Capítulo 23

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Estou diante de um Luciano sério, que segura dois grandes medalhões de prata. Os objetos tem um formato circular, com um sol desenhado no centro. A corrente é longa e grossa.

— Tome, este aqui é seu. - entregou-me um.

— É algum tipo de medalhão da proteção? - perguntei, analisando o metal pesado.

— Não, são medalhões portais. São com eles que vamos viajar até a Floresta Cinzenta.

— Hmm, entendi - coloquei a corrente no pescoço; é muito pesado — E como funciona?

— Pense no lugar para onde estamos indo e peça para que o medalhão te leve até lá.

— Parece fácil.

— É fácil, contanto que você não deixe nenhum outro pensamento te distrair. 

— O que acontece se eu deixar?

— Você será teletransportada para só a mãe sabe onde.

Senti um arrepio na espinha, que percorreu para todo o resto do corpo.

— Tudo bem, então. Não vou me distrair.

Por favor Deus, por favor mãe, por favor universo, não deixem que eu me distraia.

— Não vai. Agora vamos. Te vejo na floresta.

— Espera…

Tarde de mais, Luciano simplesmente desapareceu, deixando uma forte luz para trás. 

Respirei fundo, numa tentativa de me acalmar. Não sei porquê estou tão nervosa. É só usar a mente, como já fiz de outras vezes, nada de mais. Mas ter que fazer isso sozinha me deixa apavorada. Poderia ser algo para fazer em conjunto, e não individual. E se eu fizer errado? E se eu me distrair?

Calma, Helena, você consegue. Para de ser Maria mole. Você consegue. Você pode. Você é capaz. 

— Beleza, eu consigo.

Fechei os olhos e me concentrei o máximo para pensar somente na Floresta Cinzenta. Pensei em todos os detalhes: nas árvores, na neblina, na pouca luminosidade e no cheiro; consegui visualizar tudo, como se já estivesse lá.

Agora é só pedir para ser teletransportada. 

Leve-me até lá, pensei.

Senti o meu corpo esquentar levemente, e também senti uma leve tontura. Está funcionando?

Logo, uma sensação horrível de como se eu tivesse me afogando, e o meu corpo estivesse sendo empurrado contra algum tipo de parede permeável. Não consigo respirar e não guardei nenhum ar de reserva. Por quanto tempo isso deve durar?

Começo a me desesperar e a pensar em mil coisas ao mesmo tempo. Várias imagens passam pela minha cabeça e eu não consigo mais focar no principal objetivo. Sinto o meu corpo sendo empurrado, puxado, prensado, desintegrado e reconstituído. Fico muito enjoada e não consigo impedir o meu estômago de se contrair, mas não sou capaz de por nada para fora, o que me causa muita ardência na garganta.

E depois, uma sensação de estar despencando, fazendo-me gritar muito alto.

Entretanto, não dura muito tempo, e logo o meu corpo se choca contra um chão duro e áspero. Caí como uma jaca podre e os meus braços e pernas e todo o resto dói. Esta foi a pior experiência da minha vida.

Após alguns segundos no chão, me sinto pronta para levantar. Checo o meu corpo e parece que tudo está em seu devido lugar. A roupa de couro que Luciano me deu protegeu-me de danos maiores. É uma roupa um pouco incômoda: muito justa, desenhando todas as minhas curvas e entrando em lugares indevidos. Em contra partida, Luciano disse que este trage protegerá o meu corpo de possíveis climas dúbios e impactos muito fortes, como a queda que acabei de tomar. Além de que é cheia de suportes e cintos para armas. Luciano prendeu uma espada em minhas costas, colocou uma faca em cada bota que estou usando, também de couro, e duas adagas em minha cintura.

Minha PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora