Capítulo 06

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Brilho de Prata terminava seu camundongo quando o sol começava a descer do céu, para desaparecer entre as árvores e assim a lua tomaria seu lugar. Lambeu os lábios satisfeita com a refeição, logo avistara Asa de Falcão entrar na toca dos guerreiros, arrastando sua cauda no chão. Curiosa, a guerreira prateada se levantou e fora atrás, adentrando a toca silenciosa, vendo uma grande forma jogada em um ninho próximo a parede de galhos e folhas. Se aproximou com cautela observando o guerreiro castanho escuro malhado, enrolado em sua cauda tão desolado e lamentável que parecia um ancião de idade muito avançada.

Com pena, Brilho de Prata lambeu as orelhas de Asa de Falcão em forma de consolo, não sabia o que havia acontecido, mas algo muito impactante deixou-o mudado. Notou o guerreiro castanho escuro malhado murmurar algo em pavor, fincando as garras no musgo com certo desespero.O que houve com você Asa de Falcão? pensou a guerreira prateada com preocupação, se deitando ao lado de Asa de Falcão, próxima o suficiente para fazer o mesmo dormir mais tranquilo e relaxado. Brilho de Prata acordou atordoada quando sentiu sua orelha ser puxada levemente, erguendo a cabeça sonolenta dando de cara com Mancha Negra.

O que está havendo? — perguntou a guerreira prateada, bocejando.

— Preciso que venha comigo, e cuidado para não acordá-lo — respondeu a curandeira, se retirando em silêncio, desviando dos guerreiros adormecidos.

Brilho de Prata não entendeu o lembrete, até que se deu conta de onde estava enrolada, justamente no meio do guerreiro castanho escuro malhado, que dormia profundamente. Sentiu seu peito quente e o coração palpitar, seria por estar prestes a sair sem o conhecimento dos companheiros? Era o que a guerreira prateada pensava. Colocou pata por pata para fora do ninho, saindo da toca dos guerreiros deixando de ouvir a respiração calma dos companheiros. A clareira estava silenciosa e vazia, o único som que se podia ouvir era do vento frio da noite e as folhas das árvores balançando ao ritmo.

Mancha Negra sinalizou com a cauda próxima a entrada do acampamento, Brilho de Prata trotou em silêncio até a curandeira, para então atravessarem o tronco oco para a floresta. Se lembrou tarde demais de que a entrada do acampamento nunca ficava desprotegida, ao sair se deparou com Coração de Gelo e Couro Chamuscado.

— Onde vão? Não é muito tarde para sair? — perguntou o guerreiro negro manchado.

— Preciso colher hortelã e algumas bagas de zimbro, preciso da ajuda de um guerreiro para isso — respondeu Mancha Negra calmamente.

— Não pode esperar para fazer isso pelo amanhecer? — sugeriu o guerreiro branco estreitando os olhos.

— Você pode esperar para lutar pelo seu clã? — retrucou a curandeira calma, porém afiada.

Com apenas suas palavras, Coração de Gelo se manteve quieto e abaixou a cabeça levemente, reconhecendo que havia esquecido que não se vai contra a palavra de um curandeiro. Após isso se infiltraram na vegetação densa da floresta, roedores exploravam em busca de comida, corujas voavam procurando uma presa distraída e as duas gatas caminhavam lado à lado rumo ao seu destino. A guerreira prateada resmungou ao colocar as patas na água fria do Caminho Raso, seguia Mancha Negra curiosa, até que se lembrou de que fora enviar uma mensagem para Luz da Lua encontrar a curandeira na Pata da Paz.

Agradeceu ao Clã das Estrelas por chegar a margem da pequena ilha onde a Assembleia acontecia em toda lua cheia. Balançou cada pata no ar retirando o excesso de água e então se apressou para acompanhar Mancha Negra que não parou para fazer o mesmo. O curandeiro as cumprimentou com um aceno amigável de cauda, apesar da expressão cansada e séria. As duas gatas se acomodaram próximas a Luz da Lua.

