Um Reino deve sempre adorar o seu rei, sempre que ele for justo, responsável, mas nem sempre é assim!
O reino de Arthur estava sendo um dos mais sombrios em anos, seu povo o achava tão esquisito, mesmo que ele cuidasse de tudo para que o povo ficasse seguro, para que todos vivessem bem, sempre haveria aquela névoa densa de desconfiança sob ele.
O castelo dele era belo, mas proibido, ninguém entrava naquele castelo, a não ser os empregados mais fiéis de Sua Majestade, somente eles sabiam do segredo mais profundo e doloroso do Rei, seu pacto com o sangue que havia feito para os protegerem da guerra havia o tornado uma aberração, precisava beber sangue, era como uma tortura eterna, o Rei saía durante a calada da noite pela floresta para poder se alimentar de animais.
Fizera uma promessa a si mesmo quando se tornou aquilo, prometera nunca tomar uma gota de sangue humano, ainda mais de seu próprio povo, aqueles quem deveria cuidar, poderia passar fome e se torturar por dentro, mas nunca cometeria tal ato, até que um homem adentrou-se na história, até que Gaspar apareceu em sua vida, e a virou de ponta cabeça.
Ele tentou de todas as formas se esconder de seus fiéis, mas ele havia o visto, céus, ele parecia um anjo e havia o visto como aquela aberração, era irônico, viu-o morder um cervo em meio a floresta escura, o viu chorar de fome e se revirar tentando se manter são, Gaspar havia o visto agonizar sozinho em uma floresta enquanto tentava se alimentar com algo que não parecia fazer tanto efeito.
E diferente de qualquer outro que o visse, Gaspar sentiu seu coração apertar, ele o viu sofrer sozinho ali, somente eles, para que todos se mantivessem a salvo, não existia prova de coragem maior que aquilo, seu coração acelerou com tal pensamento, aquilo era tão injusto, com uma pessoa tão boa...
Soube que dias depois Gaspar tentou entrar no castelo, pela manhã, alegando necessitar urgente de uma audiência com seu soberano, que lhe foi negada de primeira pelos empregados e servos.
Ele tentou duas, três, quatro vezes, durante dias e eles nunca o deixavam entrar, até que ele havia se cansado e falado com a arrumadeira chefe em frente ao grande portão do Castelo.
- O que faz aqui, senhor?
- Sei que o vi na calada da noite, sei que era Vossa Majestade, por favor deixe-me entrar! - Disse o mesmo, simples e direto vendo os olhos da arrumadeira se arregalarem e ele finalmente conseguir entrar no castelo, como os anos haviam passado e ali continuava tão nostálgico, porém estava cinza, sem cor, sem vida.
Gaspar foi levado para o grande salão real e ordenado a esperar ali, com o aviso de que o Rei já iria comparecer, e ali ele observou o trono vazio lembrando-se quando viu Arthur pela primeira vez, e ele corou.✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
Arthur nunca havia ficado tão desesperado em toda sua vida, havia sido visto em seu estado mais deplorável, mais horrendo, mais sujo, e mesmo assim aquele dia ficara martelando em sua mente, uma única pergunta perturbava seu sono:
Por que ele não fugiu?
Ele reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar que fosse, desde de criança quando os viu, ele nunca esquecera daquele garoto, que quando pequeno lhe ofereceu uma flor junto de uma garota em um orfanato, o garoto que havia o visitado em sonhos durante tantos anos de sua vida, e ali estava ele, frente a frente com seu Rei, uma besta, uma fera, um monstro.
-V-vossa Majestade... - ouviu a voz dele e num susto se levantou, seu estado era tão deplorável que ele sentira vergonha, seu rosto estava molhado com lágrimas e ele sentia fome, não conseguiu raciocinar direito quando viu aqueles olhos acompanhados daqueles cabelos tão belos, ele fugiu, para dentro de seus portões, para dentro de seu castelo solitário, para longe do cheiro dele que se tornou assustadoramente bom.
E alí estava ele, em pânico pois ele havia ido ao castelo, e agora estava ali, esperando por ele no salão do trono, ele não poderia mais fugir, não dele, seu segredo mais profundo havia sido descoberto, e a culpa era dele, ele teria de ir.
Seus passos foram rápidos até o salão do trono, mas seu caminho parecia ter durado horas de agonia até chegar lá, mas depois que os servos abriram a porta e ele entrou não conseguiu continuar, ele havia travado, a criança que havia visto se tornara um homem, e céus como ele se igualava a um anjo, sua pele parecia porcelana de tão delicada, seu cheiro era forte mesmo que estivessem tão longe um do outro, era diferente, diferente do cheiro do sangue dos criados e servas, dos animais, parecia um perfume, que o puxava inconscientemente para perto cada vez mais.
E então ele o viu, com bochechas rosadas e envergonhado, ele admirava o teto e os desenhos que ali haviam, era uma visão muito bela.
Se aproximou devagar do mesmo que o olhou diretamente, não queria assusta-lo.
-Vossa Majestade! - Ele se curvou imediatamente, Arthur não conseguiu não olhar os cabelos longos do mesmo que caíram de seus ombros quando se abaixou, eram tão dourados quanto os raios do sol.
-Levante-se... - Então viu ele se levantar vagarosamente o olhando confuso porém acatou a ordem, mas não o olhou diretamente, continuou a fitar o tapete vermelho sob seus pés, se aproximou mais do loiro - Já esteve dentro do castelo antes? - A reação dele foi engraçada, estava confuso mas ainda sim não o olhava nós olhos.
-Estive sim, Vossa Majestade! - Arthur suspirou e parou ao lado do mesmo.
