Três dias inteiros tinham se passado desde que deram banho juntos em Chingu e dormiram na mesma cama, e Seokjin ainda não conseguia entender como alguém feito Namjoon poderia ser real. Uma grande estrela do cinema não podia ser assim, tão tranquilo, acessível, educado e prestativo quanto Namjoon era. Muito embora tivesse seus detalhes bastante próprios, alguma coisa naquela conta não fechava. Seokjin, porém, mesmo sem entender, estava longe de achar ruim. Pela primeira vez em anos sentia que estava tomando uma folga de si próprio, que estava tirando férias do pequeno cercado particular que o retivera por tanto tempo. Finalmente, em eras, estava se sentindo livre, sem a preocupação de ter algo para dar conta. Ainda tinha que estar ali por Namjoon, certamente, mas o ator deixava o serviço fácil, como se não fosse um trabalho de verdade. E isso era incrível.
Por anos Seokjin tinha deixado que sua identidade se perdesse. Ao longo do tempo, ele era o filho de seu pai, o amigo de Taehyung, o administrador da Pousada Wintersweet, o patrão dos Choi... Por um enorme período, Seokjin tinha sido vários, exceto quem ele realmente era. E foi somente com a chegada de Namjoon e suas singularidades e pequenas surpresas que isso se tornou palpável para ele. Não tinha percebido o quanto tinha permitido que o mundo o soterrasse, até que, sem querer, Namjoon começasse a desenterrar aquele que um dia tinha sido, e que Seokjin julgava não mais estar ali. E tudo isso no decurso de menos de uma semana, o que deixava a coisa ainda mais especial.
Como isso era possível, de que maneira se dava essa relação tão íntima e confortável que se estabelecera entre eles em tão pouco tempo, era difícil responder. Seokjin sequer queria uma resposta; aos trinta e cinco anos de idade, já tinha aberto mão de compreender certas coisas, bastando para ele as sentir. O que Namjoon tinha trazido consigo era bom. A forma com que o ator se importava era boa. Seokjin não sabia se estava dando algo bom o suficiente em troca, mas parecia estar funcionando para ambos os lados. E por uma sensação tão feliz e acalentadora quanto essa, não havia muito que Seokjin não viesse a dar. Era por isso que estava prestes a fazer uma espécie de loucura.
De alguma forma Namjoon tinha o convencido que seria uma boa ideia tentar ensiná-lo a esquiar. Não teve argumento sensato que dissuadisse o seu hóspede, e por isso estava ali, em plena manhã de inverno, limpando esquis, botas, bastões, luvas e casacos para que subissem o pequeno morro e tentassem fazer um passeio por meio da prática do esporte. Se parasse para pensar um pouco, veria que estava correndo o grande risco de machucar o namoradinho da Coreia do Sul com aquela tolice, uma vez que mal sabia esquiar, e não fazia ideia de como ensinar alguém. Muitos desdobramentos viriam dali, caso o pior acontecesse. Mas Namjoon era persuasivo, e Seokjin, no fundo, achava que seria interessante ter essa experiência.
Com tudo limpo e com a checagem de funcionamento em dia, Seokjin enfiou tudo em duas mochilas bem grandes e foi andando até a choupana de Namjoon, que jurou que naquele horário já estaria acordado. Isso, contudo, não aconteceu. Seokjin bateu três vezes na porta antes de se ver forçado a usar a chave mestra outra vez. Por mais bem humorado que o ator parecesse, Seokjin ainda levava em conta o que Hoseok lhe dissera e o que seu próprio instinto lhe informava. No entanto, quando adentrou no quarto viu que não havia motivo para se preocupar: Namjoon estava no mais profundo sono, todo espalhado na cama e com a coberta jogada no chão. Chingu dormia bem ao lado da cabeça dele, com a barriga quase encaixada em seu rosto. Sem pensar muito, largou o que segurava no chão e procurou pelo celular, o encontrando rapidamente. Ligou a câmera e, sorrindo como um garoto travesso, tirou alguns retratos da dupla. Apagou a maioria, ficando com apenas uma, que pareceu a melhor dentre todas.
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Wintersweet days
FanficAos trinta e dois anos, Namjoon conquistou exatamente o que queria desde criança, mas algo o impede de se sentir feliz. Seokjin, aos trinta e cinco anos, tinha se acostumado aos rumos que sua vida tinha tomado, mas, vez ou outra, ainda sente falta d...