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"Poliglota"

Na manhã seguinte, os cinco saíram da cabana que passaram a noite para viajar até o acampamento dos Dixon.
Merle se gabou o caminho inteiro para Ayla e Glenn sobre como as pessoas do local dependiam dele para sobreviver desde o início.

Enquanto Ayla ouvia com absurda paciência as divagações do Dixon e até interagia com o mesmo, Glenn já não aguentava mais as bobagens do homem.
Ele chegou a agradecer aos céus por Aelin não precisar ouvir as coisas que Merle dizia (por mais errado que isso fosse em seu ponto de vista).

Aelin observava curiosa a interação da irmã com o homem mais velho também se questionando como Ayla podía estar tão calma perto de alguém, que para Aelin, era um desconhecido.

Quando Merle passou a incomodar Aelin com seu monólogo, com certeza esquecendo o fato da garota não conseguir acompanhar a velocidade de suas palavras apenas com a leitura labial - ou simplesmente não dando a mínima pra isso- Glenn conseguiu ficar para trás com Ayla.

Ele cutucou a amiga que o olhou com curiosidade e sussurrou baixo em sua língua materna:
"De onde você tirou tanta paciência?"

Ayla olhou para Glenn surpresa ao ouvir o amigo usar o idioma, mas imaginou que ele estava com medo de ser ouvido pelos Dixon, então apenas respondeu rindo baixo.

"Anos de convivência com o irmão mais velho" disse em coreano se referindo a Merle e Glenn suspirou chocado.

"Vocês realmente se conhecem a tanto tempo? Como eu nunca conheci o cara?" Questionou exasperado.

Ayla deu de ombros e indicou Daryl discretamente.
"Da mesma forma que nunca conheci o mais novo." Cortou o assunto sem perceber.

Glenn refletiu por alguns segundos e desistiu de tentar arrancar mais informações da amiga. Se ela não queria falar sobre o assunto, ele não ia insistir mais.

Adivinhando o que Glenn presumiu Ayla suspirou e parou em seu caminho fazendo Glenn parar também.

"Ele é uma boa pessoa." Disse ao respirar fundo "Bom, quando está sóbrio." completou murmurando.

Glenn arregalou os olhos puxados com a informação e a observou ainda mais curioso com tudo.

Ayla não demorou a voltar a falar pelas reações do asiático.
"Quando minha madras-" travou e então trocou as palavras "Quando a 'mulher' me obrigou a decidir fugir com Aelin, o irmão mais velho me ajudou. Foi graças a ele que consegui sair da cidade e depois do estado. Ele me conhecia desde que eu era pequena e sempre viu o que ela fez comigo, até deu uma surra no meu pai quando descobriu que ele sabia de tudo e não fez nada por mim ou pela Aelin."
Desabafou fixando o olhar em uma árvore para evitar olhar diretamente nos olhos de Glenn.

Glenn sabia do relacionamento da amiga com seus pais, ou melhor, seu pai e madrasta. Mas nunca fora informado de tantos detalhes como nas últimas 24 horas. Ele sentiu como se nunca tivesse conhecido Ayla de verdade enquanto ouvia tudo.

Após mais algumas explicações, Ayla concluiu que havia dito o suficiente e indicou que deviam prosseguir.

Glenn a observou por alguns segundos antes de decidir segui-la.

"Por que ele te ajudou?" Finalmente conseguiu formular uma pergunta fazendo Ayla olha-lo novamente.
Ayla pareceu realmente pensar na pergunta antes de dar uma resposta.

Ela então olhou para o Dixon mais velho que gesticulava algo 'grandioso' para Aelin que o observava com expectativa e um mínimo sorriso surgiu em seu rosto.
"Acho que ele me entendia." Foi tudo que conseguiu responder.
"Agora, chega de coreano por hoje? Sinto que estou enferrujada e está me dando dor de cabeça pensar em como te responder certo." Ayla franziu o rosto e Glenn finalmente riu da amiga.

"Engraçado, você gostava de praticar comigo quando nos conhecemos" implicou fingindo indignação.

Ayla sorriu de volta e deu de ombros.
"Isso foi com a Ayla de uns anos atrás, a Ayla de agora não se incomoda em ter uma pronúncia perfeita em todo idioma que fala."

