Teste de Coragem

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"O conde viu sua vitória em minha mesura, e, na expressão perturbada do meu rosto, a certeza de que era ele quem ditava as regras, pois começou no mesmo instante a demonstrar seu poder, ainda que daquela sua forma serena e irresistível."

-Jonathan Harker, Drácula

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Ele sentou-se e cumprimentou Albert rapidamente. Serviu-se de um chá, mas não conseguiu comer nada. Deixou que seu olhar vagasse para as colinas verdejantes localizadas ao longe da propriedade. Um passeio talvez lhe fizesse espairecer um pouco, mas não podia deixar a casa, não com Moriarty por ali.

Uma ideia lhe ocorreu. Parecia loucura e era um risco. Mas mesmo assim...

-Tenho pensado em dar um passeio pelos arredores da propriedade. Deseja me acompanhar? - Perguntou como se não desse grande importância, seu coração se agitava dentro do peito.

-Seria um prazer. - O Conde encarou-o demoradamente, seus olhos carregados de um brilho indecifrável. Ele sabe que eu sei. Ele sabe que eu sei e não me teme, Holmes pensou. Ele quase deixou uma risada amarga escapar, mas conteve-se.

Depois de tomar o chá, os dois saíram, a luz alaranjada do fim de tarde banhava o lugar, tecendo um pintura de tirar o fôlego. Eles caminharam para a parte mais distante do lugar.

O Conde observou Mycroft. Ele era um perfeito Lorde inglês, parecia forte e também muito inteligente, não muito bom em demonstrar emoções.

Holmes parecia refletir, sua expressão era bela e por um instante pareceu serena. Até que ele se voltou para Albert e seus olhos se encontraram.

Ele imaginou como seria ter seu corpo pressionando o dele, ouvi-lo gemer baixinho e chamar o seu nome.

- O quê? - Moriarty quase se assustou quando o outro disse isso. Mycroft correu apressado e se abaixou.

-Me ajude. - Albert olhou para aquela mão pálida e esguia. E com um gesto único, puxou-a para fora. Parecia uma garota, não deveria ter mais que 19 anos. Holmes olhou para ele, preocupado.

-Já deve fazer três dias que foi morta. - Ele falou com tranquilidade.

Mycroft avaliou o corpo e assentiu.

-Devemos chamar a polícia. - Os dois retornaram para a propriedade, o sol estava se pôndo e algumas estrelas começaram a surgir. Holmes chamou a polícia, e o Conde foi para o quarto a fim de tomar um banho demorado.

Os policiais chegaram a propriedade alguns minutos depois, Mycroft mostrou o lugar e o cadáver foi levado para a investigação.

Griselda chorava copiosamente.

-Pobre Georgina. Uma garota tão maravilhosa, inteligente e dedicada. Ela tinha conseguindo um emprego na cidade como secretária. Parecia muito promissor. - murmurou tristemente.

-Minhas condolências, senhora. - Albert acrescentou com cortesia. A mulher agradeceu fungando.

Todos os empregados estavam profundamente enlutados.

-Aquele era o lugar favorito dela... Quem faria esse tipo de brincadeira de mau gosto? - Fred disse com indignação.

Mycroft mirou Albert, e sentiu aquele pequeno incômodo dentro dele desvanecer momentâneamente.

Não podia ser ele. Havia alívio? Sim. Ele sentiu que poderia relaxar um pouco. Mas ainda precisava testá-lo. Ele provavelmente morreria no processo, mas não podia arriscar a vida daquelas pessoas inocentes.

Se alguém tivesse de morrer... então que fosse ele.

Depois que a noite chegou, ele preparou cada um dos instrumentos de seu ofício obscuro e se dirigiu para o quarto de Albert.

Ele girou a maçaneta, e a porta abriu silenciosamente. Ele adentrou o aposento, perguntando-se qual a razão para que o outro deixasse suas defesas tão baixas, quase como se o estivesse convidando a entrar ali.

A menos que não o considerasse uma ameaça em potencial.

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Moriarty estava dormindo. Usava uma túnica fina que estava aberta e uma calça de linho de cor verde escura. Mycroft engoliu em seco. Ele parecia uma pintura feita para despertar seus desejos mais obscuros, havia uma intensidade em torno dele e uma energia obscura que tanto o atraía como repelia.

Ele parou por um momento e sentiu seu peito subir e descer. Seus músculos estavam retesados. Tornou a fitar Albert, ele não respirava, nem se mexia, parecia realmente morto. Por alguma razão desconhecida aquele pensamento o assustou.

Holmes forçou- se a continuar. E parou diante dele. Suas feições eram tão serenas, esse homem seria a ruína de muitas damas, ele pensou. Enquanto uma vozinha lá no fundo sussurrou para ele, e será a sua também.

Ele se esforçou para expulsa-la e em um impulso posicionou a estaca de madeira sobre o peito exposto do outro. Seus lábios eram levemente corados, e se arqueavam quase que de forma imperceptível, como se ele pudesse apenas sorrir a qualquer momento.

-Eu sabia que você viria. - A voz do outro soou melodiosa. Seus olhos se abriram, intensos, algo dentro deles queimava.

Mycroft sentiu seu coração esmurrar o peito, mas colocou sua máscara fria, empurrando seus sentimentos para o lugar mais fundo de sua alma.

-Não se mova. - Disse friamente. - Eu sei o que você é. - Acrescentou com firmeza.

-Mas sabe quem eu sou? - Ele perguntou tocando o pulso do outro.

Seu toque era tão frio e absolutamente forte, tão forte que o deixou assustado. Ele não tinha a menor chance diante dele.

-Sei o suficiente. - Sua voz soara mais baixa do que previra.

-Então, por que ainda está hesitando? - Ele apertou o pulso de Holmes com uma força que poderia esmagar os ossos dele, se não estivesse se contendo. E num salto extraordináriamente veloz derrubou o objeto de madeira no chão.

-Não deveria ter vindo, Sr. Holmes. Sabe o risco que está correndo? - Disse pressionando o corpo do outro contra a parede. Suas faces a centímetros. Ele sentiu a pele fria e cada músculo por debaixo daquela roupa fina.

Holmes achou que ia morrer. No momento em que ele aproximou os lábios do pescoço dele, eles roçaram levemente sobre a pele, enviando arrepios por todo o seu corpo.

Ele nunca admitiria para si mesmo, que se sentira desapontado quando o outro se afastara.

-Por favor, Sr. Holmes. - Se minhas intenções fossem sanguinárias, eu jamais concordaria em dividir a casa com alguém tão inteligente quanto o senhor. - Moriarty falou com tranquilidade.

-Não conheci muitos vampiros inteligentes. -Holmes ainda sentia os pelos de seu corpo eriçados. Moriarty sabia e se aproximou novamente.

-O senhor é um homem de muita sorte. - Mycroft se afastou em direção a porta e foi para o quarto. Naquela noite ele sonhou com aqueles lábios profundamente tentadores e eles faziam mais do que apenas falar.

O Desejo dos ImortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora