O Retorno

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"A escuridão recaiu sobre ele como um cobertor. Ele prendeu a respiração e escutou. Não, pensou. Não deixe isso acontecer. O mal não é uma coisa, o mal não se incorpora. É o oposto disso, é um vácuo, a ausência do bem. A única coisa a temer aqui é você mesmo. Mas ele não conseguiu se livrar daquela sensação. Alguém cravava o olhar nele. Algo. (...)"

-Harry Hole, Boneco de Neve

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Marcus saltou para trás, defendendo os ataques da vampira, que avançava sobre ele cada vez mais. Seus golpes eram limpos e fatais, se ela o atingisse consecutivamente ele não teria como derrotá-la. Era inegável o quanto Millarca era poderosa e por isso a mais impiedosa.

-Você sempre foi a mais forte de nós três. Sempre consideramos você como a nossa irmã mais velha. - Marcus acrescentou. Não desejava lutar contra ela.

-Me poupe do seu sentimentalismo. Você é patético. Por isso Klaus te abandonou. - Ela tinha prazer em vê-lo ferido magoado.

Aquelas palavras o atingiram com mais força do que qualquer golpe. Lembrava -se dele com frequência, o sorriso provocante e o sarcasmo que carregava todas as suas palavras. Por muito tempo eles estiveram juntos, e ele achava que não precisava de mais nada. Como acontecia com mais frequência do que desejava admitir, ele estava enganado.

Um dia, ele acordou e Klaus simplesmente não estava lá.
Ele nunca mais o viu.

Marcus empurrou aqueles pensamentos para o fundo de sua mente, embora tarde demais. Mãos frias agarraram-se ao seu pescoço, os dedos longos e as unhas pintadas de um vermelho muito escuro, perfuraram a sua pele. Millarca tinha quase a mesma altura que ele e o salto a deixava ainda maior.

-Você sempre esteve tão desesperado por qualquer migalha de amor. Me diga Marcus, foi o desprezo do seu pai, ou o abandono de sua mãe?

Ele deu um chute no estômago da vampira
Que se recompôs e continuou.

-É tão fácil te enganar. Mesmo os seus filhos, aqueles que você salvou da morte e lhes ofereceu a dádiva de viver eternamente, mesmo esses não te amam. Você só os assusta demais, para que eles tenham coragem de deixá-lo.

Ela deixou escapar uma risada de escárnio.

-Mesmo eles não conseguem ver o garotinho assustado que se esconde aí dentro. Você é um fraco e enquanto se agarrar a qualquer gota de humanidade que milagrosamente acha ter, você sempre vai ser.

Millarca golpeou a cabeça dele contra a parede com força. Ele lutou para ignorar todo o discurso da vampira e manter-se atento a luta. Se ela conseguisse distraí-lo mesmo que momentâneamente, ele estaria morto.

Holmes mantinha a distância mínima de um metro das vampiras que o cercavam, geralmente quando lutava era apenas um vampiro por vez, mas agora ele se via cercado por quatro deles, as quatro garotas que ele lutara para descobrir quem fora o cruel assassino, e o tal assassino se encontrava alí, portardor de uma beleza extraordinária, ao qual muitos se renderiam, pela experiência, sabia que aquelas garotas foram todas seduzidas por Carmilla. Precisava libertá-las.

O rosnado que rasgava suas gargantas era profundo e gultural e ele lutava contra a necessidade de se encolher.

Precisava manter sua mente alerta, vampiros jovens eram fortes, mas não tão inteligentes. Ele recuou um passo cautelosamente, todos os seus sentidos alertas. Quando a primeira garota veio, ele atravessou-a com a estaca. A outra vampira moveu -se com velocidade e cravou os dentes em seu braço.

Holmes aproveitou a oportunidade e ignorou a dor lancinante que se espalhava pelo ombro, puxou a adaga que carregava no cinto habilmente e cravou no pescoço da vampira, ela se afastou sibilando, o sangue escorrendo pelo seu corpo, mas antes que pudesse fugir, Mycroft cravou a última estaca que carregava consigo no peito dela.

A dor se espalhava por seu corpo, e ele começava a suar. Sua visão estava embaçada, Holmes lutava para manter o equilíbrio.

-Mycroft! - Albert se precipitou, mas foi impedido por Nikolai.

-Seu inimigo sou eu. - Ele avançou contra o outro e desferiu uma serie de golpes, Nikolai era muito habilidoso, mas não o bastante para enfrentar Albert. A única chance de conseguir vencê-lo em batalha era se o foco dele estivesse em outro lugar.

-Albert, eu sou um caçador! Mantenha seus olhos no oponente. - Uma vampira avançou em sua direção. A bala lhe atingiu no meio da testa. O corpo virou pó antes de cair no chão...

A última vampira se encolheu. E deu dois passos cautelosos para trás, antes de também ser atingida. A grande sala ficou em silêncio. Enquanto Mycroft recarregava sua arma. O seu braço Direito estava banhado de sangue.

-Balas de prata... - A voz de Millarca soou como um sussurro. - Onde você as conseguiu? -Apesar da luta ela permanecia impecável, ao que Marcus se encontrava desgrenhado, O casaco pesado que ele usava estava arruinado.
Ele o jogou sobre o chão e retirou o coque que prendia seu cabelo, a cascata negra caindo suavemente sobre seus ombros. Estava irritado, tanto tempo confinado o deixara menos preparado para um habitual ataque.

O olhar da vampira estava distante, bem como Nikolai que se distraíra e mirava Mycroft com olhos famintos. Ele avançou a uma velocidade inumana, Holmes não sabia de onde o ataque viria, então agarrou um pequeno frasco de essência de verbena e derramou sobre o ferimento. Ele fechou os olhos lutando contra a dor. Quando os abriu Nikolai se encontrava a centímetros da sua face, a ânsia lutando contra a repulsa.

-Se afaste. - A voz de Moriarty soou gélida e mortal. Nikolai estremeceu lutando contra o instinto, queria fugir dalí. - Eu sou o seu inimigo! - Ele repetiu as palavras que ouvira antes. E desferiu dois socos que arremessaram Nikolai do outro lado da sala.

-Eu estou bem... - Albert mirou a figura cansada de Mycroft, a testa franzida tentando conter a dor. O Conde nunca experimentara uma impotência tão grande. Era doloroso não poder fazer nada.

Millarca deu um passo cauteloso, o olhar de Marcus estava em Nikolai que preparava um ataque mortal, ele se adiantou e atravessou o peito do vampiro, puxou a adaga seu cinto e cortou a cabeça do seu filho mais jovem fora.

Aquilo doeu na sua alma, se é que ele ainda tinha uma. Tanto que ele nem sentiu quando a mão de Millarca o golpeou, ele preparou para revidar, quando a estaca parou diante de seu peito.

Millarca deu um pequeno grunhido, a mão repousando sobre o peito ensaguentado, Marcus ficou confuso, apenas quando o corpo da vampira mais forte que o mundo já conheceu virou pó diante de seus olhos.

Ele o viu.

Klaus.

O Desejo dos ImortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora