« Não Posso »

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Ele viu Gaspar, o viu se aproximar, ainda estava são quando ele puxou a própria camisola, mas não estava mais quando havia o puxado para o próprio corpo.
E ele perdeu o controle, aquela forma bestial que vivia dentro dele assumiu todo seu corpo, e ele o atacou, seu maior pesadelo estava acontecendo diante de seus olhos, estava agarrado a Gaspar, se alimentando dele, estava mordendo alguém que tinha jurado proteger e isso o culparia para o resto da vida.
Ele podia estar completamente possuído mas se lembraria do grito de dor dele, de quando seus olhos de fecharam e uma lágrima escorreu, de como as mãos dele agarraram sua camiseta desesperadas, de como ele aos poucos foi ficando cada vez mais imóvel, e então voltou a realidade.
Ele estava abraçando ao corpo do loiro e deitado sobre ele, piscou várias vezes esperando que aquilo fosse uma alucinação de sua fome insaciável que o possuía, mas não era, era Gaspar, deitado em seus braços com o pescoço mordido, e com seus lençóis brancos completamente ensanguentados, o sangue descia devagar do pescoço dele e fazia com que a camisola dele se tornasse vermelho vinho, cada vez mais escuro, então ele percebeu o que havia acabado de acontecer.
-GASPAR! - Pegou o corpo mole dele nos braços completamente desesperado - GASPAR POR FAVOR ME RESPONDE! - O chacoalhou sentindo os olhos ficarem marejados -EU FAÇO QUALQUER COISA MAIS POR FAVOR ACORDA! - Ele o abraçou começando a chorar como se não houvesse amanhã -O QUE FOI QUE EU FIZ! - Afundou o rosto no peito dele, o abraçando, o corpo dele estava frio, mole e não respondia aos seus chamados.
Arthur começou a tremer enquanto o pegava no colo e o deitava em seus travesseiros, segurou o rosto dele chamando mil vezes e nada parecia mudar, então ele arregalou os olhos, não podia tê-lo matado, ele jamais se perdoaria se tivesse feito isso a ele, ele se detestaria pelo resto da vida se tivesse tirado a vida do homem que fazia seu coração se alegrar, ele não iria aguentar.
-GASPAR POR FAVOR EU FAÇO TUDO QUE VOCÊ QUISER MAS POR FAVOR ACORDA! - Segurou o rosto angelical do mais velho ali e o trouxe delicadamente para o próprio ombro - POR FAVOR EU NÃO POSSO PERDER VOCÊ TAMBÉM, EU NÃO POSSO PERDER VOCÊ, POR FAVOR VOLTA! - Ele começou a soluçar então o deitou delicadamente antes de sair correndo de seu quarto completamente desesperado, mal percebendo seu rosto e suas vestes, que também tinham o sangue dele - AGATHA, AGATHA SOCORRO EU PRECISO DE AJUDA POR FAVOR! - Gritou como se não houvesse amanhã na escadaria e no corredor, vendo uma fumaça preta voar em direção ao seu quarto, correu atrás dela como se não houvesse amanhã.
-O que aconteceu? - Ela surgiu da fumaça arregalando os olhos e correndo até Gaspar - Ei, Gaspar, é a Ágatha, acorda! - Ela levou a mão até a mordida aberta e a cicatrizou, procurando a veia dele e tentando sentir se ele estava vivo.
-Eu sou um monstro... - Arthur caiu de joelhos na beirada da cama observando Ágatha checar o pulso do mesmo, então desabou, chorou tanto que seu corpo tremia, ele agarrava os lençóis da cama e os arranhava com raiva, com ódio, com medo.
-Ele está vivo! - Ágatha disse e os olhos de Arthur se arregalaram, fazendo-o dar a volta na cama e o olhar com mais alívio.
-Graças a Deus! - Ele abraçou a mão do loiro que estava caída ao seu lado, agradecendo a tudo que era mais sagrado que ele estava vivo, nada jamais conseguiria medir o seu alívio.
-Quanto você tomou Arthur? - Ela perguntou preocupada com a mão na testa de Gaspar - Ele está frio, está desmaiado! - Ela olhou o sangue na cama - Foi um pouquinho demais... - observou também a camisola e as vestes de Arthur.
-Eu não sei, eu perdi o controle! - Começou a chorar de novo - Eu arruinei a vida dele, eu sou um monstro Ágatha, eu não mereço viver! - Sentiu algo bater no próprio rosto, havia sido uma almofada.
-Você ENLOUQUECEU, ele está vivo, só perdeu um pouco de sangue, vamos cuidar dele, você não percebeu que está bem agora e não está sentindo nada! - Ela foi até o grande armário de Arthur e pegou cobertas - Você não está se revirando de fome como fica quando se alimenta de animais, e ele está com essa roupa fina nesse frio, se quer que ele fique bem me ajude a levá-lo ao quarto dele e cobri-lo!
-NÃO! - Ele gritou vendo ela arregalar os olhos - Ele vai ficar aqui, é mais confortável pra ele! - Então pegou uma coberta dela e o cobriu com cautela, o deitando com todo conforto que conseguiu.
-Ele vai precisar de repouso e de sopa pra ficar melhor, vamos precisar de um servo pra cuidar dele! - Ágatha disse o olhando - Ou você quer ficar aqui cuidando dele?
-E-eu não sei, e-eu quase matei ele, Lilian vai me odiar pro resto da vida dela, ele jamais vai me perdoar! - Arthur falou observando o rosto do loiro, tão calmo agora, muito diferente dos pesadelos que teria com isso depois dessa noite.
-Arthur... - Ágatha se aproximou e o abraçou - Tem coisas que não conseguimos controlar, mas o pior já passou, ele está vivo, ele só vai ficar meio fraquinho por uns dias, você não quer que alguém de confiança cuide dele?
-Eu quero... - Falou soluçando e olhando a mãozinha que segurava dele, a abraçando novamente.
-Sei que gosta dele mais que um amigo! - Ela o viu ficar mais pra baixo - Preciso que cuide dele, vai ficar tudo bem, foi só um acidente! - Ele a abraçou de volta e ficaram alguns minutos assim até ele se acalmar - Vou procurar o médico real pela manhã, cuide dele!
-T-tudo bem! - Ela desapareceu em sombras e ele ficou observando Gaspar, com os minutos e as horas em silêncio ele conseguiu escutar a respiração do Duque e suspirou aliviado, ele sabia agora que Gaspar estava bem mas nada apagaria o pânico que sentiu quando ele parou de se mexer, mas de uma coisa Ágatha estava certa, ele não estava mais sentido fome, dor ou angústia, estranhamente tudo que ele sentia havia sumido.
Estava sentado no chão, apoiado na cama observando ora a mão de Gaspar e ora seu rosto, ele tocou a mão do mais alto e entrelaçou seus dedos aos dele, ele sentia muito pelo que tinha feito, se Gaspar não o tivesse o puxado para o próprio pescoço ele teria mantido o controle, ele não queria machucar ninguém, havia feito uma promessa e não conseguiu cumprir, mal percebeu os olhos se fechando devagar sobre a cama, dormiu sobre um dos braços, já que o outro estava com a mão entrelaçada a de um anjo.

✠ • 𝐁𝐞𝐚𝐬𝐭 • ✠  -  Au DanthurOnde histórias criam vida. Descubra agora