Capítulo 1

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3:47 da manhã.


Era uma noite estranha. Tudo parecia quieto demais, nem o vento ousava soprar. Enquanto uns dormiam, uma cama remexida, um copo de whisky jogado na mesinha de centro e uma angústia crescente, davam sinais de uma luta contra a insônia. Sobre o braço de um dos sofás, o celular tocava insistentemente, causando mais irritação por não ter como ignorar.

– O que foi, Milk? Depois você reclama do meu mau humor matinal.

– Off, preciso de você agora! – a voz da delegada Milk, carregada de nervosismo, demonstrava perfeitamente a urgência da situação. – Não comece com as suas gracinhas e venha pra cá. – o rapaz soltou um suspiro pesado.

– Apenas me mande o endereço, chego o mais rápido que puder! – ele já se dirigia para o quarto pegando sua carteira, chave do carro e sua arma.

Apesar de tentar fingir que não, aquela ligação era tudo o que Off precisava naquele momento. Há anos que não conseguia dormir mais do que algumas horas quebradas durante o dia, as noites eram sempre uma tortura e um lembrete do vazio que sua vida tinha se tornado. Por um milagre ele estava em casa naquela noite, não sabia se era a certeza de que tinha alguma merda muito grande chegando, ou se era apenas o tédio que o consumia por sempre fazer a mesma coisa. Noite após noite ele se via em alguma boate tentando passar o tempo e se divertir, às vezes sozinho, às vezes na companhia de seus amigos. Isso, é claro, quando Milk não resolvia fazer o papel de sua mãe e o alugava, reclamando e dando um sermão daqueles sobre sua vida devassa. Ele escutava, simplesmente por gostar muito daquela mandona, mas ela não sabia de nada, nunca saberia o porquê sua vida chegou a esse ponto.

Enquanto isso, na parte rural mais afastada da cidade, via-se uma pequena aglomeração que se formava em volta da cena do crime. Milk havia chegado há poucos minutos e não conseguia acreditar no que os seus olhos viam. Sinais de luta estavam por toda parte, um rastro de sangue que ia do meio do quintal e atravessava a soleira da porta; lá dentro era ainda pior, um corpo torturado aparentemente arremessado do alto da escada, irreconhecível.

Claro que ela ligara para Off, ele era o único que tinha estômago para encarar esse caso, ela mesmo não aguentou ficar mais um minuto dentro daquela casa. Por sorte, Bright, parceiro de Off, já estava por ali com os peritos analisando o local e tentando organizar possíveis provas.


Pov Off


Não acredito que estou animado com o desespero na voz da Delegada Milk. Não era de se admirar que todos dissessem que estou ficando louco pela privação de sono. Ficar animado com um caso difícil, é supostamente se animar com a morte horrenda de alguém, pude ter certeza disso quando cheguei à cena do crime. Era bagunça pra todo lado. Mesmo que fosse uma zona rural, as pessoas não paravam de chegar. A frente do local estava cheio de sangue e destroços, mostrando claramente que houve uma luta bem violenta por ali.

Ao me aproximar do carro de Milk, onde a equipe estava reunida, pude ouvir suas vozes, uma por cima da outra, em uma discussão acalorada. Seus rostos mostravam o horror que me esperava.

– E aí pessoal, por que tanto desespero?! – rapidamente eles me direcionaram olhares acusatórios.

– Finalmente, Off! Mas que porra você estava fazendo que demorou tanto? – Milk não costumava deixar transparecer tanto suas emoções, aquilo me fez fechar a cara e levar mais a sério. – O caso é o seguinte: dentro daquela casa tem um corpo jogado e torturado. Bright já verificou a casa toda e mesmo com tudo revirado não tem nenhuma prova à vista. – ela se aproximou com as mãos na cintura e me olhou nos olhos – Eu preciso que você entre lá e me traga alguma coisa, senão estamos todos fodidos!

Dying for loveOnde histórias criam vida. Descubra agora