Capítulo 3 Matteo 🚬❤️🩺

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Enquanto tomo meu café da manhã na companhia de minhas fiéis escudeiras, mama, Marieta e Ivete, vejo se aproximar uma desajeitada e atrasada Liliane. Por mais que ela houvesse mudado na aparência, algumas coisas não mudam. E a falta de pontualidade e seu modo desajeitado estavam nesta lista.

- Buon giorno! - diz ela ao se aproximar passando os dedos entre os cabelos ruivos que estavam soltos como se não tivesse tido tempo de pentear ou o arrumar antes.

- Buon giorno! - respondemos juntos (embora eu não tão no mesmo entusiasmo). Ela se senta ao lado da mãe.

- Ainda no se acostumou ao fuso horário bambina? - pergunta minha mãe. Liliane sorri.

- É vero! No acostumei ainda dona Giulia. - ela diz de forma terna. Reviro os olhos.

- Coma logo minha filha, ou vai se atrasar mais do que está! - diz Ivete colocando suco no copo da filha.

Era ridículo como uma mulher já formada em todos os sentidos da palavra ainda vivia assim, sem regras. Sendo ajudada pela a mãe.

- Matteo, dê uma carona a Liliane, Josué me levará até a igreja agora de manhã e no poderá levar ela. - diz minha mãe para minha surpresa.

- No precisa dona Giulia, grazzie Matteo! Posso pegar um táxi. - responde ela.

- Está bem! Resolvido. - digo ao limpar minha boca e me levantar.

- No, no! - diz minha mãe seriamente. - Matteo irá levá-la Liliane! E está resolvido. Vocês irão para o mesmo lugar, isso no faz sentido! Tu irás com Matteo. Agora vá! - ordena ela. Imediatamente vejo Liliane se levantar e pegar sua bolsa. - O que está esperando Matteo?! Vão! - ordena ela.

Pego minha pasta e vejo de canto de olho Marieta sorrir, ela parece se divertir com a situação, irmãs caçulas! saio daquela sala sem olhar para trás.

Sigo para a frente da casa e entro em meu carro. Liliane faz o mesmo se sentando ao meu lado. E assim, seguimos.

Liliane

Era estranho estar no mesmo ambiente que Matteo. Apesar de crescer na sua companhia, eram raras as vezes que ficavamos a sós no mesmo lugar. Não tínhamos nada em comum, nenhum assunto, nenhum pensamento, nada. Éramos dois estranhos que apenas dividiamos o mesmo teto. E agora mais do que nunca era assim que éramos, estranhos. 

Matteo dirigiu até o hospital completamente calado. Com seus óculos escuros no rosto, ele em nenhum momento me olhou, ou trocou sequer uma palavra.

Eu sabia que o filho mais velho dos modugno era um tanto reservado. Matteo nunca foi do tipo sociável. Sempre preferiu sua própria companhia, e disso eu sabia bem. Deveria ser pelo o fato dele ser mais velho, mais vivido, mais experiente. Com certeza já havia passado daquela fase.

Chegamos no hospital e após uma despedida silenciosa de Matteo, me dirijo até o RH. Após assinar alguns papéis, sou direcionada até a sala de um tal dr. Manoel, o chefe da pediatria. E após alguns instantes, ele me recebe.

- Fico muito feliz em saber que finalmente Matteo encontrou alguém para me ajudar! -  ele diz de forma simpática quebrando o silêncio. Sorrio sem graça. - Seja bem-vinda Liliane!

- Obrigada dr. Manoel! - digo. Ele sorri.

- Bom, então vamos começar?!

- Ah, claro! - digo. Ele se levanta e eu também.

E assim, dr. Manoel me apresenta toda a ala da pediatria. E inclusive me direciona até minha sala que ficava no mesmo corredor que a dele. Após me instalar, me preparo para começar meu primeiro atendimento. Eu estava nervosa, mas, era a realização de um sonho.

Meu plantão foi cansativo, confesso. 14 horas de trabalho. Eram 10 horas da noite e eu já estava um caco. Retiro meu jaleco e o coloco sob minha mesa, pego minha bolsa e apago as luzes da sala, e assim sigo para fora do hospital.

Apesar de ser tarde, a rua estava bastante movimentada. E eu, tentava encontrar um táxi para voltar para casa.

Matheo

Em meus pensamentos, estavam apenas meu charuto cubano, minha meia taça de vinho seco e Andrea Bocelli aliviando o silêncio do ambiente. Mas, a realidade era bem diferente. Após 14 horas trabalhadas eu apenas queria tomar um bom banho e dormir, pulando todo o meu ritual noturno.

Ao sair do estacionamento do hospital, passando em frente a ele, vejo de relance Liliane parada. Aparentemente ela espera por um táxi. Passo devagar a sua frente e noto que ela não percebe que sou eu. Me sinto aliviado, eu simplesmente não suportaria mais alguns minutos em sua companhia silenciosa. Mas, a medida que me afasto, a vendo pelo o retrovisor do carro ela lá parada a espera de um táxi, me levo a pensar.

Pode ser perigoso para ela ficar ali sozinha aquela hora da noite. E se ela pegar um táxi e o motorista for um pervertido? O mundo está muito mal nos dias de hoje.

Não! Isso não era da minha conta! Retraío esses pensamentos.

Mas, se mamãe souber que ela voltou sozinha pra casa...

Maldição!

Dou ré no carro e paro bem a sua frente. Ela olha atentamente para o vidro fumê do carro, e então eu o abaixo.

- Entra! - digo a olhando.

Ela olha de um lado para o outro, percebo que está a procura de um táxi, ao menos eu não era o único que não queria que aquela carona acontecesse. E então, como se soubesse que era aquilo ou nada, ela abre a porta e entra.

- Obrigada! - diz ela ao colocar o cinto. Apenas faço um leve sinal com a cabeça e então seguimos, de volta para casa.

Eu era sim um quase cinquentão solteirão e caladão. E gostava disso. Da minha vida exatamente como era, do jeito que era. Mas a minha vida não foi sempre assim.

Na juventude, fui muito sociável, durante o tempo de faculdade, namorei, beijei muito, transei bastante também, e curti muito minha juventude. Mas, eu nunca quis me apegar a alguém. Namorava sério, era fiel, mas, nunca levei qualquer relacionamento a diante. Não sei bem como explicar, mas, parecia que não existia mulher certa para mim.

A mulher certa.

E assim os anos foram passando... E quando dei por mim, apenas meu charuto cubano, um bom vinho italiano e Andrea Bocelli eram minhas companhias fiéis.

E sim, eu estava muito satisfeito com isso!

Quando O Amor AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora