𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐: 𝐄𝐬𝐭𝐫𝐚𝐧𝐡𝐨𝐬 𝐀𝐦𝐢𝐠𝐨𝐬

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— Não... — Meus olhos se abriam, sendo inundados pela luz soturna clássica do ambiente da Corte Unseelie. Pisquei uma, duas vezes. E meus olhos se focaram em outros, duas límpidas orbes de tom verde-esmeralda claro, que piscaram em sincronia comigo.

— Não... — Repeti, sofregamente, tentando me erguer e sentindo o galo em minha nuca doer como nunca antes, o olhar que me fitava se converteu em uma expressão preocupada enquanto uma voz melodiosa e suave como o vento batendo nas folhas num fim de tarde, masculina e doce, irrompeu pelos meus ouvidos que zuniam, abafada — Não precisa ter medo, está tudo bem agora. — então eu percebi seu sorriso, radiante como o sol despontando às manhãs.

Tossi, tentando me ajeitar onde quer que estivesse apoiada e sentindo novamente a fisgada de dor descomunal na nuca. Minha consciência voltando aos poucos e eu finalmente entendendo que o travesseiro confortável em que me apoiava era o peito de um rapaz – o dono dos olhos esmeralda.

Senti minhas bochechas corarem e meus olhos arregalarem-se enquanto eu o fitava: Ele era deveras muito bonito, a beleza surreal e inexprimível que a maioria dos faes possuíam; Observei sem reservas os longos cabelos de um tom azulado quase branco chegando na altura de seus ombros, cobrindo levemente as orelhas pontudas, a pele pálida em um tom quase translúcido, os traços finos e angulados da face enquanto as sobrancelhas – que tinham um tom mais escuro que os cabelos, levemente acinzentado – se estreitavam muito levemente em um ar súbito de preocupação. 

Os lábios eram uma linha fina, impassível, se franzindo na face e eu pude perceber a roupa aristocrática que o homem vestia – elas formavam um ajuste perfeito que realçava seu corpo magro e delicado, de maneira elegante.

E-Eu estou bem! Eu... — comecei a dizer, tentando me recompor e me sentindo triplamente envergonhada de ser pega no meio daquela situação por alguém aparentemente muito importante, me esgueirando do seu colo e tentando firmar meus pés no chão debilmente enquanto os mesmos tremiam e meu corpo bambeava outra vez para frente, fazendo o rapaz ser obrigado a me sustentar outra vez contra si.

— Você não parece-me bem... — constatou o rapaz, de maneira duvidosa, porém preocupada.

Eu... — pus-me a tentar novamente falar, o olhar incisivo esmeralda me acompanhando a cada pequeno tropeço, esquadrinhando minha face, quando senti novamente uma pontada aguda perfurar meu estômago enquanto o mesmo soltava um som alto e gutural, que pensei não ser possível ser tão alto assim; meu corpo começara a tremer por inteiro e algo me dizia que eu estava à beira de um colapso.

— Eu tenho a leve, sutil desconfiança de que ela também está morta de fome! — outra voz, dessa vez um pouco mais grossa e estridente, fez-me olhar ao redor e perceber pela primeira vez que havia mais um rapaz próximo a nós: Seus olhos roxo cor de ameixa eram profundos e estavam maliciosamente franzidos, o dedo longo e ossudo, com as unhas compridas e pintadas apontavam pra mim e um sorriso astuto e brincalhão se formava na sua face tão pálida e angulosa quanto a do outro rapaz; algo fazia-os parecerem extremamente parecidos de alguma forma nos traços de suas feições, porém algo também os tornava tão diferentes entre si de maneira gritante, que me parecia quase como se fossem energias opostas. 

Os cabelos negros, totalmente negros desciam em uma cascata graciosa e sedosa por suas costas, chegando à beirar a altura de suas canelas, as mesmas clássicas orelhas pontudas e o corpo era encoberto por um manto roxo e púrpura com um broche em formato de uma mariposa-caveira perto da gola ornada enquanto fios de prata enfeitavam o topo de sua cabeça. Algo naquele rapaz traçava uma beleza quase mortal.

Eu vi o jovem em quem agora me escorava revirar os olhos na face para a constatação do amigo, então sentindo um arrepio eletrizante tomar meu corpo de repente enquanto minha visão se enuviava, o vazio em que estive mais cedo me chamando novamente enquanto a dor feroz no meu estômago se agravava, como um buraco negro aumentando seu tamanho consideravelmente de maneira voraz.

𝐀 𝐒𝐨𝐦𝐛𝐫𝐚 𝐀𝐥é𝐦 𝐝𝐨 𝐕é𝐮Onde histórias criam vida. Descubra agora