Ele chegou... 20

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Ó doçura da vida: Agonizar a toda a hora sob a pena da morte, em vez de morrer de um só golpe.

William Shakespeare


   

                 Meu corpo continuava inerte sobre aquele leito frio

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            Meu corpo continuava inerte sobre aquele leito frio . Olhar para meu rosto pálido, e meus braços magros,me fazia lembrar  da sala úmida  . Do tempo em que rastejava sobre o chão molhado , sem saber se estava viva ou se ja estava no inferno . Olhar o meu corpo ,me fazia pensar se eu queria mesmo voltar para dentro dele e sentir toda aquela confusão novamente.  Talvez eu nao  estivesse lutando o suficiente para viver, e só quizesse que soubessem que eu estava morta em algum lugar,e que aquela que estava viva era uma farsa .
      Uma vez eu ouvi ou li em algum lugar que,no planeta há pelo menos sete pessoas idênticas a nós. Mas mesmo Maya sendo idêntica,tendo feito as mesmas tatuagens e reprozido minhas cicatrizes,ela não conseguiu ficar igual . Caso ela piore e precise de uma transfusão de sangue por exemplo,vão descobrir que nossos tipos sanguíneos são diferentes. Nossas digitais,são diferentes,caso a prendam por algum crime que eu tenha cometido . E caso perguntem a ela ,algo que só eu saberia responder,ela vai ter que inventar uma boa desculpa para justificar sua resposta errada .
        Aquilo não me fazia odiar Maya,sentia um pouco de pena . Na minha vida a única coisa que salvava era as pessoas que eu tinha do meu lado ,pessoas que muitas vezes magoei, e feri de alguma forma . E olhando eles quando nao podiam me ver,percebi que eu os amava ,amava muito . Sentia falta do abraço do meu pai, de segurar na mão do Morte para andar na rua,como se eu fosse uma criança. O Kalango sempre dizia que eu era uma criança, quando eu estava brincando ou quando estava pirracenta .
       Meu corpo estava sendo removido para outro esconderijo, disseram que tinha mais segurança e melhores condições.  Que eu tinha grandes chances de me recuperar, os homens estavam animados .
      - Caso a gente consiga ,e ela se recupere. Acha que as mortes vão parar?
     - Não,mas caso ela morra elas vão aumentar e muito .
    - E nós seremos os primeiros a morrer .
    - Morrer Paulo ,quem se importa em morrer?
Morrer é o mínimo que a gente merece !
    - Mas e se ela morrer zé? Como a gente faz ?
     -Estamos fazendo o possível ,se ela morrer ,não faremos nada .
    Os dois conversavam tranquilos ,Paulo era quem dirigia a "ambulância ",  o outro ia no banco do passageiro fumando um cigarro . A estrada era diferente,mesmo sendo parecida com as outras . Era de terra vermelha, a poeira cobria as folhas das plantas que cresciam nas margens. Haviam florestas ,com árvores grandes e sujas de lodo , tão verde que brilhava sob o sol . E haviam pastos,longas áreas com pastagens cinzas, secas e murchas esperando pela chuva ,o vento balançava o pendão do capim ,derrubando as sementes para as aves que ja esperavam ciscando por ali . Observava cada detalhe,para saber como voltar ,caso não morresse .
       - Estamos chegando ,é melhor voce ir la para tras ficar do lado dela .
O homem que descobri se chamar ze, fez como o outro disse . Sentado do lado do meu corpo ,ele segurou minha mão,com muito cuidado .
     - Você consegue garota , já aguentou até aqui ,aguente mais um pouco !
   Ele parecia muito esperançoso,mas eu não estava . E ali , olhando meu corpo ,naquele carro em movimento ,percebi que eu não lembrava de como sai do hospital ,lembro de ter entrado la ,mas não lembrava de ter saido . Não lembrava quem havia me tirado de la,haviam policiais nas entradas ... Ou talvez não tivesse ninguém lá de guarda , aquilo nunca foi certo . Eu só confiava nos homens da minha familia , eles nunca teriam deixado levarem meu corpo ...nunca !
Só lembro de ja acordar fora do meu corpo ,o que aconteceu antes disso parecia que nem havia acontecido . De fato eu não lembrava de nada ...
       -Chegamos !
  Paulo abriu as portas , e ajudou o parceiro a descer meu leito ,e todas aquelas coisas que estavam ligadas no meu corpo . Não sabia o nome de nenhum daqueles aparelhos ,nem o que estava enfiado no meu nariz , fazendo o que eu não aguentava mais fazer . Eu não sabia o nome ,porque tempos atrás,vivia me vangloriando por nunca ter ido ao hospital doente , no máximo ia ao posto de saúde tomar vacina . Parece chato ,tantas frases soltas,lembranças sem muita importância,mas estavam tudo na minha alma,tudo se repetia...Aquilo sim ,era a tal da vida passando como um filme ! Para cada ocasião,existia uma lembrança...
         -Vamos levar lá pra dentro de uma vez? Ou vamos esperar ?
         - Vamos levar,ela não pode ficar exposta assim ,precisa estar num lugar bem higienizado .
        - O senhor manda!
   Ze ,guiava o leito pela estrada que levava até uma casa bonita . O barulho das rodinhas sobre o cimento bruto , me deixava estranha . Já tinha ouvido o mesmo barulho ,as mesmas rodinhas apressadas sobre uma superfície mais lisa do que aquela, talvez sobre o corredor do hospital ou sobre o asfalto lá fora ...eu não conseguia ver ! Mas lembrava do som ...
        - Esse quarto é bem melhor, não é no fundo de um porão escuro . Aqui ela pode tomar até banho de sol !
     Ze parecia animado ao andar pelo quarto ,o vento soprava as cortinas brancas , que pareciam bandeiras de paz  balançando entre as grandes janelas de vidro . Era uma vista linda, através das janelas ,grandes motanhas cobriam o Horizonte, grandes árvores cobriam as montanhas . O homem as vezes parecia tão simples ,que nada lembrava o mesmo homem que vi assassinar um menino num beco escuro ... Mas a verdade é que os monstros nunca se parecem com monstros ! Aqueles monstros feios dos filmes ,eu sempre achei que representam o nosso interior ,as coisas feias que a gente esconde ... Porque a aparência dos monstros ,são sempre de humanos normais !
       - Ele chegou!
Os homens seguiram para a varanda , um outro carro havia chegado . Ali dentro estava a pessoa por trás do meu "salvamento" e assim que eu visse seu rosto ,eu saberia dizer se confiava ou não.  E quando o homem saiu do carro , fiquei tão chocada que se fosse meu corpo físico teria infartado .
       -Kalango ?
   O garoto caminhava na nossa direção,vestido calça jeans preta, camisa da mesma cor ,e os chinelos rosa choque da vó Ginna .
Pela primeira vez eu estava vendo o garoto sério,seus olhos estavam mais intensos , eu conseguia ver pela primeira vez a escuridão dentro dele ,a escuridão que quase todo membro da familia carregava ... Minha alma estava sorrindo , mesmo se fosse destroçada no capitulo seguinte não importava ... Meu irmão estava lá,estava lá por minha causa !!!

 Meu irmão estava lá,estava lá por minha causa !!!

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Não descanso até terminar esse livro rsrs

Bjos fantasminha 😘😘😘

ALMAS PERDIDAS (Livro III)Onde histórias criam vida. Descubra agora