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Gaspar sabia o que acontecia toda quinta feira, ele havia o visto na floresta justamente esse dia, ele sabia que Arthur iria sair escondido do castelo, e sabia que a escadaria pro quarto dele era ao lado do seu, ele não conseguia dormir sabendo que Arthur iria ficar sozinho na floresta e desprotegido, como aquela expressão de angústia, desespero e dor...
Ele sabia e ficava todas as quintas esperando ver aquela sombra passar por baixo de sua porta, e esperava a mesma voltar, nem que durasse horas e horas, ele o esperaria para ter certeza que estava bem, ele o esperaria para ter certeza que estava vivo.
E assim foi feito em segredo, todas as quintas Gaspar não conseguia dormir até ver que Arthur tinha retornado a seu quarto, são e salvo, tudo por culpa de uma guerra travada pelo país vizinho, tudo por culpa do antigo Rei de Ostebrød, que acabou deixando Arthur sem opções e se tornando isso, sendo torturado muitas vezes para que pudesse salvar seu povo de um ataque, Gaspar jamais conseguiria entender sua dor, Arthur era uma pessoa boa demais para sofrer daquele jeito.Ele havia percebido que Ágatha tentava de tudo para amenizar os sintomas do efeito colateral do ritual que Arthur fez, mas nada conseguia diminuir a vontade de sangue que ele tinha, ele estava ficando mais desanimado a cada dia, mesmo que tentasse com todas as forças esconder dos irmãos, Gaspar via em seus olhos cansados, olhos que pareciam pedir ajuda, olhos sofrendo em silêncio.
O inverno tinha chego e ele havia saído com Lilian para comprar roupas quentes para o frio e cobertores, iriam levar alguns a Gal que pareceu se acomodar bem em sua nova casinha, ele estava tão animado com as coisas que Lilian e Gaspar haviam levado que quase chorou novamente.
-Como você está? - Perguntou Gaspar se sentando no chão sem nenhuma preocupação.
-Estou trabalhando, sou um aprendiz de alfaiate! - disse muito animado - tenho aprendido a fazer trajes comuns, logo estarei fazendo trajes para festas e bailes! - Falou animado se sentando também, juntando as pernas e as abraçando.
-Você tem que aprender bem rápido para fazer as nossas roupas, quando tiver um baile enorme maravilhoso e aí todos vão ficar "Com licença milady, quem foi seu alfaiate? Esse vestido é simplesmente incrível!" - Lilian imitou as pessoas da alta sociedade fazendo os dois ali rirem, sentando no meio dos dois e os puxando para um abraço.
-Você faria os nossos trajes? - Gaspar perguntou sendo enforcado por um braço de Lilian enquanto ela os puxava para trás e de deitava no chão, com cada um deles deitado sobre o ombro dela.
-Seria uma honra, vocês tem me ajudado tanto! - Ele se acomodou no ombro de Lilian, olhando para o teto - Obrigado pelos presentes!
-Jamais deixaríamos você ficar aqui no frio, Gal! - A mesma deu um beijo delicado no topo da cabeça dele que deu um sorriso.
-Você é um de nós! - Gaspar beliscou a barriga dele, fazendo-o se revirar e gargalhar.
-Vamos comemorar o Natal, a data está se aproximando! - Lilian começou a fazer cafuné em Gal e em Gaspar, que observavam o teto deitados.
-Vai ser o melhor Natal em anos! - O de cabelos escuros sorriu fechando os olhos.
-Pra nós também! - O loiro suspirou, pensando em Arthur, corou sorrindo bobo, talvez pudessem comemorar o Natal com Gal no castelo, seria incrível.
-É bom ter vocês de volta! - Gal abraçou Lilian de lado, com lágrimas nos olhos.
-Não me faz chorar seu bobo! - Lilian falou começando a chorar junto e puxando os dois pelo pescoço em um abraço apertado.
-LILIAN! - Gaspar falou rindo segurando o braço da mesma e arregalando os olhos.
-LILIAN NÃO RESPIRO! - Gal disse desesperado e rindo do desespero de Gaspar, era bom estar novamente com quem crescerem juntos, era bom terem alguém a mais na família.✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
Ao chegarem no castelo os irmãos passaram pela sala do trono e Gaspar suspirou com a visão, Arthur estava tão pálido, cansado, e sabia exatamente pelo que era, o sangue que bebia não fazia efeito, ele estava angustiado, desesperado, com fome...
Talvez o medo de ataca-los fosse realmente grande, já que na hora do almoço Gaspar sentiu sua falta, sempre animado e falante, não o ver ali o entristeceu de forma tão grande que ele comeu e ficou em seu quarto, o dia inteiro, apenas observando aquela fresta abaixo da porta, ele queria que tudo isso parasse, ele sabia sobre os esforços falhos de Arthur, ele precisava ajuda-lo.
