O friozinho na barriga foi inevitável quando o piloto havia nos informado que já estávamos sobrevoando em solo brasileiro.
Voltar para casa após sete anos, era como se aventurar no desconhecido. A sensação que eu tinha era a mesma de quando saí há anos atrás. Era estranho como eu me sentia turista na minha própria terra. Mas, sabe quando você finalmente volta para casa com seu sonho realizado e um gostinho delicioso de vitória? De que chegou lá? Era exatamente assim que me sentia ao desembarcar no aeroporto internacional de Guarulhos.Eu havia vencido!
- Mãe! - digo alto assim que vejo minha mãe me esperando no desembarque do aeroporto. Ao me ver ela sorri, e vejo em seus olhos saudades.
Ando apresada ao seu encontro e a abraço com todas as minhas forças. Minha mãe era meu alicerce, meu ponto de equilíbrio. E era maravilhoso revê-la após aqueles anos.
- Como você está linda minha filha! - ela diz alegremente me olhando dos pés a cabeça.
- Obrigada mãe! - digo sorrindo ao ver que os anos também haviam se passado para ela, pois, minha mãe já exibia seus lindos e longos cabelos grisalhos.
- E esse cabelo? - pergunta ela surpresa e encantada.
- Mudei a cor há alguns meses! - digo pegando uma mecha.
- E ficou lindo! - ela diz. Sorrio em resposta. - Você está mudada, diferente. Parece até outra pessoa!
- Posso até ter mudado na aparência, mas, continuo a mesma, mamãe! - digo. Ela sorri.
- Vamos, vamos. O Josué está nos esperando lá fora. - ela diz me apresando. Alguns hábitos não mudam, penso ao sorri.
Pego minhas malas e sigo grudada em minha mãe até a saída do aeroporto.
- Liliane, você está mudada. - diz Josué, o simpático motorista dos Modugno enquanto dirige. Assim como mamãe, Josué também havia envelhecido mas eu achava lindo a forma como eles lidavam com o passar dos anos, mostrando suas idades sem nenhum pudor.
- Só na aparência seu Josué, continuo sendo a mesma! - digo sentada no banco de trás ao lado de minha mãe.
Ele sorri.
- E como andam as coisas por aqui? - pergunto.- Tudo na mesma minha filha! Dona Giulia está ansiosa para vê-la. - diz minha mãe.
- E eu a ela! - digo. - E Carlo e Marieta? E o mal humorado do Matheo?
- Carlo continua trabalhando no hospital, e agora está morando junto com uma dançarina de dança do ventre! - me sinto surpresa.
- Não! - digo tirando sarro. - E dona Giulia não enfartou?
- Quase! Mas chegou perto... Marieta continua estudando moda e dando os mesmos trabalhos de sempre. - diz minha mãe sorrindo. Dona Giulia era bem dramática, e Marieta serelepe.
- E Matheo? - pergunto.
- Continua o mesmo de sempre! Nada mudou. Acho que, com a idade, só está um pouco mais rabugento! - diz minha mãe sorrindo e então rimos juntas.
Passei a minha vida toda morando com aquela turma.
Quando minha mãe foi trabalhar para os Modugno ela já estava grávida de mim. Meu pai, esse nunca conheci, nos abandonou, mas falta nenhuma me fazia. Tudo o que eu tinha como família era eles que sempre me trataram como parte da família, e eu era muito grata a todos. Dona Giulia e dr. Guiseppe foram para mim como mentores, sempre me ajudaram e me apoiaram, há quatro anos quando Dr. Guiseppe se foi, sofri muito, pensei até em voltar para casa, mas já estava quase na reta final da faculdade e não poderia desistir assim, e então, por ele eu continuei estudando e me dedicando, para honrar sua memória e seu investimento em mim.
E como toda família, tínhamos também os irmãos chatos. Por mais que eu e os filhos de dona Giulia nunca dissessemos abertamente que nos considerávamos irmãos, eu sabia que ao menos um sentimento bom existia entre nós.
Carlo, o do meio era mais achegado a mim. Bom, até antes de eu viajar, com a distância nos afastamos mas era normal. Por termos quase a mesma idade, eu tinha 25 Carlo 30, crescemos juntos, a diferença de 5 anos de certa forma nos ligava. Marieta a caçula, tinha só 23 anos. Apesar de sermos mais próximas em idade, sempre houve um distanciamento entre nós. Acredito que o nome disso seja, ciúmes.
