Capítulo 27

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Faz dois dias que meus pais foram embora depois de ser examinado no
melhor hospital de Verdes Montes pelo cardiologista Dr. Benedict Cumberbatch.

Mesmo com muita briga, ele não deixou meu pai pagar a consulta de modo
algum, se mostrando muito simpático o tempo inteiro.

Uma pesquisa básica no Google me disse tudo que eu precisava saber.  Sebastian disse que o homem é um médico conceituado em sua área quando ele é nada menos do que um pesquisador premiado no mundo inteiro por descobertas realizadas.
Desta vez não questionei. Eu não podia estar mais grata por ele tomar essa
decisão sem me consultar. A saúde de meu pai é mais importante do que meu orgulho.

- Caros alunos, eu preciso de um minuto da atenção de vocês - o
professor Hiddleston pede.

Estou concluindo o semestre na universidade. Falta pouco para que eu alcance o título de mestre e quem sabe, ocupar a cadeira de professor
substituto.

Tom está ao meu lado, rabiscando alguma coisa, mas levanta a cabeça
quando o professor pede atenção.

- Hoje, novamente, teremos a ilustre presença do Sr. Stan em nossa
turma, mas desta vez como aluno ouvinte.

Não. Por favor, diga que meus ouvidos estão me traindo. Que diabos
Sebastian quer aqui? Aluno ouvinte? Ele não comentou nada comigo.

- Fiquem à vontade e me vejam como um de vocês. Faz tempo que não
frequento uma sala de aula, mas o tema de hoje me chamou atenção. Cantigas de Maldizer e de Escárnio, de Amor e de amigo. Parece interessante.

Sem o menor pudor, senta-se do meu outro lado, dando um cumprimento de
bom dia como se eu fosse apenas mais um aluno naquela sala. Franzo minha
testa em questionamento e ele apenas me oferece um sorriso, abrindo um
pequeno bloco de anotações enquanto observa a aula.
Ele está aprontando alguma.

- Ele está aqui por sua causa, Mary? - Tom pergunta.

Ele sabe que Sebastian e eu temos alguma proximidade, mas nunca toquei no assunto de que ele se tornou meu namorado. A conversa simplesmente não surgiu.

- Que nada. Ele deve estar realmente interessado no tema da aula -
desconverso.

- Se você diz... então, o que pretende fazer no fim de semana? Pensei em
te convidar para sairmos um pouco e...

- Silêncio, vocês estão me incomodando - Sebastian repreende Tom.

Meu colega de classe pensa em responder quando o interrompo.

- Acho que não tenho programa para o fim de semana, Tom. Talvez sair
um pouco seja tudo o que eu precise para esfriar a cabeça.

Provoco Sebastian, pois não estou engolindo essa história dele estar aqui
porque achou o tema interessante. Eu amo estar com ele, mas sua presença me oprime, às vezes.

- Você estará na editora esse final de semana, Mary. Os prazos estão
apertados e terá que fazer hora extra - ele fala, sem sequer olhar para mim.

Tom parece enfurecido com a intromissão dele, mas não replica, talvez por saber que se trata de meu chefe e não querer se meter em minha vida profissional.

- Me avise quando estiver livre. Vou preparar algo para nós.

Apenas assinto, sabendo que o homem do meu outro lado não está com
cara de bons amigos. Meu professor continua falando.

- Uma das características da literatura medieval são as cantigas divididas
em líricas e satíricas. Alguém poderia dar um exemplo?

Tom levanta a mão e o professor lhe dá a fala. Ele recita olhando para
mim e percebo que Sebastian está cada vez mais furioso.

“Senhora minha, desde que vos vi,
Lutei para ocultar esta paixão
Que me tomou inteiro o coração;
Mas não o posso mais e decidi
Que saibam todos o meu grande amor,
A tristeza que tenho, a imensa dor,
Que sofro desde o dia em que vos vi.”
- É uma cantiga de amor de Alfonso Fernandes, professor.

- Muito bem, Tom, linda cantiga. Quem poderia recitar outra?

Não. Sebastian não vai fazer isso. Ele se levanta e vira para o professor,
pedindo a fala. Este consente, então ele olha para Tom, antes de começar.

- Eu lembro de um trecho de um poema de Carlos Drummond de Andrade
que não é dessa época, mas acho que se adapta bem para um exemplo de
Cantiga de escárnio. É mais ou menos assim:
“Amor é um bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
O amor subiu na árvore
Em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
Que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
Às vezes não sara nunca
Às vezes sara amanhã”

Todos na sala aplaudem e eu fiquei procurando um buraco para enfiar
minha cabeça. Só eu que entendo o que está acontecendo aqui, minha gente?

Tom finge não entender e faz um gesto como se estivesse me entregando
uma flor. Eu fico sem saber o que fazer naquela situação e acabo entrando na
brincadeira, pegando a flor imaginária.

Pronto!
Isso é o suficiente para que Sebastian pegue meu material de cima da mesa e ofereça sua mão diante de todos para que eu o acompanhe.

Eu vou com ele apenas porque não suportaria uma cena maior, mas isso não vai ficar barato. Ele não tem esse direito de invadir minha sala de aula e
dar uma crise de ciúmes desse jeito.
Ah, mas não tem mesmo.

UM CEO PARA CHAMAR DE MEU - SEBASTIAN STANOnde histórias criam vida. Descubra agora