E então a meia noite ele viu, a sombra dele e sua tocha passarem silenciosamente por sua porta, então Gaspar correu e deitou sobre a mesma, tentando ouvir ele se arrastar, apertou os lábios, ouvindo a voz fraca dele falando com Ágatha, quase não tinha mais forças.
Gaspar se sentia um inútil por ver isso acontecer e simplesmente não conseguir fazer nada, não era um feiticeiro como Ágatha, palavras não o ajudariam, ele precisava se alimentar de algo que realmente funcionasse, ele...
Gaspar arregalou os olhos e então sentiu as mãos começarem a tremer, Arthur precisava se alimentar, e pensar em se oferecer lhe enchia de um medo descomunal, ele podia acabar sendo morto sem querer, mas sua mente turbulenta não estava funcionando direito, sua admiração e sua vontade de ajuda-lo estavam passando por cima de sua ideia possivelmente suicida.
Estava morando em seu castelo, usando um dote que lhe foi presenteado, com dinheiro que ganhara dele, ele deveria fazer algo, Gaspar daria sua vida para que pudesse protegê-lo, por que não seu sangue, para que ele pudesse sair dessa nuvem obscura de trevas e angústia.
Arthur talvez o odiaria pelo resto da vida, mas ele precisava tentar, ele era só uma alma insignificante, um órfão abandonado, seu rei precisava de algo que ele poderia oferecer, então mesmo que custasse sua vida, ele iria tentar, ele o faria por Arthur.
Os passos lentos e pesados foram escutados muitas horas depois, se arrastando para a escadaria, era ele, estava fraco, chorando, estava aflito, não sabia mais o que fazer, então o ouviu parar em frente a sua porta e desejou a abrir e fazer com que ele se alimentasse logo, mas o medo ainda estava ali.
-Por que seu cheiro está tão forte... - O ouviu dizer baixinho e então chegou mais perto da porta - Por que está tão... forte... eu... não posso ficar aqui! - O ouviu se afastar desesperadamente, e correr o máximo que podia para as escadas e então a porta dele se chocou tão forte que ecoou pelo corredor, Lilian jamais escutaria pois dormia como uma pedra, mas Gaspar não, ele talvez se arrependeria do que estava prestes a fazer.
-Você precisa de mim... - Disse o loiro se levantando e arrumando sua camisola enquanto segurava a maçaneta, as mãos tremiam mas ele já havia tomado uma decisão, ele iria fazê-lo se acalmar, ele precisava dar fim a essa tortura de seu rei, mesmo que custasse sua vida.
Então ele abriu a porta suspirando aliviado quando não o viu no corredor, mas então foi tomado de uma súbita coragem que o fez subir as escadas correndo e parar em frente a porta dele, ouvindo o lamento de Arthur mais alto ainda.
-Eu vou te deixar tentar dorm... - ouviu a voz de Ágatha e então tentou observar por uma fresta aberta na porta, ela parecia sorrir - Interessante! - A ouviu dizer bem baixinho e então seu corpo se desfez em sombras, sumindo logo em seguida, então ele viu Arthur jogando o casaco ao chão e se deitando na cama, abraçando o próprio corpo e se revirando, Gaspar não aguentou e abriu a porta e entrou no quarto.
-Hã... - Arthur o observou e arregalou os olhos - O que faz aqui? - Apertou os olhos com a mão no estômago.
-Você não está bem! - Disse fechando a porta e a trancando.
-Gaspar essa é uma péssima ideia, por favor saia daqui... - Arthur se afastou do mesmo, controlando a respiração.
-Você está péssimo a dias, não posso deixar isso acontecer! - Disse firme se aproximando mais um pouco, vendo Arthur se ajoelhar em sua cama.
-Gaspar VAI EMBORA! - Ele começou a chorar, com os punhos fechados.
-Eu te imploro Arthur... - Caminhou rápido até Arthur e parou em sua frente, desistindo de tudo - Por favor faça isso logo, eu não aguento mais! - Puxou a gola da camisola deixando seu ombro exposto, e então puxou o rosto de Arthur para o local, apertando os olhos enquanto tremia finalmente dando um grito quando sentiu.Arthur o empurrou na cama e o mordeu, e aquela dor tinha sido tão intensa que ele mal raciocinou quando o viu por cima dele, ele não sentiu quando uma das mãos estavam segurando seu pescoço, ele não viu quando os olhos dele se tornaram vermelhos, ele não havia visto mais nada.
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✠ • 𝐁𝐞𝐚𝐬𝐭 • ✠ - Au Danthur
FanficOnde Gaspar, um plebeu, vê Sua Majestade sozinho no meio da floresta na calada da noite. Ou Onde o Rei Arthur se torna um vampiro, sendo torturado pelos desejos ocasionados por um ritual. Os personagens pertencem a série de RPG Ordem Paranormal, som...