-Não precisa ser tão formal! - Observou agora mais de perto, como as maçãs do rosto dele eram redondas e os lábios bem curvados, corou com tal pensamento, anos de diferença o deixaram incrivelmente belo - Sei que me viu na floresta, sinto muito por ter visto tal atrocidade! - Agora ele finalmente o olhara nós olhos, mas sua expressão era totalmente diferente do que a que ele esperava.
-Não há atrocidade alguma, meu senhor. Fez o que pôde para nos manter a salvo durante a guerra, nem em mil anos poderíamos recompensa-lo por tal ato, isso é uma triste reação ocasionada por tentar nos proteger! - Havia um brilho em seus olhos e a cada palavra proferida por ele, Arthur sentiu seu coração acelerar, estava chocado com aquela reação, jamais esperaria por essa resposta.
-Lhe ofereço o que quiser, mas por favor não conte a ninguém sobre o que viu. Peço que guarde esse segredo em seu coração, diga-me o que quer, e em troca desse segredo, eu lhe darei qualquer coisa! - Falou vendo o mesmo entrar em conflito, uma mecha de seu cabelo havia caído e ele teve de se segurar para não pegá-la e aprecia-la.
-Vossa Majestade, não posso negar que tenho necessidades e desejos, mas não posso aceitar, é tentadora sua oferta, mas jamais o trairia! - Ele havia juntado ambas as mãos e o encarado, com convicção e astúcia, aqueles olhos azuis focados eram hipnotizantes.
-Viu uma das coisas que eu mais tenho repulsa, serei honesto com você, essa guerra me tornou um monstro! - Apertou os lábios e continuou - Se o povo souber disso, não confiaram mais em mim... Por favor aceite meu pedido, faço qualquer coisa! - Se aproximou e segurou ambas as mãos dele, que arregalou os olhos em surpresa - Te deixarei pensar sobre o pedido, mas antes quero que me responda algo!
-Claro, meu senhor! - O viu dizer ainda surpreso pelo toque em suas mãos, eram macias e delicadas.
-Por que veio até o castelo se pretendia não dizer nada a ninguém? - Fitou os olhos cintilantes do mais alto.
-Queria ter certeza que Vossa Majestade estava bem... - Agora quem estava surpreso era Arthur, Deus o ajude, agora que ele jamais o deixaria ir embora sem recompensa-lo, tão encantador, se afastou do mesmo e caminhou sem rumo pelo salão.
-Ainda lembro quando o vi pela primeira vez, não é somente de hoje que o conheço! - Disse observando o próprio trono - Já fazem anos!
-Muitos anos! - Sussurrou baixinho e então Arthur se virou.
-Você se lembra? - Fitou o rosto do loiro com curiosidade visível, mas então sorriu em resposta - Então pense sobre minha oferta... lhe darei um título e um cargo nobre, poderá viver aqui, lhe peço que pense a respeito.
Ele o guiou novamente pelo castelo, dessa vez sem nenhum servo ao seu lado, fez questão de o acompanhar a todo momento até o grande portão do castelo, e antes dele se afastar para longe, viu a figura angelical voltar-se para si.
-Eu genuinamente não o temo, meu senhor... - Então ele levantou o olhar, olhando no fundo de seus olhos - Há bondade em seu coração, sei que o bem de seu povo sempre estará em primeiro lugar! - Ele sorriu tímido, era discreto, mas para Arthur era muito precioso.
-Antes que vá... - Esticou a mão a ele mas abaixou logo em seguida - Diga-me seu nome! - As sobrancelhas dele de levantaram e então ele ajeitou a postura e se curvou levemente.
-Chamo-me Gaspar, meu senhor! - Ele sorriu mais, os lábios curvados da forma mais linda que já havia visto algum dia, esse sorriso acabou contagiando genuinamente o Rei, que também sorriu abertamente e se despediu.
-Até breve, Gaspar! - Acenou gentilmente para o mesmo que se afastava lentamente.
-Até breve, meu Rei! - Acenou delicadamente com a cabeça e se afastou do castelo, Arthur voltou, lentamente, para seus aposentos e ao chegar lá, foi em direção de sua janela e observou a cidade dali de cima, as pessoas se deslocando nas ruas, e ansiosamente iniciou seu tempo de espera, seriam três dias para que Gaspar pedisse algo a ele, mas ainda sim ele o faria ficar, os olhos azuis e brilhantes haviam o passado tanta confiança, jamais poderia deixar alguém bom como ele se perder entre seus dedos.
O cheiro dele era intensamente bom mas ele sabia que jamais deveria machuca-lo, havia uma promessa para cumprir, além de que Gaspar era belo e encantador, tê-lo em sua corte seria melhor para sua imagem com o povo, com os negócios e poderia ter companhia durante os dias, traria também a garota que o acompanhava quando menor, Arthur lhe daria o melhor que conseguisse, ele havia sido visto como uma fera e não foi julgado, ao invés disso havia sido completamente acolhido.
Ele não poderia deixa-lo viver na miséria, tornaria sua vida confortável, luxuosa se ele quisesse, mas jamais o desampararia, não depois do que havia escutado daqueles belos lábios, não depois de se sentir bem após de anos de solidão e sofrimento.
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✠ • 𝐁𝐞𝐚𝐬𝐭 • ✠ - Au Danthur
FanfictionOnde Gaspar, um plebeu, vê Sua Majestade sozinho no meio da floresta na calada da noite. Ou Onde o Rei Arthur se torna um vampiro, sendo torturado pelos desejos ocasionados por um ritual. Os personagens pertencem a série de RPG Ordem Paranormal, som...