[Sonhos II]
—Gostou do meu presente?—
O menininho perguntou com um sorriso de orelha à orelha.
— Eu não voltei, e você não é real.—
— Ingrata. Se tivesse cem anos a mais eu a castigaria pela insolência. Acaso não acordou em segurança no seu corpo? —
Alegava ter oitocentos e quarenta e cinco anos. Dando a mesma ênfase orgulhosa que uma criança garantindo ter oito anos e meio.
Torci o nariz e ameacei contar para uma mãe que nem conheço sobre uma criança a perambular sozinha pelos túneis, descobrindo assim que esse número não significa muita coisa aqui.
Ele implorou para que eu não contasse, pois só teria permissão para sair sozinho quando completasse mil e quatrocentos anos.
— Agradeço sua benevolência, mas o meu corpo não está em casa. —
Sou chamada de mentirosa pela coisinha que me fez ficar dias perdida no único cenário onde eu sempre sei para onde estou indo.
— Irá atravessar ou continuará perdendo tempo brincando? —
Ele se irrita quando respondo que continuarei a perder tempo brincando.
— A sereia ao menos sabe atravessar? Céus, não sabe! —
O garotinho ri, ri e então gargalha, me encarando como se eu fosse a criatura mais estúpida do mundo.
— Escama, me dê. —
A mãozinha rechonchuda se abre e eu obedeço, transformando parcialmente meu antebraço só para arrancar uma escama brilhante, ansiosa pelo desenrolar do sonho.
Pressiona a escama na parede do túnel, recua dois passos e espera...espera até a escama crescer, convertendo-se numa espécie de superfície refletora mais ou menos da minha altura.
Mal consigo respirar ou me mover, permito que o menino me guie através da porta.
É maravilhoso, desde as florestas escuras até as cidades em ruínas, mares e rios de água turva.
Variava conforme o túnel escolhido, e custava escamas.
Não economizei muito no começo, mesmo acordando esgotada com Giancarlo debruçado sobre meu corpo com suas mãos nojentas rastejando pelos meus braços, pescoço e costas, espalhando óleo de lavanda.
Tê-lo esfregando meus músculos sob alegação de evitar que meus membros atrofiassem me deixava enjoada, o que culminava em acessos de vômito e longos períodos de sono depois do castigo, pois sempre me recusava a agradecê-lo por ter cuidado de mim.
Numa época sequer se dava ao trabalho de me acorrentar ou fechar a porta da cela, pois sabia que eu não tinha forças para me arrastar para fora.
Os murmúrios eram sempre os mesmos, que eu perdi o juízo.
Sinceramente rezava pelo sim, pois no mundo à parte onde eles não eram capazes de ir havia um mar, e lá dentro inúmeros animais estranhos se ofereciam para ensinar coisas quando eu fizesse uma viagem apropriada. Também me tratam como alguém especial e bem vinda, além de sempre usarem meu nome.
A viagem apropriada consiste numa travessia de corpo e espírito através de supostos portais existentes no oceano. Elas também são perigosas, por causa disso sereias com habilidade de usar os atalhos são úteis. Quando sereias e tritões que fazem a viagem apropriada se perdem somos nós os responsáveis por rastreá-los, pois com o corpo em segurança do outro lado basta outra sereia nos chamar de volta, reduzindo os riscos de desaparecer.
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✔ Esmeralda e outras flores mortas| Carlisle Cullen
Fanfiction[+18 ✔ CONCLUÍDO Carlisle Cullen & O.C | Vampiro & Sereia | Esmeralda e outras flores mortas ✺Volume único |sem revisão] Cansado de ter seus hábitos continuamente postos à prova, Carlisle decide deixar a Itália. Sozinho e perdido, viaja para Londr...