Capítulo 12

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O oráculo é uma mulher negra, velha e com longos cabelos brancos. Seus olhos são leitosos, e ela não tem boca. Talvez eu fosse muito covarde se contasse para os meus irmãos que estou tremendo de medo.

Acho que Natanael percebeu quando agarrei a sua mão com a minha cheia de suor.

--- Dama das estações. Sabia que uma hora ou outra apareceria aqui na minha casa. - falou a mulher com uma voz baixa e trêmula, dentro da minha cabeça.

Ela mora numa casa estranha. Não tem mobílias, apenas um tapete em que a dona do recinto encontra-se sentada em posição de lótus, no meio do que parece ser a sala. Seus olhos medonhos me analisam de cima a baixo e eu me pergunto como é possível que esteja me enxergando.

--- Então, ela é mesmo a dama? - Priscilla perguntou.

--- Sim.

Eu não sei porquê ainda tinha esperança de que eu não seria essa mulher.

--- Ela vai mesmo derrotar o rei do submundo? - dessa vez, Natanael perguntou.

--- Sim, ela vai. - disse o oráculo. --- Assim como diz a profecia, acontecerá.

Que loucura. É muito loucura.

--- Não tem como passar este cargo para outra pessoa? - perguntei.

--- Não. A profecia foi citada por um deus antigo, conhecedor de todos os tempos. E não há nada e nem ninguém que possa impedir de se concretizar.

Suspirei profundamente.

--- Eu não sei como será possível.

--- No momento certo saberá, Dama das estações.

--- Exatamente tudo o que está escrito vai acontecer? - o meu irmão mais velho perguntou com um tom preocupado na voz.

--- Sim.

Eu não sei se é porquê a minha ficha está começando a cair de verdade, mas o meu corpo está se preparando para fugir. O meu cérebro já está fazendo planos de fuga, e o meu coração está batucando uma música fúnebre, acompanhado dos meus pulmões que lutam para não explodir de tantas inspiradas profundas que estou dando.

Sinto um colapso nervoso aproximando-se. Mas também sinto a mão de Natanael apertar a minha. Talvez ele tenha percebido o meu nervoso, e isso de alguma forma me acalma.

--- Desejam saber algo mais? - perguntou o oráculo.

Percebemos que cada um de nós tinha se perdido em pensamentos e esquecido por um breve momento daquela mulher. Natanael soltou a minha mão e saiu. Priscilla foi logo atrás.

Eu me virei para ir embora também, mas antes que eu chegasse até a porta, a voz do oráculo me fez parar.

--- Não abandone o seu igual, menina. Sem ele, você acabará se perdendo.

--- Como assim?

Olhei para trás e ela sumiu.

O que ela quis dizer com "o seu igual"?

[...]

De volta para casa, os meus dois irmãos seguem na minha frente e andam em silêncio. Posso sentir que estão preocupados com alguma coisa. Eu sei que escondem mais coisas de mim, sei que não contaram tudo. Mas no momento estou muito cansada para tentar arrancar algo deles.

O dia está sendo muito doido. Foram muitas descobertas difíceis de fazer sentido para mim. Até à pouco tempo, eu era só mais uma jovem comum, fazendo besteira, com problemas familiares e tendo uma crise existencial.

Minha PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora