Entre Tubos de Ensaio

Minha condição!

Regina

Mesmo agora, depois de comermos e tanto tempo após o meu impulso automático, eu ainda sentia os lábios de Emma contra os meus. Deixar um beijo casto e singelo em sua boca antes de ir buscar uma garrafa de vinho para almoçarmos, foi algo que não consegui controlar, mas que nem de longe me arrependia. Toda aquela atmosfera que estava nos rodeando e deixando as coisas o mais leve e aconchegante possível, era nova para mim.

Nunca imaginei que fosse conseguir contar para outra pessoa do que sou feita e o que significa carregar toda essa responsabilidade nas costas, mas no momento em que Emma foi se aproximando mais e mais, demonstrando toda sua aversão àquela história, sua determinação em ajudar a derrubar todos aqueles que estavam por trás dos piores cenários que já vivenciei e presenciei, meu único sentimento foi lhe contar. Senti um arrepio passar pelo meu corpo ao me lembrar de algumas coisas e tentei a todo custo espantar aquelas lembranças da minha mente, mas a conversa que havia tido com Swan na banheira, não me deixava esquecer. Lhe contar tudo o que contei e receber de volta apenas coisas boas e acalento, estava deixando minha mente bagunçada e me fazendo trazer a tona momentos que jurei ter guardado bem ao fundo de tudo aquilo.

Flashback on

Já tinha alguns meses que pensava em sentar com Milah e conversar sobre a minha "condição". Na minha cabeça, parecia o certo a se fazer. Já estávamos juntas há quase 4 anos e a cada dia que passava, me sentia pior por esconder essa parte da minha vida dela. Mas, em contrapartida, não me sentia confortável o suficiente para contar. Era confuso e eu realmente não fazia ideia de como prosseguir.

— Regina, olha a hora que é! — ouvi Zelena reclamar do outro lado da linha, assim que me atendeu — Eu estava dormindo já. O que houve?

— Sis, eu não consigo decidir… — iniciei, mesmo sabendo que ela não entenderia de imediato — Quero contar para Milah sobre mim, mas não consigo me sentir confortável com isso. Estamos juntas há um tempo e esse é o tipo de coisa que devemos contar logo no início, não sei por qual motivo não fiz isso antes — bufei. Já estava a ponto de abrir um buraco bem no meio da minha sala, enquanto minha mente criava inúmeros cenários catastróficos — Zelena, eu não sei o que fazer! E se eu contar e ela surtar? E se eu não contar e ela descobrir e surtar mais ainda?

— Regina, pelo amor, se acalma! — falou firme, me fazendo prender o lábio entre os dentes — Primeiro você precisa entender se quer contar ou se sente que é uma obrigação.

— Zel, ela é minha namorada e estamos falando em dar o próximo passo, não acho que seja prudente continuar escondendo isso dela — respondi firme, mesmo sentindo minha voz vacilar.

— Já identificamos que é por obrigação! — sabia que, assim como eu, Zelena tinha revirado os olhos — Regina, você não é obrigada a contar nada para ninguém. Sei que vocês tem um relacionamento até que sólido e que o mais indicado seria você sentar com ela e conversar abertamente, mas você sabe que eu não me dou com a Milah e que por mim, ela viveria sem saber de você.

— Eu queria muito entender o motivo da sua implicância com ela, Sis!

— Nunca fui com a cara dela — respondeu com um certo desdém na voz — No início eu dei um voto de confiança, porque não tinha como julgar sem conhecer e também porque uma das minhas maiores alegrias é te ver feliz, mas com o passar dos anos eu só tive ainda mais certeza de que essa mulher não te merece e não há nada que tire isso da minha cabeça.

— Quando você fala assim, parece até que sabe de algo que eu não sei — resmunguei.

— Se eu soubesse, você também saberia. Jamais te esconderia algo e sem a menor dúvida, Milah Shelley estaria morta — riu e eu a acompanhei. Ficamos em silêncio por alguns segundos e eu sabia que logo Zelena voltaria a falar — Deixando todos os meus sentimentos adversos em relação a ela e o namoro de vocês de lado, eu acho que se você acha que tem que contar, então conte. Tenho certeza que isso vai tirar um peso das suas costas e independente da resolução que isso trouxer, eu vou estar aqui.