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Flashback
Dois anos atrásNunca havia sentido tanto ódio em toda sua vida miserável, e mesmo que todas as outras pessoas achassem o que ia fazer uma grande idiotice, ele não via mais chances, não tinha mais escolha.
-Onde posso encontrá-la? - Perguntou a Marie, na calada da noite, quase implorando para que respondesse.
-Na floresta, é sempre na floresta, mas você não pode acha-la, nunca podem, é sempre ela que os acha, Sua Majestade essa não é uma boa ideia! - Ela se ajoelhou no chão, implorando que não fosse atrás da feiticeira a qual todos que conheciam, temiam.
-Eu preciso ir, só ela pode me oferecer o que preciso! - Então saiu do castelo a caminho dos estábulos, subiu em seu cavalo e suspirou enquanto o portão se abria lentamente, olhou a enorme lua que estava sobre ele e então levou a mão ao peito - Pai... Preciso de ajuda!
Quando o portão abriu o suficiente, saiu com seu cavalo e adentrou a enorme floresta, a luz da Lua estava sendo de grande ajuda na escuridão da mata, ele continuou vagando por ela e rezando que obtivesse uma resposta urgente, e então quando pareceu perdido ele avistou um vulto, seus olhos se arregalaram e então parou e esperou.
Seu coração se acelerou e seu corpo inteiro gelou ao perceber que um enorme lobo branco se aproximava em sua frente, seu cavalo em pânico empinou e teve de se segurar com muita força para que não caísse para trás, o capuz de sua capa acabou caindo e então o animal se acalmou, misteriosamente, outros lobos apareceram ao lado do branco e se sentaram, como se o observassem, olhou em volta desesperado e percebendo não haver nenhum lobo atrás dele.
-Lobos encurralam as presas... - Disse baixinho e então sentindo uma vento forte atrás de si, quando se virou novamente avistou uma mulher, bem atrás dele, e com um sorriso.
-Exatamente! - Ela disse, então os lobos começaram a se transformar e cada um se mostrou ser uma pessoa diferente, aquilo era algo com qual deveria se assustar profundamente, mas estava tão desesperado que apenas achou um artifício muito genial - O que traz você ao meu lar, Majestade? - Ela começou a andar em volta dele com bastante curiosidade e diversão.
-Eu preciso que me ajude! - Tentou falar com firmeza mas suas palavras falharam no fim da frase.
-E por que eu deveria ajudar você? - Ela juntou as mãos atrás do corpo enquanto perambulava ao redor dele com enorme decência, ele poderia ter se tornado rei a pouco tempo, mas ali não tinha poder algum, ali era o território dela.
-Faço o que quiser se me ajudar a proteger o meu povo! - Engoliu em seco e passou a mão no rosto, as enormes olheiras de preocupação eram visíveis até mesmo sob a luz da Lua - Pessoas inocentes estão morrendo de ambos os lados por causa de uma guerra inútil por poder! - Ela parou - Eu preciso achar uma forma de parar esse sofrimento, talvez possa querer parar essa guerra tanto quanto eu! - Ela levantou uma sobrancelha.
-E por que eu gostaria de parar essa guerra? - Indagou, levantando a mão e instantaneamente acendendo velas postas engenhosamente sobre as árvores, fazendo o ambiente ficar agradavelmente mais iluminado.
-Porque posso protege-las como pagamento por ajuda! - Com cuidado, desceu de seu cavalo e se aproximou dela.
-Pelo visto o bom coração é algo de família! - Ela se aproximou dele - Seu pai não era um grande admirador de nossas atividades também, mas ele jamais nos desrespeitou como o resto da humanidade sempre fez!
-E então? - Uma das garotas indagou curiosa, Zahirah deu um longo suspiro e então estendeu o braço a ele.
-Proteja o meu povo e eu protegerei o seu, faça isso valer a pena! - Então em forma de agradecimento ele segurou o pulso dela, e ela fez o mesmo, tinham um contrato agora, aquilo era pelo fim de uma guerra frívola por ganância, ele faria cada segundo valer a pena.Fim do Flashback
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
-Eu parti logo depois de avisá-lo sobre as possíveis consequências do ritual que você fez! - Ela se aconchegou em sua cadeira e apontou para que ele se sentasse em algum lugar, acabou somente se apoiando sobre a mesa - O que aconteceu?
-É difícil explicar! - Cruzou os braços e fitou o chão - Eu sinto o cheiro das pessoas, posso saber o que elas sentem e de tempos em tempo eu tive que... - Tapou o rosto com uma das mãos, criando coragem para continuar.
-Foi tão ruim assim? - A voz dela soou piedosa, mas em todos os mil anos de vida dela, ele tinha noção que ela já tinha visto atrocidades bem piores do que sede de sangue.
