oitenta e seis

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"mantenha espaço em seu coração para o inimaginável" - mary oliver

Entre não poder sair do apartamento, ter sua vida arruinada e não poder falar com o homem pelo qual havia sacrificado todas essas coisas, Louis achou que estaria mais triste. 

Nos primeiros dias com certeza se sentiu vazio, mas o vazio familiar que sentia antes de tudo aquilo. Antes de Styles. Um vazio como se tivesse voltado à estaca zero, e, de certa forma, havia mesmo voltado. Sem um emprego que gostava, sem perspectiva alguma, sem alguém que amasse, e tudo que lhe restava era a prostituição. Louis pensou bastante sobre isso. 

Mas, no decorrer dos dias, Lottie se certificou de ligar para ele todas as manhãs, dizendo como ninguém mais na cidade ousava falar algo sobre Louis pois Lottie brigava com todos que tentavam irritá-la ou sua família. "Aquele velho do supermercado começou a falar merda esses dias e falei que sabia que ele tava traindo a mulher dele com uma professora lá do colégio e se ele falar alguma coisa de novo eu não vou pensar duas vezes antes de avisar aquela coitada da esposa dele, otário, até parece!", a irmã falou em uma das ligações, fazendo Louis rir. 

Lottie também, aos poucos, incluiu toda a família nas ligações. A situação atual nunca era mencionada, mas Louis recebeu a primeira mensagem da mãe: um simples "Obrigado por tudo" e, logo em seguida, "Vi uma foto desse Harry. Ele é bonitinho ;), bjs". Louis se sentiu grato por isso. 

Morar com Liam de novo também era bom, e ele percebeu o quanto sentiu falta da energia do amigo. Ciente de que Louis tinha sido descartado do trabalho com as bandas, Payne se sentou com ele um dia na sala e disse que poderia ficar no apartamento o quanto quisesse, e que ele não precisaria se preocupar com nada. 

"Vai ser tipo o Chandler fazendo um quarto pro Joey na casa que ele comprou com a Mônica! Só nós três!", o de olhos castanhos riu. "Porra, isso é deprimente pra caralho", Louis gargalhou, mas sabia que Liam falava sério. E, de novo, estava grato. No final das contas, ficou surpreso por não estar completamente desolado.

Harry ligou oito dias depois.

- Hey! - Louis atendeu ainda rindo de alguma piada que Brian havia feito sobre um de seus colegas de trabalho, sem nem olhar quem estava ligando

- Oi - a voz de Harry era doce

- Harry - um frio subiu imediatamente pela nuca e saiu apressado para o quarto

- Eu queria te ligar antes, mas...

- Tudo bem.

O silêncio persistiu por alguns segundos enquanto a respiração de cada um fazia a ligação chiar. Harry segurando a vergonha da recaída no pulmão e Louis carregando a culpa de não estar tão triste na garganta. Nenhum dos dois sabia o que dizer.

- Como você... - os dois falaram ao mesmo tempo e soltaram uma pequena risada

- Desculpa, pode falar - Louis balançou a cabeça

- Eu só ia te perguntar como você tá

- Ah, você sabe... - deu de ombros - O Liam mudou algumas aulas pra poder ficar mais tempo aqui comigo

- Bom, bom, isso é bom

- E você?

- É, tipo... tem sido uma loucura por aqui

Constrangedor.

- Tô chocado que nenhum sniper do Simon veio me matar ainda - Louis tentou quebrar a tensão

- Ele definitivamente considerou fazer isso, mas você morrendo só ia ficar mais na cara que a gente tava junto mesmo, então acho que ele não vai fazer isso - Harry riu

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