— Muito bem Mancha Negra, estou aqui como me pediu, agora vá direto ao ponto — miou o curandeiro indicando que não toleraria assuntos que não fossem relacionados a aquela reunião as escondidas, seu olhar se fixou em Brilho de Prata, como se quisesse saber a razão de sua presença ali.

— Eu tive um sonho luas atrás, e nele eu vi dois ancestrais guerreiros — começou a curandeira. — um deles era um enorme guerreiro com a ambição de liderar o Clã do Fogo, e a outra era uma guerreira recém formada que nutria um forte amor por ele —

— Deixe-me adivinhar, o problema está no guerreiro? — sugeriu Luz da Lua confiante, recebendo um aceno como resposta.

— Ele trilhou um caminho coberto de sangue, assassinou outros líderes a sangue frio, filhotes, anciões, rainhas... — miou Mancha Negra, balançando a cabeça em negação por um momento como se não quisesse acreditar no que pensava.

— Eu não entendo onde quer chegar Mancha Negra, não foi algo que aconteceu a gerações atrás? — perguntou a guerreira prateada, tendo a atenção da curandeira direcionada a si, medo e horror estavam estampados em seu rosto.

— Aquele guerreiro atingiu o seu propósito, e semeou o horror entre os clãs enquanto viveu...e temo que ele está entre nós novamente — respondeu Mancha Negra temerosa.

— O que está dizendo é...que ele reencarnou? — sugeriu o curandeiro, mexendo os bigodes com certa inquietude.

— Impossível! O Clã das Estrelas não tem o poder de reviver gatos! — apontou Brilho de Prata se recusando a acreditar em tal possibilidade.

— Brilho de Prata...o guerreiro dos meus sonhos é Asa de Falcão — miou a curandeira com pesar. — e você foi a guerreira que o amou e deu fim a sua liderança sangrenta —

— O que?! — engasgou a guerreira prateada congelando sobre as patas com tal informação, eriçando os pelos por completo.

Luz da Lua arregalou os olhos levemente, mas se manteve quieto enquanto Brilho de Prata tentava entender como toda aquela história era de alguma forma verdadeira, que amara Asa de Falcão no passado lhe deixava confusa, significa que o amaria novamente agora? O guerreiro castanho escuro malhado a amava? Suas patas pinicavam para correr ao acampamento e conversar com Asa de Falcão, mas apenas de pensar em perguntar a deixava insegura.

— Então por isso me trouxe com você? — perguntou a guerreira prateada, direcionando a atenção para Mancha Negra.

— Isso, talvez ele esteja trilhando este caminho novamente, se vocês reencarnaram, significa que a história pode se repetir — apontou Mancha Negra, direcionando seu olhar para o curandeiro. — O que acha que devemos fazer, Luz da Lua? —

— Não há como saber se de fato ele seguirá seu antigo caminho, mas é bom mantê-lo sobre vigilância — aconselhou Luz da Lua, se pondo de pé sobre as patas. — estou indo embora, vejo vocês na assembleia —

Sem esperar uma resposta, o curandeiro desapareceu entre os arbustos sem olhar para trás, o que estaria pensando ou planejando era uma pergunta que pairava na cabeça de ambas as gatas. O caminho de volta para o acampamento fora tão silencioso quanto água parada, Brilho de Prata não sabia o que deveria fazer ou quando fazer, o guerreiro castanho escuro malhado sempre fora leal ao clã e a Estrela Valente. Antes de chegarem ao acampamento, colheram um pouco de hortelã e bagas de zimbro, para assim não suspeitarem que fosse mentira. A guerreira prateada adentrou a toca dos guerreiros já tonteada pelo sono, fora se deitar em um ninho próximo de Asa de Falcão, observando o mesmo que estava adormecido profundamente, até que o cansaço a pegou, tendo seus olhos fechando lentamente, sentindo um intenso olhar sobre si pouco antes de adormecer.

Gatos Guerreiros: Presas SombriasOnde histórias criam vida. Descubra agora