-Eu tive uma sede tão incontrolável que nem mesmo o sangue dos animais a cessava! - Retirou a mão do rosto e a olhou, ela parecia o analisar com bastante cuidado.
-Você não parece a beira da loucura como deveria estar? - Riu melancólico com o comentário da feiticeira - O que aconteceu?
-Você viu o Gaspar, ele... - Sentiu a face suavizar com o pensamento - Ele foi o suspiro de alívio que eu não sentia a muitos anos, ele veio morar a alguns meses conosco e eu tive tanto medo de machuca-lo...
-Você tomou o sangue dele! - Ela concluiu com o que parecia ser alivio, apoiando o rosto na palma da mão, sobre a mesa.
-Eu tentei me segurar, mas ele sabia da minha condição e mesmo assim... - Apertou os olhos e retirou a coroa real da cabeça, a observando e jogando em direção de Zahirah, que assustou quando a mesma caiu em sua frente na mesa.
-Arthur! - Ela se esticou e lhe deu um tapa - Isso é feito de ouro, é pesado! - Mas mesmo assim ela a segurou com cuidado quando se acomodou de volta e continuou o escutando.
-Ele queria ajudar, mas eu o machuquei! Céus, Zahirah eu achei que tinha o matado, jamais conseguirei me perdoar pelo que aconteceu! - Sentiu a visão embaçar com as lágrimas, a visão dele sangrando sobre seus braços o aterrorizava muitas vezes, seja por seus sentimentos, ou por seus pesadelos.
-Você não vai gostar do que eu vou falar! - Ela mudou de posição na cadeira com a coroa nas mãos, o símbolo de sua total autoridade em Saint Paul, e ainda sim, simbolizava o quanto ele não merecia estar naquela posição, não era digno daquilo, não era digno de nada - Sabe o que aconteceu? - Ela apontou com o dedo indicador em sua direção - Você acabou com sede de sangue, porque afinal, fez um ritual de sangue!
Parte de seus cabelos caíram sobre o rosto, não suportava olhar para os fios esbranquiçados que ali se misturavam, eram mais um dos efeitos colaterais da maldição que o cercava.
-E isso não tem cura Arthur, não tem como fugir, ou tentar melhorar! - Um suspiro alto foi solto da parte dela - Você tentou sanar a sua sede com sangue de outros animais, mas sabe o que isso te tornaria com o tempo? - Engoliu em seco com o tom que as palavras dela saíram, jamais imaginou que isso poderia ter outro efeito, afinal, ainda era sangue - Você se tornaria um também, quanto mais tomasse, mais sem controle ficaria, você não só se alimentaria do seu "Suspiro de alívio" de cabelos dourados! - Ela deu uma pausa silenciosa desconcertante, e então destruiu o silêncio da pior forma possível - Você o dilaceraria inteiro.
-Não! - Disse imediatamente, vendo ela negar com a cabeça.
-Você sentiria tanta vontade que mal perceberia ele implorando para parar!
-CHEGA ZAHIRAH! - Se levantou subitamente e se afastou o máximo que pôde, nunca esteve tão em pânico quanto estava agora, tantas coisas que poderiam ter acontecido fora do seu controle, ele nem conseguia pensar, e se tivesse continuado, e se o tivesse machucado, ou pior, o matado, saber isso tornava tudo tão assustador que teve de enxugar as lágrimas que escapavam dos olhos.
-Eu sinto muito! - Ela se aproximou dele, que agora estava no meio da sala, pensando em como Gaspar e Lilian estiveram em perigo durante tanto tempo.
-Eu podia ter os matado, céus, o sangue deles podia estar sobre as minhas mãos e eu mal conseguiria lutar contra a mim mesmo! - Sentiu os braços dela rodearem seus ombros e os puxarem para um abraço.
-Arthur, você não sabia, foi uma tentativa de não machucar ninguém, mas a feitiçaria não funciona assim! - Não conseguiu mais controlar a respiração quando sentiu ela acariciar seus cabelos - Quando você toma sangue humano, se torna humano novamente! - Ela deu tapinhas em suas costas - Sei que parece algo horrível, mas a única coisa que posso te dizer é que Gaspar te salvou antes mesmo que você soubesse!
-Eu quase matei ele! - A olhou desesperado.
-Não, nunca é preciso muito sangue por que essa sede é daqui, não daqui! - Ela deu batidinhas com o dedo em sua testa delicadamente e depois fazendo o mesmo em seu estômago - Isso é algo paranormal agindo sobre sua mente, mas tudo isso é passado agora, você não vai matar ninguém, graças a Deus ele fez isso, pois ele estava certo, você está tão diferente que eu fiquei até surpresa!
