A casa dos Modgno sempre foi barulhenta, movimentada e cheia de alegria. No entanto, ao adentrar na sala de estar da casa junto com Marieta e ver todos ali rindo, conversando e animados, percebi que estávamos no mesmo clima de antes, quando éramos todos crianças e dávamos muito trabalho ali.
- Elas chegaram! - dona Giulia diz em alto e bom som como uma típica italiana ao nos ver adentrando.
E todas as atenções se voltam para nós.
- Lilly! - Carlo diz ao se aproximar.
- Não acredito que é você mesma! - ele diz ao me abraçar.
- Quanto tempo pirralha! - seu abraço é apertado.- Estou feliz em te rever Carlo! - digo.
Ele se saí do nosso abraço.
- Você está linda! - seu elogio me faz corar.
- Obrigada! E, sua namorada? Não vai me apresentar?! - tento mudar o rumo da conversa.
- Ah, claro! Poliana, venha. - ele diz ao estender mão na direção dela.
A bela morena de olhos escuros e cabelos negros se aproxima sorridente e me olha. Vejo que Carlos tinha sim muito bom gosto com as mulheres, sempre teve.
- Então essa é a famosa Liliane! - Poliana diz ao me cumprimentar com um beijo na bochecha.
Sorrio sem graça.
- Espero que Carlo tenha falado bem de mim! - digo.
Poliana sorri.
- Sim, muito, por sinal! Nos últimos dias ele não parava de falar em você! Na sua volta para casa, nas lembranças de infância, em como vocês eram ligados... "Liliane para mim é uma irmã" ele sempre diz. - e foi aí que pisei os pés no chão. Parei de voar.
Uma irmã. Sempre foi assim que Carlo me viu. Era assim que eu era para ele, uma irmã. E isso sempre ficou claro entre nós, no entanto, para mim, Carlo sempre ocupou uma parte do meu coração nunca explorada antes, uma parte que pertencia apenas a ele, uma parte que mesmo com o passar dos anos ainda pertencia a ele. Que sempre foi dele.
- Sim, nós somos como irmãos! - digo forçando um sorriso.
- Agora que estamos todos devidamente apresentados, vamos ao que interessa, o jantar e depois uma animada aula de dança do ventre! - dona Giulia nos interrompe.
E assim, sendo salva pelo o gongo, nos dirigimos até a sala de jantar da casa, nos assentamos ao redor da mesa tendo Matteo na cabeceira da mesa como um verdadeiro patriarca, dona Giulia a sua direita acompanha por Marieta, mamãe e eu, e do outro lado, Carlo e Poliana.
O jantar seguiu num clima mais animado e tranquilo, com muitas risadas, conversas paralelas, e vez e outra eu era colocada no assunto e assim falava alguma coisa e só.
Rever Carlo, ver o quanto ele estava bem, feliz, realizado, me fez perceber ainda mais que eu nunca tive e nunca terei espaço em sua vida. Carlo nunca me deu um espaço a mais, nunca permitiu que eu ultrapassasse a linha da amizade, da irmandade, da cumplicidade que havia entre nós. E por mais que eu houvesse passado a vida toda nutrindo um amor secreto, naquele momento eu me dei conta que a vida havia passado, andado, e eu continuava como estava, parada no mesmo lugar. Na mesma posição de quando eu saí dali há anos atrás.
Logo após o jantar a aula de dança do ventre começou. Com uma espécie de saia enrolada nos quadris, as mulheres da casa, exceto minha mãe que só ria da situação, tentávamos obedecer as ordens de Poliana e assim seguir suas instruções. Carlo e Matteo ficaram de longe na sala de estar conversando algo que parecia ser sério. Até que em certo momento, depois que tudo aquilo passou, enquanto todas conversavam e comiam petiscos, eu consegui sair de fininho e fui me refugiar no meu lugar preferido para ficar sozinha, a piscina da casa que ficava nos fundos da mansão.
Sentada na beira da piscina com os pés dentro da água, enquanto sentia a brisa fina balançar meus cabelos, fechei meus olhos ao recostar minha cabeça para trás e assim me permiti ser dura comigo mesma enquanto eu internamente brigava com minha parte mais frágil e sensível. Eu sabia que precisava parar de ter certas esperanças como aquelas.
Até que, após alguns minutos, ainda de olhos fechados sinto um aroma familiar no ar. Tabaco e vinho. Só havia uma pessoa que exalava aquela fragrância sem soar pesada as narinas, Matteo.
Ao abrir os olhos e virar minha cabeça para o lado esquerdo o vejo parado com uma taça de vinho em uma mão e seu charuto na outra.
- Desculpe se te atrapalhei! - ele diz após breves instantes.
E então ele se vira fazendo que ia sair dali.
- Não atrapalhou, e... Se quiser, pode ficar. Acho que, estou precisando de companhia! - digo sem nenhum pudor.
Matteo me olha atentamente.
Por breves instantes penso que fiz de novo, ultrapassei aquela bendita linha que sempre houve entre nós, aquela linha que os homens da família faziam questão de manter comigo. Mas então, sou surpreendida quando ele nada diz, apenas se aproxima, se agacha ao meu lado, se senta na beira da piscina junto a mim e assim como eu, coloca os pés para dentro da água. Enquanto eu o encaro ele olha fixamente para a frente, para a água.
- A água está fria! - ele diz, e em seguida dá uma tragada no charuto.
- Um pouco! - digo o olhando.
- O que te aborreceu agora? - sua pergunta é certeira.
Engulo em seco. Ele continua a encarar a água.
- Te conheço desde que nasceu Liliane, sei que quando está aborrecida se isola, gosta particularmente de vir para cá! - sua explicação me deixa sem palavras.
Matteo então me encara.
- Também sei que gosta do Carlo! - meu espanto é ainda maior.
- Sei que sempre gostou e que ele nunca notou isso... - ele olha para a água novamente.
- Carlo sempre foi assim, desatento. Nunca enxergou um palmo á frente do nariz! - ele conclui.- Não, eu...
- Não precisa mentir pra mim! - ele me olha.
- Só acho que, essa noite você já viu com seus próprios olhos que Carlo já fez sua escolha!Sem ter palavras para dizer apenas faço que sim com a cabeça. Matteo volta a encarar a água.
- Se importa? - pergunto ao tocar na taça de vinho.
Matteo nada diz apenas me permite pegar a taça. E assim, bebo um generoso gole de vinho e em seguida lhe devolvo a taça.
- Por que você nunca casou? Ou construiu algo com alguém? - arisco a pergunta.
- Por que talvez eu seja como Carlo, não enxergue um palmo á frente do nariz! - ele responde me olhando.
Aquela frase deixou um enigma.
- E você? - ele me pergunta.
- Vai esperar o tempo passar e se ver como eu? Velha, sozinha e arrependida?Engulo em seco.
- A vida passa, o tempo voa, o destino segue seu curso... - ele conclui.
Nunca imaginei que seria logo Matteo a me dar um chacoalhado.
- Tem razão! - digo olhando nos azuis de seus olhos.
E assim, me atrevo a fazer algo que nunca pensei que seria capaz na vida. Me aproximo de Matteo e olhando dentro de seus olhos toco seus lábios com os meus. E assim, tendo a lua cheia como testemunha, o beijo.
Eu definitivamente estava ficando louca.
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Quando O Amor Acontece
RomansaEle, é o filho mais velho de uma típica família italiana. Com quase cinquenta anos, Matheo dedica sua vida apenas a família e o trabalho. Ela, é filha única da governanta dos modugno, recém formada, volta para casa cheia de sonhos e esperanças. M...