« Escolha Própria »

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Eles podiam não ter noção de seus corpos se movendo enquanto descansavam, mas definitivamente jamais imaginariam acordar abraçados na hora do almoço em uma conchinha tão confortável e acolhedora.
-Que horas são? - Gaspar abriu os olhos e sentiu os braços de Arthur ao seu redor, congelando imediatamente e arregalando os olhos e voltando calmamente para sua posição inicial, mas ele já havia acordado Arthur.
-Gaspar, você está com fome? - Sentiu os braços de Arthur o abraçarem com mais delicadeza, e ele deitar o rosto sobre seu pescoço, conseguia até sentir sua respiração sob seu ombro - Posso ir buscar algo pra você comer! - Ele dizia ainda meio sonolento, então subiu uma das mãos e colocou sobre a dele, que estava agarrada a seu tórax.
-Não precisa! - Disse envergonhado, o ouvindo rir baixinho e fraquinho.
-Tudo bem, mas logo eu irei trazer algo pra você se alimentar, não quero te ver fraco! - Então sentiu seu corpo ser puxado para mais perto em um abraço mais apertado - Sinto muito, se eu não tivesse feito aquilo nada disso ia ter acontecido!
-Eu já lhe disse Arthur, fui eu quem escolhi entrar no quarto, está tudo bem! - Criou coragem e se afastou do abraço aconchegante de Arthur, que o olhou confuso e corado, mas então se virou frente a frente com ele. - E você está melhor! - Acariciou a bochecha dele - Você não parece mais exausto e cansado! - Então Arthur o puxou para perto, perto o bastante para seus narizes se encostarem - Suas bochechas estão rosadas de novo, parece mais saudável!
-Em menos de um dia? - Percebeu surpresa em sua voz, concordando com a cabeça, envergonhado pela proximidade - Lilian vai ficar preocupada com você...
-Acho que se der uma explicação que faça sentido ela acreditará, diga que eu só desmaiei no corredor! - Então o viu rir, de forma fofa e contagiante, os olhos brilhantes focados nos seus, os apreciando.
-Acha que vai dar certo? - Agora a mão dele estava sobre sua bochecha, ele a tocava delicadamente com a ponta dos dedos, e então parou em seu cabelo, passando as mãos delicadamente sobre seus fios dourados e chamativos.
-Acho! - Então focou nos olhos do dele, um de cada cor, uma raridade inexplicavelmente magnífica, havia também as cicatrizes em seu rosto, ele parecia não ligar ou esquecer delas, mas talvez hora ou outra elas o fizessem se sentir estranho ou esquisito, Gaspar jamais saberia, então passou os dedos carinhosamente sobre elas, vendo Arthur fechar os olhos e sentir a pele fria e pálida sobre seu rosto, seu pulso foi segurado e um leve selar foi depositado sob ele.
-A primavera vai chegar, uma nova temporada irá se iniciar, Gaspar... - Ele o olhou agora, com um olhar tão profundo que era como se ele tentasse ler a sua alma - Em todos esses anos eu jamais te esqueci, a carruagem, o orfanato, as flores... - Então Gaspar ficou surpreso, jamais imaginaria que ele se lembrasse com convicção disso, e não sabia por que estava lhe contando novamente agora - Você está pensando em arrumar uma noiva? - Ele perguntou devagar, como se tivesse medo da resposta que viria a seguir.
-Já estou com quase vinte e oito anos, mas não sei se deveria, a sociedade já começaria a pegar no meu pé para que eu me casasse mas... - Foi interrompido por Arthur.
-Você quer se casar? - Ele parecia precisar demais dessa resposta, parecia algo importante, mais para ele do que para o próprio Gaspar.
-Não... - Então ele suspirou, parecia aliviado mas ainda parecia tenso - Arthur... você está bem?
-Fique comigo... - Ele falou baixo, como um sopro, e então engoliu em seco e segurou seu rosto com a maior delicadeza que conseguia - Não sei como lhe explicar o que habita em meu coração a anos, mas eu posso te mostrar como eu me sinto em relação a você!
-Majestade mesmo que eu quisesse... eu não sou digno de tal oportunidade! - Suspirou vendo o mesmo se afastar dele - ... não tenho berço algum, Arthur! - Ele encarava o teto, parecia bravo, mas ainda sim, não sabia o que se passava em sua mente.