-Sério? - O fato de que tudo que poderia dar errado não se concretizou o aliviou tanto, que pelas próximas horas ele iria subir as escadas e abraçar Gaspar tão forte que talvez ele tivesse dificuldades para respirar, ouviria ele perguntar se tudo estava bem e não conseguiria responder, estaria ocupado demais apreciando a voz dele, apreciando o fato de ele estar vivo.
-Eu não deveria ter partido tão cedo, mas agora que estou de volta posso ver o quão rosadas estão suas bochechas, não parece tão apático e abatido! - Ela apertou uma de suas bochechas depois de limpar suas lágrimas, a viu arrumar seus cabelos bagunçados e por fim, posicionou a coroa sobre sua cabeça com a elegância de uma imperatriz, em um ritual de passagem de um monarca a outro - Cuide bem dele, tão bem quanto ele cuida de você!
-Entrou em minhas memórias? - Ela se afastou e colocou a mão sobre o seu ombro.
-Só vi o que eu precisava ver! - Ela então apontou para o anel dela que continuava sobre a mesa - Já que agora sabemos como controlar os seus problemas, e não temos mas nenhuma dúvida, posso apresentar as coisas que eu trouxe da outra dimensão, no caso, do futuro? - Ele tentou rir, mas estava tão exausto de todas as coisas que se passaram em sua mente em um curto período de tempo que somente caminhou até a poltrona mais próxima e se sentou.
-Siga em frente! - E de uma forma nada formal e cortês, se esparramou sobre o encosto vendo ela dar a volta e colocar a mão sobre o anel.
-Não se preocupe sobre corteja-lo Arthur! - Ela falou com tanta naturalidade que se o lugar que ele estivesse sentado não tivesse encosto, ele agora estaria caído no chão com a fala repentina - Onde eu estava era tão bom que as pessoas se amavam sem nem se importar com a opinião alheia!
-Como é? - Ela gargalhou, provavelmente com a expressão embasbacada que tomava sua face, agora corada.
-Não tem que se preocupar com o que eu vou achar, ou caso queira me confidenciar algo sobre vocês dois, eu beijei muitas damas onde eu estava, e foi incrível! - O sorriso dela aumentou gradativamente, a segundos atrás estava em pânico, e agora havia acabado de descobrir a diversão libertina de sua fiel feiticeira, e que ela agora sabia de seu secreto romance...Parando para pensar sobre, ver ele e Gaspar como um romance e sem segredos era algo tentador.
-As pessoas de lá não tinham medo de como as outras reagiriam? - Ela apertou os lábios e enquanto transformava seu anel em algo que se parecia com uma caixa, e deu de ombros.
-As pessoas de lá só se importavam em ser felizes, diziam que o julgamento alheio não era digno de importância!
-Vai sentir falta de estar lá de novo?
-Sempre posso voltar caso a saudade aperte em meu coração!
-Parece ser um lugar incrível! - Viu a caixa se formar e então ela a abriu com cuidado.
-Foi realmente difícil dizer adeus, viver lá foi como descobrir o lugar a qual você pertence, depois de procurar por tantos anos! - Viu o sorriso dela ficar melancólico.
-Partiu deixando alguém para trás? Algum amigo, romance? - Admitiu estar bastante curioso com o local que ela visitara, mas a resposta que ouviu o fez sorrir.
-Muitos romances... - O olhar dela se perdeu pela sala.
-Você... - Quando percebeu o nível de intimidade da pergunta que ia fazer, simplesmente ignorou - Quer saber, esquece!
-O que foi? - Ela semicerrou os olhos.
-Nada!
-Não me obrigue a ler sua mente para sanar minha curiosi... - O olhar dela ficou surpreso e então as bochechas ficaram rosadas.
-Você não... VOCÊ LEU? - Se levantou em um pulo e ela desviou o olhar, envergonhada - ZAHIRAH!
-F-foi você que pensou nisso, eu fiquei curiosa! - Ela retirou vários livros e acessórios da maleta que parecia ter um fundo infinito - Eu jamais te contaria!
-A sua expressão já me respondeu! - Cruzou os braços chocado, vendo a mesma ficar brava.
-Cinco mil anos como uma feiticeira esplêndida, para ser pega por uma expressão facial! - Ela atirou um livro em sua direção.
-Seu rosto está ficando mais vermelho! - Falou de forma sincera vendo os olhos dela praticamente pegarem fogo.
-CALA A BOCA! - E outro livro foi atirado em sua direção.
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✠ • 𝐁𝐞𝐚𝐬𝐭 • ✠ - Au Danthur
FanfictionOnde Gaspar, um plebeu, vê Sua Majestade sozinho no meio da floresta na calada da noite. Ou Onde o Rei Arthur se torna um vampiro, sendo torturado pelos desejos ocasionados por um ritual. Os personagens pertencem a série de RPG Ordem Paranormal, som...