Glenn revirou os olhos com a arrogância no tom da garota e a empurrou com o ombro.
"Não é porque você é uma sabetudo com memória fotográfica, que precisa se gabar também de ser poliglota"
Disse voltando ao idioma comum entre eles e Ayla riu com gosto atraindo a atenção dos outros.

"Os pombinhos vão demorar muito mais na conversa em chinês?" Merle provocou malicioso e Glenn sentiu o rosto esquentar com a sugestão, mas não pôde deixar de esbravejar para Ayla com o fato de Merle insistir em chamá-lo de chinês quando ele já o havia corrigido.
Ayla encarou Merle com um olhar de repreensão e lhe deu um tapa no braço ao passar pelo homem que a olhou de cima a baixo ainda sugestivo esperando alguma outra reação com expectativa.

Glenn ficou indignado com o jeito de Merle, mesmo que ele tivesse presumido que era a forma do homem de implicar com ele e Ayla.

O mesmo podia ser alguém importante pra Ayla, mas Glenn já havia decidido, ele odiava Merle Dixon. Ainda que se sentisse grato pelo que o homem fez por sua amiga.

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Aelin estava piorando. Foi o que Ayla pensou ao notar as crises de tosse da irmã e sua fadiga.
O que começou com um resfriado, agora estava se tornando algo pior. Ayla estava preocupada.

Glenn se ofereceu para carregar a garotinha durante a caminhada dos três até o acampamento, mas Ayla insistiu em levar a garota ela mesma.

Ayla conhecia Glenn o suficiente para saber que carregar a garotinha não seria um incômodo para ele. Mas não pôde deixar de ser uma irmã superprotetora por Aelin estar mal.
Aelin por sua vez, não reclamou. Ela adorava ter a atenção da irmã em si e se sentiu satisfeita em poder descansar sobre Ayla no caminho.

Daryl, que notou a expressão preocupada da garota mais velha carregando a irmã, se questionou se devia dizer algo.
Merle parecia se dar extremamente bem com a mulher, e a mesma não parecia odiar o homem.
Daryl refletia se devia também tentar interagir com a mulher, mas não tinha o que dizer para ela.

Respirando fundo, o homem se aproximou de Ayla que o olhou surpresa pela aproximação.
Ela não havia trocada uma palavra sequer com o irmão de Merle desde que ele a salvou junto dele e de Glenn antes.

Daryl se arrependeu instantáneamente de ter se aproximado quando obteve a atenção da mulher, mas se surpreendeu ao ouvir ela perguntar sobre os esquilos que carregava.
"Você caça? Como Merle?" Ela disse indicando os animais pendurados. Daryl acenou e desviou o olhar para a floresta a sua volta antes de decidir se devia dizer algo se volta.

"Foi ele quem me ensinou." Disse seco mesmo sem a real intenção de o fazer. A expressão da mulher pareceu se abrir um pouco mais deixando Daryl confuso.

"Ele caçava com meu pai, antes da minha mãe morrer" disse com carinho deixando Daryl surpreso com a informação. A quanto tempo exatamente Merle conhecia a garota?

"Achei que se conheciam do Bar em Michigan" Daryl sugeriu ainda no mesmo tom dando a chance da garota tirar suas dúvidas.

Ayla sorriu para ele e respondeu "eu o conheço desde o bar em Michigan. Meu pai em compensação, conhecia seu irmão desde a adolescência."

Daryl ainda estava surpreso com a informação, pelo visto, ainda haviam coisas sobre seu irmão que ele não sabia.
Teve vontade de continuar questionando a mulher sobre seu passado com Merle, mas decidiu pôr fim ao assunto ao notar que estavam chegando no local do acampamento.

"Temos medicação na nossa barraca." Disse depois de permitir que Ayla absorvesse o ambiente a sua volta atraindo a atenção da mulher de volta a si, "pode pegar para dar a sua irmã, Merle não vai sentir falta."

Ayla o observou por alguns segundos antes de acenar agradecida. Mas antes que pudesse dizer algo, foram recebidos pelas pessoas presentes no acampamento.

"Dixon? Quem são esses?" Questionou um homem alto com uniforme de policial e uma arma nas mãos. Enquanto outros no acampamento os cercavam curiosos com os estranhos junto dos irmãos.

Merle sorriu e então se pôs a frente de Ayla e os outros.
"É ótimo ver que ainda está vivo Xerife!" Disse cínico.

;Ponto e Vírgula - The Walking Dead (Glenn Rhee)Onde histórias criam vida. Descubra agora