancada no mesmo lugar com a noticia, chorei noites e mais noites, pedi respostas a todos os santos   e principalmente a Deus, mas nunca fui correspondida. passados um mês eu tive que superar e com o quadro da minha mae so piorando, tive que me manter forte e a internar o mais rápido possível.

    Mas o fato de nem ao menos ter me despedido dele ainda me faz chorar e me machuca.

   Levanto enquanto a mesma angustia de anos atrás me persegue, o pensamento de não superar, o medo de me afundar em uma depressão tão profunda e não dá conta de sair sozinha, já que agora sou só eu por eu mesma.

    Endividada, com um emprego noturno, com a mãe internada em uma casa de apoio que me diga todo o dinheiro do mês, eu juro que não sei oque fazer. Me sinto em uma profundeza tão funda que eu mal consigo me manter em pé, tendo o peso de uma vida inteira de dor e sofrimento em cima de mim, me impossibilitando de sair.

    Adormeço ali mesmo e acordo em cima do horário pra ir ao restaurante, me arrumo devidamente, agora com mais praticidade já que Pedro definiu onde queria meus serviços, e pela glória ele me quis como bartender, enfim, agora tenho um uniforme e não preciso me preocupar com vestidos de grife, apenas maquiagem e cabelo.

   Solto os cachos feitos com babylis depois de dar os últimos retoques na maquiagem mais leve que fiz. Graças a Deus amanhã já seria o dia do pagamento e eu já fazia os cálculos de forma que eu conseguisse pagar tudo que devo e a clínica de minha mãe, mas infelizmente as contas não fechavam. E isso me deixava ansiosa e preocupada.

  Saí de casa quinze para as sete, e quando peguei o corredor da pensão vi um grupo de moradores me encarando. Fico totalmente envergonhada em recebendo aqueles olhares, é frustrante e vergonhoso saber que eles me olham assim simplesmente por eu estar em dívida com eles, merda de vida.

    Abaixo a cabeça e sigo em frente, tentando deixar os problemas pessoais em casa, pego o ônibus e tento organizar meus pensamentos no caminho até o serviço.  Quando chego a primeira pessoa que vejo é Isis, ela abre um sorriso  e eu retribuo da forma que dá.

    Depois de vestida com o uniforme vou para trás do balcão e organizo algumas coisas, até que os clientes comecem a chegar, a primeira vez que contei a Isis minha real situação, ela propôs que eu fizesse como ad meninas daqui, mas não, eu não consigo, nunca sairia com um homem por dinheiro, isso vai contra toda a educação que meus pais me deram.

     Fico admirada olhando as pessoas chiques que frequentam esse lugar, alguns casais e inúmeros homens, tudo aqui é tão bem organizado que parece ocultar tudo que ocorre por trás dos jantares e bebidas que aqui são servidos.

    Estou tão concentrada em alguns clientes  mais a frente que me assusto com um cochichar próximo do meu ouvido.

  ㅡ Tá distraída hoje em amor! ㅡ Me viro em um sobressalto vendo Rodrigo me lançar um sorriso meigo. Devolvo o sorriso enquanto ele me inspeciona dos pés a cabeça. 

ㅡ boa noite! ㅡ O cumprimento.

ㅡ Ótima noite. ㅡ Ele puxa a cadeira se sentando de frente para mim. ㅡ Qual a bebida de hoje? ㅡ Amplio ainda mais meu sorriso, a dias que não o vejo, ele costuma aparecer nas noites de sábado, é um homem ocupado então imagino que sábado a noite seja seu único dia livre, e mesmo assim sábado passado ele não apareceu.

    O jogo de experimentar bebidas começou a alguns meses, ele vem e eu o ofereço alguma bebida que ele ainda não provou.

ㅡ Caipirinha! ㅡ o respondo empolgada. Seu sorriso também se amplia e antes que ele diga alguma coisa eu me adianto em falar. ㅡ Sei que já provou caipirinha, mas não foi a minha. Então tenho essa vantagem.

ㅡ Certo! Então vamos ver oque de diferente há nessa caipirinha. ㅡ me afasto pegando dois limões, uma dose de pinga e açúcar. Fasso todo o processo de medir os ingredientes e junta-los em um copo, logo a bebida está pronta, estendo o copo para ele e me inclino no balcão esperando que ele prove.  ㅡ Foi rápido desta vez.  ㅡ Agarra o copo, retira o canudo e o vira, enquanto degusta o primeiro gole da bebida. Fecha os olhos e me encara sorrindo.  ㅡ Nota oito. Forte de mais. abaixa o copo ainda me encarando. ㅡ Você não está bem hoje? Nunca erra o dosador, e hoje passou da conta, além de ter se atrapalhado com o preparo da bebida.

     Esse é o grande diferencial em Rodrigo, ele é observador, sabe quando não estou bem, é como se ele encarasse minha alma, e isso me deixa constrangida, porque meus problemas atuais são constrangedores, apenas sorrio e digo que não é nada. Tentando transparecer o mais calma e serena possível pelo resto da noite.

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Boa tarde amores...
     Postagens todas as segundas❤️🌼

O fim é apenas o começo ( Pausada E Sem Previsão De Retorno)Onde histórias criam vida. Descubra agora