-Sabemos que isso não é verdade, eu não me importo com berço, nem com sangue! - Ele fechou os olhos e pôs a mão sobre eles.
-Não queria te chatear, eu sinto muito! - Gaspar se sentou na cama e o observou deitado, que continuava a evitar vê-lo - Meu senhor... - O ouviu resmungar bravo e então quase sorriu de sua teimosia - Arthur... - Ele pareceu prestar atenção agora - O que quer que eu faça?
-Quero que me diga, seria capaz de ficar comigo? - Ele então retirou as mãos dos olhos e o observou atentamente.
-E-eu não sei, se for um desejo seu eu o farei! - O viu fazer outra careta, agora estava realmente chateado - Eu nunca fiz algo assim antes...
-Gaspar, quero que faça por você, não por mim, se você não quiser, não o fará, é só ir para sua casa no centro de Saint Paul e arrumar uma noiva e ter vários filhos! - Ele dizia enquanto gesticulava com as mãos, estava nervoso, não gostava de vê-lo assim.
-Eu não quero me casar! - Falou com convicção agora, segurando sua mão - E-eu não sei o que devo fazer para satisfaze-lo, mas eu posso aprender, eu posso tentar, eu... - Suspirou vendo algo se iluminar na feição de seu Rei, acompanhando cada palavra que saia de sua boca - Eu posso ser útil a você, Majestade.
-Não me chame de Majestade, estamos no meu quarto! - Ele se apoiou nos travesseiros e segurou a mão de Gaspar próxima a seu peito, sobre seu coração - Está fazendo isso por que você quer, ou por quê quer que eu me sinta bem? - O de cabelos castanhos começou a acariciar a mão de Gaspar sob seu coração - Meus sentimentos estão em jogo, posso deixa-los em suas mãos, mas não sei se você o fará também, quero que seja sincero! - Então Gaspar o viu levar sua mão até o próprio rosto, e deitar a bochecha sobre a pele macia de sua palma, sentia os cabelos dele se perdendo entre as pontas de seus dedos.
-Então também deixarei os meus em suas mãos, se assim desejar! - Acariciou a maçã do rosto de Arthur com o polegar - Não posso prometer muita experiência da minha parte, eu nunca... - Envergonhou-se e não teve coragem de terminar a frase.
-Nunca esteve com outro homem? - Arthur o fitava, enquanto suas bochechas esquentavam e um tom rosado se tornasse bem visível, fazendo Sua Majestade sorrir, vendo ele confirmar silenciosamente - Creio que não há muita diferença, irá se acostumar facilmente! - O de olhos bicolores levou uma das mãos para o queixo do loiro, o trazendo para perto bem devagar - Eu posso?
Então Gaspar o viu chegar bem perto de seu rosto, que ficava mais vermelho gradativamente, então ele parou e esperou por sua resposta, o olhando com muita expectativa, com olhos brilhantes e esperançosos, não o via assim a semanas, ele estava apenas lhe pedindo algo simples, por que não compensa-lo de volta, estava em seu castelo, em sua cama, talvez lhe dar seu coração seja uma boa forma de provar o quanto era grato.
Confirmou, quase imperceptível, com a cabeça, fazendo um "sim" tímido, e então o vendo sorrir em resposta e então acabar com o espaço que estava os separando, ele lhe deu um selar delicado, carinhoso, a mão acolhedora dele migrou para sua bochecha, enquanto a outra fora diretamente para seus cabelos, os segurando em seus dedos.
-Obrigada! - Ele se afastou e lhe deu um beijo na testa, caloroso e o puxou para deitar em seu peito novamente, ele não conseguia parar de sorrir bobo, já Gaspar estava tímido, encolhido nos braços dele, sentindo o coração acelerado como jamais havia sentido em sua vida, ele havia o beijado, Sua Majestade havia o beijado, Arthur o beijou por escolha própria e ele ainda estava remoendo o que havia acabado de acontecer, e em como apreciou demais aquele simples toque, jamais iria esquece-lo.

✠ • 𝐁𝐞𝐚𝐬𝐭 • ✠  -  Au DanthurOnde histórias criam vida. Descubra agora