"O próprio fato de que qualquer coisa morre implica a existência de algo que não pode morrer, que deve tomar outra forma, como a semente que morre ao ser plantada, ressurgindo de novo(...)"
-Anodos, Phantastes
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Depois de tomar um banho demorado, onde passara a maior parte do tempo tecendo conjecturas e pontuando as coisas que poderiam manter as jovens vítimas ligadas. Mycroft só pôde supor que eram damas supostamente inteligentes. Irritado com esse caso intrigante e com a cabeça cheia de Moriarty, ele saiu do banho e vestiu um terno simples e penteou os cabelos, observou a própria imagem no espelho. Seu semblante parecia cansado, como de fato, ele estava. Desistiu de tentar parecer mais apresentável e desceu para o jantar.
A sala estava aconchegante e silenciosa. O vento soprava baixinho ao longe e ele se perguntara para onde Albert fora. A maior parte do tempo ele estava ciente de sua peresença na casa e isso era estranhamente reconfortante. Mas o comportamento do outro ainda o deixava intrigado, o conde parecia consternado e alguma coisa o incomodava.
Como ele podia esperar confiança daquela criatura que vivera sua vida, Deus sabe como, sobrevivendo através das vidas de outras pessoas. Aquele pensamento o fez se encolher um pouco, não conseguia imaginá-lo da mesma forma que os outros monstros sanguinários.
Ele parecia, às vezes, um pouco vulnerável e tão... humano.
A refeição foi simples, com saladas de batata, pão de milho e um guisado de carne , bastante satisfatório. Holmes terminou sua refeição e subiu para o escritório. Entendeu que o assassino que procurava não estava entre os humanos. E ainda ciente de que o monstro procurava vítimas fáceis e com certo desenvolvimento intelectual.
Caçar vampiros nunca fora uma tarefa muito difícil. Eles não costumavam ser muito inteligentes e como eram confiantes demais, sempre acabavam agindo em um impulso. Era aí onde ele costumava pegá-los. Esfregou as têmporas e continuou a estudar, sua mente trabalhando incansávelmente. Até seus olhos ficarem pesados e as letras começarem a se misturar a sua frente.
Ele sentiu que mãos gentis e frias tocaram seus ombros, mas não conseguiu abrir os olhos. Quando acordou no outro dia, estava em sua própria cama. Ainda com as mesmas roupas da noite anterior, com excessão da gravata que havia sido levemente afrouxada, para que ele pudesse se sentir mais confortável.
Fazia tempo que isso não acontecia, não desde que era apenas um garotinho e por um momento ele se pegou sorrindo.
Fazia tempo que não se sentia assim, tão leve...
Ainda era cedo, e o sol despontava entre as colinas, ele se levantou e abriu as cortinas para que a bela luz alaranjada iluminasse o aposento que parecia quase triste. Quando uma batida soou em sua porta, ele murmurou um" entre".
-Bom dia, Sr. Holmes. - Como sempre, ele estava impecável, embora usasse apenas uma camisa de flanela fina levemente aberta, e uma calça escura. -Dormiu bem? - perguntou com um sorriso.
Mycroft o encarou e lhe ofereceu um sorriso sincero. Aquele sorriso atingiu Albert no âmago do seu ser, ele sentiu-se desconcertado. O outro nunca lhe oferecera um sorriso tão terno, e por um momento ele permaneceu em silêncio. Quando Holmes lhe falou.
-Muito bem. - Holmes respondeu. - mas o Sr. já sabia. - acrescentou mirando-o atentamente. - Albert se aproximou em uma velocidade inumana e ficou frente a frente com ele.
Por um momento Mycroft se perdeu no caminho que poderia percorrer apenas se desse um pouco mais de liberdade a si mesmo.
-Nós temos um longo dia pela frente, Senhor. - falou encarando descaradamente aqueles olhos de um azul muito escuro.
