Um velho amigo

157 17 17
                                    

"Eu daria a ele tudo o que sou.
Daria a ele tudo o que eu era. Me entregaria totalmente.
Costuraria nossos corações, pedaço a pedaço."
 
                         -Simon Snow, O Filho Rebelde

------------------------------------------------------------------

O homem alto e forte observava o horizonte distraído. Tinha uma aparência melancólica e trajava roupas antiquadas, embora exalasse uma elegância e presença incomparáveis.  Seus cabelos loiros, quase brancos eram bastante incomuns, seus olhos eram de um castanho muito escuro, quase pretos, era claramente um estrangeiro. De fato, muito belo. Os empregados o observavam com uma desconfiança silenciosa, mas não ousavam se mexer

-Vladimir! - Albert parecia surpreso. Ele desceu as escadas depois de se vestir apropriadamente . Trajava um terno escuro, simples e elegante.

-Irmão, como você tem passado? - Perguntou sorrindo com tristeza.

-Bem, e você? - Albert sabia que não era verdade. Desde que perdera sua parceira, Vlad vivia em constante tristeza.

-Eu estou bem. - Disse com firmeza, embora continuasse a se perguntar por quanto tempo poderia afirmar isso. O rancor de seu Pai espalhava -se por todas as pessoas importantes para seus filhos.

- Ele tem planejado algo grande, mas não posso dizer do que se trata exatamente. Eu mesmo não tenho consciência de tudo. Mas sei que você é o centro da coisa toda. - Disse com serenidade. Vlad percebeu que algo em Albert brilhava, de certo modo ele parecia mais feliz... Aquilo o deixou preocupado.

Albert meneou a cabeça, sentindo-se exausto. Ele compreendera que seu Pai colocara grandes expectativas nele. Mas sabia que isso significava algo absolutamente cruel e desumano.

Mas que humanidade ainda restava nele? O que havia para que ele guardasse tanta indignação contra seu terrível e odioso Pai?
Não poderia esperar nada de bom.

-Você é o mais forte de nós, Albert. Devia saber disso. Por que ele sabe, e não vai hesitar em usá-lo. - Albert cerrou os punhos, mas permaneceu em silêncio.

Com essas palavras Vladimir partiu, silencioso e rápido, da mesma forma que chegara. Albert suspirou como se ainda pudesse respirar. E mirou Mycroft que adentrou a saleta logo que o seu irmão partiu.

Seu coração se encolheu um  pouco. E ele sentiu-se demasiado perturbado por aqueles olhos profundamente escuros. O estava colocando em perigo, ele pensou. Mas talvez ele desejasse isso. Algo o que proteger. Alguém que inflasse seu coração de coragem e talvez algo mais.

-Vamos tomar o desjejum juntos, Mycroft? - Perguntou esperançoso, e sorrindo grato pela companhia do outro, que ocasionalmente o distraía de sua vida agitada.

Ele quase se sentia normal de novo.

Humano.

Quando apreciava esses momentos que se tornaram tão atípicos em sua existência "imortal" .

Mycroft lia o jornal buscando quaisquer vestígios relacionados ao assassino. Mas nada havia sido noticiado. A menos que fosse uma morte acidental. O que nem sempre era o caso.

Depois de terminar seu chá, os dois saíram para respirar um pouco de ar puro.

-Bem, não deve ser o seu caso... Já que você não respira. - Albert foi pego de surpresa e deu uma risada genuína.

Holmes ficou espantado. Fora a primeira vez que ouvira ele rir daquele jeito, e naquele momento ele também sentiu um ímpeto incontrolável de rir. Tão absurda era aquela situação.

Eles pararam embaixo de uma frondosa árvore. O vento soprava as folhas e a brisa era muito refrescante. Moriarty se aproximou e falou-lhe, com uma serenidade que lhe era muito comum.

- Se eu apenas pudesse passar todos os meus dias com você, eu não pediria por nada mais. -Holmes lhe sorriu, mas sentia-se incomodado.

-Não é uma escolha apenas sua. - Respondeu. Albert deu um sorriso enviesado. E mirou-o com diversão.

-Está dizendo que não me escolheria, Holmes? -Perguntou.

Mycroft parecia não estar disposto a ter aquela conversa. Então murmurou algo inaudível e partiu para a carruagem que os esperava na frente da propriedade.

Albert olhou o outro se afastar, e sentiu que estava em um ponto onde não seria mais capaz de recuar.

O que ele estava fazendo? Mais uma vez a pergunta surgiu em sua mente e ele se esforçou para enterrá-la no lugar mais profundo de sua alma.

Mas o pensamento permanecia girando em sua cabeça. Ele tomou o mesmo caminho de Mycroft e entrou na mesma carruagem, mas permaneceu silencioso.

Embora a presença do outro o recordasse o tempo todo dos seus sentimentos e da força que eles representavam.

***

Chegaram ao centro da cidade ainda com aquela sensação estranha e esmagadora envolvendo os dois. Com as emoções sendo oprimidos por ambas as partes a tensão aumentava. 

-Eu...  Realmente preciso que me acompanhe. - Albert disse, enquanto tomava o caminho para um dos hotéis mais caros da cidade. - Precisa me encontrar no - Ele desenhou o número na parte interna da mão de Mycroft. - Não desça da carruagem agora. - Ele murmurou em seu ouvido, Holmes sentiu o coração esmurrar o peito e assentiu reunindo toda a sua força, pra não deixar aquela máscara cair. Ele o desejava. Queria beijá-lo novamente. E talvez quem sabe, ir um pouco além.

Quando Albert saiu da carruagem orientou o cocheiro para que desce mais uma volta e retornasse em meia hora. Ele entrou no prédio luxuoso e subiu para o quarto. jogou-se sobre a cama e fechou os olhos, afroxou a gravata, como se ainda pudesse respirar, ultimamente esse sentimento estava frequente demais.

As imagens daquela manhã o assombravam constantemente. Queria Holmes para si. Queria reivindicá-lo e tomar cada parte de seu corpo. Queria, mas... Não podia.

A não ser, é claro, que ele também o quisesse.

O som de alguém batendo na porta o fez erguer-se abruptamente e ele foi abri-la. O outro estava lá, silencioso e sério. Quase como se não quisesse realmente estar ali. Se não fosse pela expressão de seus olhos escuros, Moriarty não teria agido.

Mas aquela chama dentro deles...

Ele precisava... Realmente precisava...

Em menos de um instante os dois estavam sobre a cama, o corpo de Holmes sendo pressionado, sobre o colchão macio, não importava o quanto o outro o beijasse, ele queria mais, seus lábios eram macios e quentes, ainda que seus movimentos fossem um pouco hesitantes e ele estivesse , claramente, tímido.

Mas não havia dúvida em seu coração, ele apenas se perguntava se estava relamente agindo certo. Ele nunca havia estado com alguém daquela forma.

-Deixe que eu seja seu mestre... - Albert falou baixinho.

Holmes engoliu em seco, às vezes Moriarty carregava uma expressão selvagem e em seus olhos havia um brilho ardente. Ele poderia me quebrar, se quisesse realmente.

-Estou apaixonado por você, Mycroft, perdidamente apaixonado. O que vai fazer sobre isso? - Perguntou sugestivamente.

O outro foi pego de surpresa, aquilo era realmente inesperado. Então, tudo que conseguiu dizer.

-Seja meu mestre.

O Desejo dos ImortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora