« Três Dias »

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✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶


Gaspar estava na sala do trono, ele estava lá dentro, sozinho e pensando o que ele estava fazendo ali, repensou muito sobre o que tinha ido fazer ali e que desculpas dar para que não fosse executado, mas quando o viu entrar no salão, esqueceu-se até como era seu nome.
Então ele se curvou o mais rápido que pode, e então ficou surpreso, o Rei estava calmo, pacífico, o perguntando sobre estar no castelo em tempos passados, ele estava exatamente ali em sua frente, e Gaspar mal conseguia completar uma frase inteira.
Doeu vê-lo se declarar como uma aberração e pedir imensas desculpas, não poderia ser possível, uma pessoa tão boa sofrer tanto em consequência de tentar salvar o próprio povo.
E então ele lhe concedeu um desejo, ele poderia pedir qualquer coisa e receberia somente para ficar em silêncio, ele poderia usar o pedido para não ser expulso do trabalho, ou para ter dinheiro pra que não faltasse comida para ele e Lilian, qualquer coisa...
Mas então lutou contra os próprios desejos, contra as próprias necessidades e negou a oferta do Rei, parecia um cúmulo para qualquer pessoa que visse esta situação, mas pra ele não, nunca o entregaria para o povo, não trairia seu Rei, jamais iria aumentar mais a tortura daquele coração tão puro.
E foi tomado pela surpresa quando Sua Majestade segurou suas mãos, ele estava tão perto quanto jamais esteve em toda sua vida, era uma honra, mas logo foi tirado de seus pensamentos com uma única pergunta.
-Por que veio até o castelo se pretendia não dizer nada a ninguém? – Ele olhava fixamente os seus olhos, precisou criar coragem e explicar, tentando ficar o mais calmo possível.
-Queria ter certeza que Vossa Majestade estava bem... – Então o viu soltar suas mãos e caminhar pelo salão do trono, que era realmente belo, não houve um único baile após o fim da guerra, estava sendo um ano bem melancólico para todos, principalmente para Arthur, que vivia sozinho dentro dos muros de pedra que protegiam seu castelo.
E então para novamente a surpresa do loiro, o Rei lhe confidenciou que o reconhecia, mesmo após longos treze anos, ele lembrava de pedir para que o pai, Rei Brulio, parasse a carruagem, lembrava de descer e correr até ele e Lilian e pegar as flores que eles haviam pego para aquele evento, um dia impossível de se esquecer, um dos melhores dias de sua vida, ficou envergonhado e realizado, Sua Majestade o reconhecia...
O Rei voltou sua atenção novamente a ele e falou sobre a oferta, deixando ele pensar sobre ela durante três dias, e então se ofereceu para acompanha-lo até a saída do castelo, o de olhos azuis jamais imaginaria receber essa atenção de seu soberano, era um órfão, abandonado, que se virava e contava com a pura sorte para sobreviver, e ali estava, se despedindo gentilmente de Sua Majestade, era surreal, era como um sonho, que começou como um pesadelo para Arthur.
E quando estava pronto pra lhe dar adeus, ele foi parado novamente – Antes que vá, diga-me seu nome! – Sentiu seu coração se atropelar nas próprias batidas, dessa vez não conseguiu esconder sua surpresa e ânimo, fez uma reverência e então lhe disse:
- Chamo-me Gaspar, meu senhor! – Sorriu, o sorriso mais sincero que qualquer outro de sua vida, genuíno, inesquecível, e após uma despedida sorridente, ele se afastou do castelo, e caminhou em direção a sua casa, sorrindo para as crianças que corriam pelas ruas, para os comerciantes, e para Lilian quando chegou em casa e se sentou no chão.
-Que sorriso é esse? – Observou-o de relance, enquanto costurava um de seus vestidos.
-Acabo de voltar do castelo... – Olhou para o nada, pensando ainda na oferta, e na lembrança.
-AI MEU DEDO! – Ela soltou a agulha com raiva – O que foi fazer lá? Por que não me conta o que viu na floresta? – Ela segurou a agulha novamente e continuou a remendar o vestido.
-Não posso... Mas tem algo que precisa saber...
-O que foi? – Ela o olhou imediatamente.
-O rei me ofereceu uma oferta... – Suspirou se virando para ela – qualquer coisa, podemos pedir algo e ele me dará, eu recusei mas ele insistiu... – Ela fez uma careta e alongou as costas, que pareciam doer por ficar tempo demais costurando as roupas de ambos os dois.
-E então? – Levantou as sobrancelhas o instigando a continuar.
-Tenho três dias para lhe dar uma resposta! – Apoiou as costas na parede, suspirando – Duas cabeças pensam melhores que uma, o que podemos fazer? – Observou ela rir e o olhar, percebendo grandes olheiras abaixo de seus olhos.
-Deveríamos aceitar, um pouco de dinheiro está bom, não precisa ser muito, pagaremos as dividas e conseguiremos nos alimentar melhor! – Apoiou o corpo sobre os braços – Talvez assim conseguiremos sair dessa tormenta diária!
-Tudo bem! – Ele falou cruzando os braços e fechando os olhos – O faremos então!
-Deve ter sido sério o que quer que tenha visto lá! – Ela falou guardando as agulhas e linhas em um pequeno cesto e o colocando de lado e se sentando ao lado de Gaspar, imitando o mesmo e cruzando os braços – Pelo menos podemos ganhar algo!
-Por causa do seu pássaro que resolveu fugir do meio da noite pra floresta! – Abriu os olhos e viu a mesma o imitando.
-Ele estava com fome, não é Orpheu?! – Ela falou sorrindo e vendo o pássaro voar e pousar em sua cabeça e olhando diretamente para Gaspar.
-Que medo! – Riu do pássaro que havia agora voado para o colo dela – Ele parece uma coruja! – Esticou a mão devagar e acariciou o animal que fechou os olhinhos.

✠ • 𝐁𝐞𝐚𝐬𝐭 • ✠  -  Au DanthurOnde histórias criam vida. Descubra agora