Já Matteo, esse era o típico irmão bem mais velho. Nossa diferença era gritante. Dona Giulia engravidou dele ainda na adolescência, e um bom tempo se passou até que ela engravidasse de Carlo, 18 anos pra ser mais precisa. Nossa diferença de 23 anos era enorme e por isso, ele era mais como um tio pra mim.
E assim foi parte da minha vida.
E agora, eu finalmente estava de volta.
O carro adentrou por entre o grande portão da propriedade. Tudo continuava igual. Mas, bem conservado. Um pequeno caminho se seguia do portão até a frente da casa onde uma linda fonte jorava água sem parar, um sorriso leve e bobo se formou em meus lábios ao me lembrar que brinquei muito ali. Ao descermos do carro, vi que a fachada da casa havia passado por uma pequena reforma, estava mais moderna mas sem perder o encanto da rusticidade. Os Modugno eram assim, se apegavam as suas raízes italianas.
Subimos os quatros degraus até a porta de entrada da casa, e ao abrir a porta, dou de cara com dona Giulia, que parecia estar a minha espera.
Dona Giulia continuava como me lembrava. Apesar de seu rosto já dar traços da sua idade, ela se vestia muito bem, estava sempre linda com suas jóias e roupas sofisticadas. Seu cabelo loiro curto tingido penteado para o lado, lhe dava um certo charme, era sua marca registrada.
- Lilly, minha ragazza! - disse ela ao me ver.
Dona Giulia esticou os braços para mim e então caminhei até ela lhe abraçando num abraço apertado. A saudade era grande.
- Como você está linda! - disse ela ao me olhar atentamente. Sorri em resposta.
- E esse cabelo? - perguntou ela ao tocar em meu cabelo.- Eu falei para ela que ela está mudada! - ouço a voz de minha mãe vindo por trás de mim.
- Sim, mas, está linda! - disse ela ao tocar em meu queixo. O sorriso não saia de meus lábios.
- Vamos, vamos para a sala. - diz ela me puxando pela a mão. Dona Giulia era assim, se eu deixasse só ela falava.Mas como eu senti saudades disso!
Enquanto a sigo, olho para minha mãe que faz que sim com a cabeça. Nem que eu quisesse, poderia contrariar a incontrariavel, dona Giulia.
Seguimos até a sala de estar e nos sentamos lado a lado no sofá
- Minha querida, io sei que está cansada da viagem, mas, precisamos conversar um pouco. - faço que sim.
- Estou muito feliz Liliane e realizada também com você! Você aproveitou a chance que a vida lhe deu, e usou bem essa chance. Hoje você é doutora, formada e atuante na área nos Estados Unidos, isso é maravilhoso! - diz ela cheia de orgulho.Sorrio.
- E, sei que você poderia trabalhar em qualquer hospital que queira, seu currículo a ajudará nisso. Mas, como dona do Salvatore Modugno Hospital, gostaria de ter você, na nossa equipe!
Nesse momento, me senti no auge. Meu sonho em toda a vida era aquele. Trabalhar no Salvatore Modugno Hospital.
- Dona Giulia, se a senhora não me oferecesse essa vaga, eu mesma mandaria meu currículo para o hospital! - digo sorrindo.
Ela sorri.
- Acredito em você Liliane! Sei que é uma excelente profissional!
- Obrigada por sempre acreditar em mim! - digo. Ela sorri.
- Você é especial para nós Liliane! - diz ela com os olhos lacrimejantes.
- Agora, vamos nos animar porque você voltou! - diz ela tirando os requisos das lágrimas dos olhos.
- Só, tente sobreviver a Matteo, ele continua rabugento, ou pior! - diz ela.Sorrimos juntas.
E aí pessoal? O que estão achando? Conta pra mim... E não esquece a 🌟 estrela.
A partir de agora, a história irá se desenrolar. Bjs.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando O Amor Acontece
RomanceEle, é o filho mais velho de uma típica família italiana. Com quase cinquenta anos, Matheo dedica sua vida apenas a família e o trabalho. Ela, é filha única da governanta dos modugno, recém formada, volta para casa cheia de sonhos e esperanças. M...