Estradas Sinuosas

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"Eu sou... o pássaro de Hermes. Eu devorei minhas próprias asas. É dessa forma... que fui domado."

-Alucard, Hellsing

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Uma semana havia se passado e Cambridge estava estranhamente calma, nenhum relato de assassinato ocorrera, apenas mortes atribuídas a acidentes. A população estava mais tranquila e isso assombrava Mycroft.

Ele sabia.Trabalhara com assassinos antes, de todos os tipos e sabia reconhecer que quando eles ficavam muito silenciosos nunca era algo bom.

Seu pai costumava dizer que o mal age no silêncio, quando insistimos em negar pequenas verdades que nos são apresentadas ao longo da vida, é desta forma que a semente maligna nunca consegue ser de fato erradicada.

Às vezes ele próprio se perguntava se os humanos soubessem da força que se esconde nas sombras, se não tentariam usurpá-la e no fim reduzir a humanidade a um antro de guerras e corrupções, onde só os egoístas conseguiriam sobreviver.

Mas não era exatamente assim a vida dos supostos nobres, em sua maioria?

Fora treinado para ser e agir como um lorde, mas aquele mundo, não parecia pertencer a ele, ainda mais agora. Ele mirou o homem adormecido ao seu lado, o peito não subia e descia, como era de se esperar. Parecia inconcebível a ideia de que ele era um dos seres mais mortais do universo.

A vida que levava ao lado de Moriarty era como algo que ele nunca esperimentara antes, aquele necessidade desesperada de tê-lo e depois adormecer em seus braços. Era doce, terno e ardente.

Holme apertou os braços ao redor de si e se aconchegou em Albert. O tempo estava frio. Ele fitou o teto branco com alguns toques de azul. Estava se acostumando aquele lugar, quase como se fosse o seu lar. Mas não era, e não importa o quanto ele desejasse, não poderia ser. Poderia? A dúvida crescia dentro do seu coração, selvagem e insidiosa, assim como seu amor por Moriarty.

Os dois passavam a maior parte do tempo juntos, em busca de pistas, sinais ou qualquer outra coisa que apontasse para o suposto assassino. Entre uma busca e outra eles terminavam em um emaranhado de lençóis, beijos e gemidos contidos.

Naquele noite, especialmente. Holmes acordara mais cedo que o habitual, mas permanecera deitado ao lado do seu Conde. Queria beijá-lo, mas adorava vê-lo adormecido.

Mãos frias o puxaram para mais perto, despertando-o de seu devaneio e como se pudesse ler sua mente o outro beijou seu pescoço, enviando arrepios por todo o seu corpo. Depois tomou seus lábios em um beijo profundo e demorado. Sorriu-lhe e disse.

-Bom dia. Você dormiu bem? - Sua voz estava rouca e ainda um pouco sonolenta, era sensual demais, Holmes precisava admitir.

-Me diga você! Como eu poderia dormir? - Ele tentou parecer emburrado, mas falhou miseravelmente.

Albert lhe sorriu e repousou a cabeça em seu peito. O coração de Holmes batia rápido e ele fechou os olhos perdendo-se naquele som. O som que o recordava da sua luta.

-Preciso ir ver meu pai. - Ele mirou-o com seus olhos profundos e verdes. Sentou - se na cama e sentiu seus pés tocarem o piso frio, quase como ele próprio. Suas mãos estavam entrelaçadas e repousavam sobre o colo.

-Por que não me fala sobre ele. - Holmes pediu. Albert permaneceu em silêncio e tornou a encará-lo com calma.

-Não posso. Ainda. Preciso confirmar algo. - Ele voltou a beijá-lo. Então se levantou.

-Certo. - Mycroft assentiu. - eu vou com você.

-Mycroft, nós já falamos sobre isso. - Albert disse com cautela.

-Eu não vejo problema e eu sei me cuidar. - Ele se levantou e vestiu o casaco. - E no mais, você estará lá. O que há para se temer? - Ele se retirou para fazer sua toalete, sem esperar por uma resposta.

Albert sentou-se sobre a cama, percebendo como estava cada vez mais difícil dizer não para Holmes.

Moriarty observou Holmes tomar seu desjejum, enquanto ele próprio bebericava uma xícara de chá.

Era pouco mais de 10:00 da manhã e o sol brilhava alto, em contraste com o amanhacer nublado com que haviam despertado. Albert tomou a carruagem em direção a mansão onde seu pai estava, estivera lá apenas duas vezes e tinha receio em voltar. Ele arrumou uma dobra inexistente em seu paletó e Holmes observou seu incômodo.

-Está impecável, Milorde. - O Conde sorriu e repousou suas mãos sobre o colo, fechando os olhos com suavidade, exalava uma calma profunda, mas algo dentro dele estava em constante alerta.

A carruagem tomou caminho por uma estrada de terra estreita e sinuosa, a quantidade de casas ia diminuindo conforme eles se aproximavam do lugar. Adentraram um bosque com àrvores altas e retorcidas, o vento uivava baixinho, quase como um sussurro.

Mycroft observou o lugar, e o som de um galho se partindo o fez mirar um par de olhos vermelhos como fogo, que correu por entre as folhagens em uma velocidade inumana.

-O que foi isso? - Perguntou escondendo o próprio assombro.

-São ghouls. Não os criamos geralmente. Meu pai os mantém aqui para que os humanos não ousem se aproximar. Não se preocupe, eles não iram atacá-lo. Ghouls estão sujeitos as ordens de seus mestres e meu Pai não permite que eles matem.

-Não estou preocupado. - Disse Holmes com pouca convicção.

A carruagem parou com um solavanco e Holmes foi de encontro a Moriarty.

-Em que situação você me coloca, Holmes. Não sabe que é impossível resistir a você quando me tenta desse jeito? - Mycroft bufou e apressou-se a descer da carruagem.

O lugar deixou Holmes sem fôlego. A começar pelo caminho, através do jardim -perfeitamente cuidado- que era todo ladrilhado de pedras angulosas. A mansão mais parecia um castelo e era suntuosa, com torres altas e embora o prédio possuísse características que remetiam a idade média, o lugar permanecia como novo, quase como se o tempo se recusasse a passar através daquelas paredes, mas havia algo na atmosfera, que fazia toda aquela beleza parecer triste, tornando o ambiente lúgubre e vazio.

Os dois subiram os degraus até a entrada envoltos em um silêncio esmagador.
Albert segurou a aldrava e ergueu-a prestes a bater, mas as grandes portas de madeiram abriram-se, antes que ele pudesse executar o movimento.

-Bem-vindo, Albert. - A voz de seu Pai o saudou.

O Desejo dos ImortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora