capítulo 5

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Luana

   Desço do ônibus e caminho até a entrada da clínica, não vejo a hora de ver minha mãe, de me aconchegar em seus braços e receber o apoio e a calma que só ela é capaz de transmitir para mim.

     Atravesso o enorme portão de ferro, e caminho pelo pequeno jardim, vejo algumas senhoras cultivando rosas, enquanto as enfermeiras as inspecionam de longe. Passo por elas sorrindo e entro no enorme casarão.

ㅡ Luana. ㅡ O enorme sorriso da recepcionista me faz me sentir mais leve.

ㅡ Oi Bruna, eu sei que não é dia de visita, mas eu preciso tanto ver ela.

ㅡ Eu não sei mais oque fazer com você em menina.

ㅡ Me deixa entrar só hoje? ㅡ Uno as mãos em uma súplica.

ㅡ Só hoje em. ㅡ sorri me dando o crachá de visitante. ㅡ Ela está no tricô. ㅡ concordo andando pelos corredores. É tão bom estar aqui, tem aquele aconchego de casa de vó. Não sei se é pela quantidade de gente idosa. Ou pela decoração mais voltada as antiguidades.

  Já na porta, a avisto tricotando, está alegre enquanto conversa com uma outra moça. A enfermeira assim que me vê, autoriza minha entrada.

    Vou em passos leves até ela, não quero a assustar. Me abaixo próximo a cadeira e a encaro tricotando.

ㅡ Oi mãe. ㅡ Falo baixo e ela ergue o olhar me encarando.

ㅡ Oi. ㅡ ela me encara com certa curiosidade.

ㅡ Sou eu a Luana. ㅡ acaricio as mãos pouco enrugadas dela

ㅡ Luana? ㅡ abre um sorriso. ㅡ Você tem o mesmo nome do meu bebê. Esses sapatinhos  ㅡ os ergue me mostrando. ㅡ São para ela. ㅡ Meus olhos enchem de lágrima, não sei como explicar, nem como agir. Eu me sinto fraca. ㅡ Ô filha não chora. Depois peço que uma das enfermeiras mostre a você a minha bebê. Ela está com o meu marido. ㅡ acaricia meu rosto. ㅡ Exames de rotina, sabe como é. ㅡ limpo meu rosto, secando as lágrimas e sorrio.

ㅡ Eu entendo sim. ㅡ agarro suas mãos. ㅡ Está tão lindo esse tricô.

ㅡ Eu mesma escolhi as cores, ela é bem pequena ainda sabe, e é a cara do pai dela. ㅡ Sorri. ㅡ Algusto tá todo babão. ㅡ volta a me olhar . ㅡ E você filha. Tem filhos ?

ㅡ Ainda não. Mas tenho muita vontade de ter. ㅡ sorrio e ela leva uma das mãos até meu rosto.

ㅡ Tenho certeza que serão crianças lindas. Você é muito bonita. ㅡ Não contenho novamente a onda de lágrimas que insistem em descer. ㅡ Quando as tiver, traga para que eu possa ver.

ㅡ Com toda certeza Mãe. ㅡ Engulo em seco. ㅡ Posso te dar u abraço?

ㅡ É claro filha. ㅡ Me aproximo a abraçando, o cheiro gostoso de seu perfume, me acalma,  as mãos carinhosas paceando por meus cabelos. Eu queria morar nesse abraço para sempre.  Me derramo em lágrimas, em pensar que ela mal se lembra de mim, é tão ruim não ser reconhecida por ela, e eu entendo que não é sua culpa, mas dói tanto.

    Permaneço com ela ali, até ser chamada na sala da diretoria, já sabia qual o assunto, e isso me deixou mais apreensiva ainda, se eles ameaçarem tirar minha mãe da clínica, eu estaria ferrada. Não tenho capacidade e nem tempo para ficar vinte e quatro horas a monitorando.

  Subi as escadas, e andei até o fim do corredor, parando em frente a enorme porta amadeirada. Respirei fundo antes de bater, e quando um suave " ENTRE" Ecoou de lá de dentro eu a empurrei. Entrando.

ㅡ Senhorita Luana, como é bom te ver. ㅡ o homem de meia idade me encarou sorrindo, enquanto mexia em alguns papéis.

ㅡ Digo o mesmo seu Gustavo. ㅡ Caminho até próximo a mesa, puxando a cadeira de forma que eu pudesse me sentar. 

ㅡ Luana, te chamei aqui, porque esse mês, a mensalidade de sua mãe, veio faltando trezentos reais, oque ouve ? ㅡ Me mexo na cadeira totalmente desconfortável.

ㅡ Tive algumas outras dividas, e não pude efetuar o pagamento completo, mas garanto que o mês que vem eu repasso, o pagamento, com a diferença desse mês. ㅡ  Falo apreensiva, e o acompanho com o olhar, enquanto ele coloca os papeis organizadamente sobre a mesa, se levanta e caminha até a porta a fechando. Dou um pulo em sobressalto quando a porta se fecha.

ㅡ Sei disso querida! por esse motivo a chamei aqui. ㅡ Retorna a mesa enquanto afrouxa a gola da camisa social, fico aprensiva, começo a olhar para os lados ja medindo a distancia de mim para um dos enfeites de mesa. se ele tentasse qualquer coisa, eu nao exitaria em me defender. ㅡ A secretaria me informou sobre a sua situaçao, e eu jamais permitiria que alguem como voce tivesse de retirar alguem que ama, e que precisa tanto disso aqui, por estar sem dinheiro, ou em uma situaçao financeira ruim. ㅡ Me encara perverso, e me sinto enojada.ㅡ Podemos negociar?

 Engulo em seco, com as palavras tao descaradas dele.

ㅡ Olha seu Gustavo. ㅡ Me levanto.ㅡ Nao sei onde o senhor pretende chegar com essa conversa, e eu juro que nao quero perder o pouco do respeito que tenho pelo senhor, entao acho melhor eu ir. ㅡ Fico exasperada quando ele caminha em minha direçao.

ㅡ Esta me entendendo errado, dona Luana, seria algo casual, rapido, e a senhora quitaria sua divida desse mes e do mes que vem tambem. ㅡ Agarra minha cintura enquanto cochicha proximo a meu ouvido.

ㅡ Eu dispenso sua generosidade. ㅡ Rosno aos nervos. enquanto tento me desfazer de seu toque audacioso, mas ele insiste em me agarrar. Puxo um dos objetos da mesa, mais precisamente uma estatua em miniatura da  estatua da liberdade e o acerto em cheio na cabeça. Com o impacto ele me larga e eu corro, abrindo a porta.

ㅡSUA VADIA!ACHO BOM VOCE QUITAR A MENSALIDADE ATE O FINAL DESSE MES, OU VOU SOLTAR SUA MAE NA PRIMEIRA ESQUINA DESSA CIDADE SUA DESGRAÇADA!ㅡ Corro dali  o mais rapido que consigo, enfrente a praça choro, chro pela situaçao de merda que estou, choro pela minha mae, por ter que deixa-la aqui com esse otario , por Luiza, por meu pai e por tudo que perdi durante esses ultimos anos.

Merda de vida, merda de situação. 

O fim é apenas o começo ( Pausada E Sem Previsão De Retorno)Onde histórias criam vida. Descubra agora