noventa e dois

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"o amor estava lá. não mudou nada. não salvou ninguém. haviam muitas forças contrárias. mas ainda importa que o amor estava lá"

Harry não se lembrava de muita coisa, mas se lembrava da dor, da desesperança e do desespero. As outras vezes que Louis havia ficado em sua frente e terminado tudo pareciam diferentes, Harry não saberia explicar mesmo que quisesse, mas, dessa vez era como se pudesse sentir o peso do malhete sendo batido contra a base, decretando o fim do julgamento. 

Esse era o fim, e ele sabia que jamais veria Louis de novo. 

Nunca mais.

Sabia que depois que Louis havia o deixado lá, foi direto para uma boate e o resto da noite foram apenas flashes em sua memória. Os copos de vidro reluzindo na luz, a cor acobreada do uísque, o som das risadas de quem quer que ele tenha encontrado lá e os tapinhas nas costas com as animadas vozes dizendo "Harry!". 

Sendo sincero, Harry nem conseguia sentir o gosto do álcool, mas isso não o impediu de tentar sentir qualquer coisa que fosse. Então ele bebeu. E continuou bebendo até que a falta do gosto não importasse mais. 

Mas a dor, traiçoeira como era, continuou ali, e Harry precisava que parasse.

A próxima coisa que se lembrava era o ardor do nariz. "É neve pura!" escutou alguém dizer, o que o fez sorrir involuntariamente. Tinha alguém acariciando suas coxas? Não sabia dizer. 

Conseguia, no entanto, ouvir os próprios batimentos cardíacos em seu ouvido. Era muita neve. Entre uma linha e outra, ouvia as pessoas torcendo para que ele virasse o maior número de shots possível, e ele o fazia. 

Mergulhou o indicador em um dos saquinhos e esfregou o pó nas gengivas, o deixando com a boca seca e ainda mais agitado. 

De repente sentiu o corpo esbarrando em diversas pessoas. Estava dançando? A música estava tão, tão alta. Sentiu uma mão em sua nuca "Não, não", Harry resmungou. "Ah, que isso, eu sei que você gosta de homens, homens bem safados, não é?" Harry escutou no pé do ouvido, seguido de um beijo no pescoço. "NÃO ENCOSTA EM MIM, PORRA". Merda, ele disse mesmo isso ou só pensou? Todos estavam olhando para ele, então ele provavelmente disse. 

Sentiu alguém puxá-lo e no canto dos olhos viu um homem caído no chão e as pessoas de olhos arregalados em sua volta.

Outro tapinha nas costas "Caralho, você bate forte!". Harry franziu a testa "O que?". "Não se preocupa, ele vai ficar bem, vamos", ouviu de novo da pessoa que o acompanhava. "Merda, eu bati em alguém?" Harry pensou, sendo conduzido para outro lugar. 

Estava sentado agora, mas não sabia nem se estava no mesmo lugar que antes, uma boate diferente, pessoas diferentes, não era muito importante, de qualquer forma. 

"Yo, seu celular!" escutou alguém gritar perto de si. Estava vibrando? A tela tinha muitas notificações. Outra linha de pó. "Merda, eu respondi as mensagens?" ele pensou. Estava suando. Abriu um botão da camisa. 

"HARRY! CARA, BATMAN? FODA PRA CARALHO! Eles já começaram na armadura?" alguém o trouxe outro copo. "Ahm, não" ele respondeu. "CARA, VAI SER ÉPICO!" outra pessoa gritou. Ou será que foi a mesma? 

Em pé de novo, reconheceu o começo da música.

"Mas assim, eu nunca acreditei no que tavam falando de você, de verdade mesmo, sabia que era mentira" surgiu uma voz que Harry até conhecia. 

Porra, a dor se fez consciente de novo. Não, não, não, não. Tudo menos a dor, por favor. 

Passou a mão nos bolsos e repentinamente foi carregado pelo pânico. "O anel", Harry ainda não sabia se eram pensamentos ou se falava em voz alta. Passou os dedos pelas falanges da mão freneticamente, os olhos fundos e cheios de terror. 

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