14. CARLISLE: Ajoelhe-se

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Vincenzo aparece no portão, toma para si a maioria dos pacotes.

Carmine e eu mantemos um cada, entramos de braços dados na casa, ela radiante, sequer parece afetada por recentemente ter lançado os pedaços do antigo amante no fogo, e eu, sustentando um sorriso falso, que desmancha ao ser pego desprevenido pela imagem angustiante de Giancarlo sentado na poltrona de couro.

Esmeralda está ajoelhada ao lado dele, sentada sobre os joelhos com ambas as mãos posicionadas nas coxas, não há corrente alguma.

Costas retas, cabeça erguida e o olhar ferino indicam o quanto odeia.

Permanece assim enquanto guardamos as capas, chapéus e caminhamos até eles, os irmãos apáticos, eu, confuso.

— Já fez sua escolha?— 

A voz firme penetra meus ouvidos, a fala é ignorada por todos os presentes, pois é dirigida especificamente para Esmeralda.

Na mesinha ao lado da poltrona está o látego, a centímetros dele a bengala. Afaga o cabo das duas armas com uma mão, a outra arrisca fazer um carinho no topo da cabeça da sereia, que o afasta com um safanão, colocando-se de pé num salto desajeitado.

O peito de Giancarlo expande, ele se ergue, agarrando o chicote com uma mão e a bengala com a outra. O gesto basta para alarmar Esmeralda, que instintivamente curva os ombros e espera o pior, mas não recua um passo sequer.

Escolhas? Referia-se ao fio da espada ou aos ganchos do látego? 

Malditos demônios.

Tomado pela onda crescente de pânico, faço uma tolice que põe a perder todo o trabalho da tarde. Abandono o pacote repleto de roupas e corro, chegando a tempo de impedir que ela seja atingida.

As cordas do chicote enrolam em meu punho, o metal dilacera minha carne e Giancarlo puxa, prolongando o tormento.

Contenho qualquer reclamação audível e sou pego pelo sentimento estrangeiro de ser breve, frágil e insignificante.

— Nunca disse ter escolhido o chicote, Giancarlo. Tocar não estava no acordo.—

Giancarlo ignora por completo minha presença, volta-se para Esmeralda, proferindo num tom raivoso, traído.

Vasculho o ambiente, perplexo com a máscara de abnegação do restante da família.

Estão parados, observando a cena tal qual a mobília da sala.

—Tanto tempo juntos e ainda não entendeu que é nossa para fazermos o que desejarmos? Tocar nunca precisou estar em acordo algum. Eu ofereci uma saída por benevolência, mas provou ser a selvagem sempre.—

Aproveitar os segundos de distração para arrancar a cabeça de Giancarlo custará a minha vida.

Esmeralda seria capaz de lidar com um deles?

Não é justo com ela arriscar a fuga por um rompante de heroísmo. 

Também não é justo planejar sozinho uma fuga sem perguntar se a interessada está de acordo.

— Qual o propósito dos meus serviços? Mal fui capaz de curar as feridas antigas e trata de abrir novas? Prometeu conhecimento, abracei a proposta de bom grado e sigo achando esclarecedor a possibilidade de examinar semelhante criatura. Quanto desperdício de energia, não cheguei a ganhar uma semana, mas se é isso o que deseja, vá em frente. Só tente ser rápido, tenho um ensaio por finalizar e adoraria manter o terno limpo.— 

Mentir tem se tornado um hábito.

Falar dela como objeto de estudo e nada mais funciona, pois Giancarlo afrouxa o aperto no chicote e tenho a oportunidade de arrancar os ganchos fincados em minha pele.
Esmeralda segue imóvel, nada de choro e lamentos.

✔ Esmeralda e outras flores mortas| Carlisle CullenOnde histórias criam vida. Descubra agora