𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟑: 𝐑𝐞𝐯𝐞𝐥𝐚çõ𝐞𝐬

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O rei da grande Corte Unseelie.

O rei... Gastei horas me despendendo em imaginá-lo.

Seu poder, sua fúria, deveria ser letal. O senhor da Corte Obscura. Talvez o mais sombrio dos fae.

Mal vi a hora em que meus olhos, já exaustos, fecharam-se para um descanso breve de alguns minutos, mas quando tornei à abri-los percebi que talvez tivesse passado bem mais que isso; As roupas das camas ao meu lado haviam sido trocadas e as flores que ornavam o ambiente pareciam também terem sido trocadas – novas e frescas mudas reluziam no lugar.

Suspirei, me alongando na cama. Meu corpo ainda estava levemente dolorido, possivelmente por causa do meu tombo dentro da carroceria, mas o galo na nuca e a dor descomunal no estômago haviam desaparecido; Eu me sentia bem, contudo.

Virei vagarosamente a cabeça em direção à janela: Ela ainda encontrava-se aberta, deixando entrar o ar noturno Unseelie e as pequenas partículas de glamour fae que eram sucessivamente repostas. Era tudo tão magicamente belo... Fora um impulso automático que me fizera lentamente me deslizar para fora do lençol em direção à sacada ampla.

Encaminhei-me o mais delicadamente que conseguira, tentando ser silenciosa, apenas para atravessar para o mundo lá fora e ser agraciada com uma paisagem de tirar o fôlego: Um amplo jardim selvagem se estendia pela frente da propriedade, quase se mesclando com a floresta luminosa, os botões das flores acesos em cores caleidoscópicas como mil estrelas coloridas diante do chão. Vagalumes e o próprio glamour fae – que do lado de fora era ainda mais intenso, vindo de todas as direções, todos os lugares, inebriando o ar – traçavam uma visão ainda mais etérea. Alguns bancos de madeira retorcida e postes de luz de prata com uma bucólica chama azul bruxuleante se espalhavam por estradas quase invisíveis de terra batida e ganidos agudos e horripilantes, acompanhados de cantos belamente melancólicos e solitários formavam a sinfonia macabra e singular do local.

Me curvei diante a balaustrada da sacada, suspirando em aprovação enquanto meus olhos varriam o ambiente, observando cada canto, assimilando cada ideia, um insistente e latente desejo insano consumia meu peito como uma chama incandescente: O que precedia o momento que acordei zonza naquela carroceria?

Quem eu era?

Quem eu fui?

De onde vim?

Por que estava aqui?

Questionamentos silenciosos.

Não foi surpresa o sobressalto que eu dera ao ouvir batidas suaves na porta do quarto.

Me virei elegantemente na balaustrada, direcionando meu corpo em direção à porta, pronta para responder que entrassem, quando meu olhar cruzou com o de Tamlin. Vi seus olhos verde-esmeralda cristalinos se arregalarem. Sua própria feição exalava um desespero intenso.

— Você está melhor? — Ouvi sussurrar enquanto acotovelando-se com ele a figura de Oberon aparecera mais atrás, transpassando-o em seguida com um franzido olhar descontente — Olá, minha linda! — disse agora virando-se para mim com um largo sorriso ingênuo, um lírio fluorescente azul-esverdeado brilhava em sua mão.

E-Eu... — me aproximei relutante, dando uma frouxa risadinha para a maneira dos amigos de lidarem de maneira tão discrepante um do outro com a situação.

Os mesmos se aproximaram mais de mim, Tamlin receosamente, enquanto Oberon seguira aos saltitos em minha direção, me entregando a flor com uma reverência exagerada — Eu cheguei primeiro. — Um olhar franzido abusado e um sorriso debochado de canto em direção de Tamlin, que apenas ateve-se em franzir o cenho.

𝐀 𝐒𝐨𝐦𝐛𝐫𝐚 𝐀𝐥é𝐦 𝐝𝐨 𝐕é𝐮Onde histórias criam vida. Descubra agora