-Estou certo que sim. - Ele preparou-se para dar um passo para trás, mas estava muito próximo a parede.
Então devolveu o olhar do outro, mas incoscientemente eles moviam -se para aqueles lábios tão corados. Ele perguntou -se como seria beijá-lo. Notou aquela cicatriz no peito e tocou-a com seus dedos suavemente.
Albert tremeu um pouco. Perto demais ele pensou.
-Como você a conseguiu? - Albert sorriu, mas não havia felicidade ali, apenas uma aceitação dolorosa de coisas que ele sequer pensava em falar.
-Foi meu pai. - Ele não disse mais nada, e Mycroft entendeu que não era bom falar sobre isso. Mas o cheiro dele, era absolutamente fascinante. Por um momento ele sentiu o ímpeto de diminuir aqueles poucos centímetros que os mantinham separados e tomá-lo para si. Deslizar sua lingua para dentro daqueles lábios da perdição.
-O senhor acha que esconde bem seus sentimentos, Sr. Holmes? - Moriarty engoliu em seco. Albert absorveu o cheiro do outro. - Eu posso sentir... a sua ânsia. O seu desejo. Coisas que o senhor atribui ao fato de eu ser um vampiro.
Ele se aproximou mais, até que seus corpos se roçassem levemente. E deslizou seus dedos longos e frios por toda a extensão do tórax.
-Mas nós dois sabemos... que isso está longe de ser a verdade. - Mycroft estremeceu, pensando que o Conde estava certo. Aquela situação era inaceitável, mas ele não conseguia evitar, sentia aquele fogo queimar-lhe inteiro e não queria escapar.
Só a ideia de tê-lo ali, deixava Albert agitado, quase como se o seu coração ainda pudesse bater. Ele sentiu- se um tanto patético e pensou em se afastar. Mas antes que pudesse realizar qualquer movimento. Ele ouviu o outro sussurrar baixinho.
-Beije-me... Conde. - Mycroft entendia que o outro não o faria até que ele deixasse claro que era isso que desejava. E como ele desejava. Isso parecia tão errado que ele quase não se reconhecia. Mas ainda assim, mesmo que fosse errado, ele ainda o queria.
-Tem certeza, Mycroft? - O outro o mirou com raiva, ambas as faces ruborizadas. Não me faça repetir, ele pensou. Não me faça -
O outro beijou-o naquele momento, um leve roçar de lábios. Ele percebeu que queria aquilo. Que queria mais. Albert tomou-o em seus braços e envolveu -o completamente, pressionando seu corpo contra a parede, aquela proximidade era fatal, sentia que estava chegando a um ponto onde não poderia mais parar.
-Não se contenha, Conde. Não comigo. - Ele aprofundou o beijo, Deliciando-se com aquela boca que o atormentava frequentemente.
Duas batidas soaram na porta.
Albert se recompôs em questão de segundos, e foi abrir a porta do quarto. A empregada que ele recordava-se chamar de Marly o fitou com um ar sisudo.
-Me perdoe Conde. Pelo que eu me recordo Este quarto estava sendo ocupado pelo Sr. Holmes. A mulher observou-os com atenção.
-De fato! A Senhora não está errada. Eu tinha alguns assuntos a tratar com ele, a Senhora deseja falar-lhe algo ? - A postura do Conde era impecável, como se nada tivesse acontecido segundos antes. Enquanto Holmes precisava reunir todas as suas forças para pensar em qualquer coisa que não fosse Albert.
-Bem Milorde, o seu quarto estava silencioso e eu tive receio de acordá-lo, mas tem um homem lá na sala de visitas que veio vê-lo.
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O Desejo dos Imortais
FanfictionQuando Mycroft Holmes partiu para Cambridge em busca do odioso assassino que vem aterrorizando o país, ele não esperava que a única pessoa capaz de ajudá-lo a desvendar esse mistério estaria no mesmo trem que ele, nem que essa viagem mudaria para se...