Quando era criança possuía uma coleção de bonecos cabeludinhos e estranhos que herdei da minha mãe, eles possuíam no máximo dez centímetros de altura, cores terrosas que contrastavam com seus cabelos coloridos espetados para cima, rostos engraçados e olhos esbugalhados. O nome desses bonecos era "Trolls", adorava esses bonecos mas do que qualquer outro brinquedo que possuía, costumava passar horas brincando com eles no jardim e durante minhas viagens para visitar meus avós no Canadá, costumava passear pelo bosque próximo de sua casa buscando por Trolls.
Nesse momento você, cara pessoa que está lendo, deve estar pensando: "Mas que pessoa tola sairia por aí em busca de Trolls?" A resposta é óbvia: EU. Como pode perceber, minha visão sobre Trolls era totalmente distorcida e irreal, nada parecida com tal criatura encontrada aqui na Terra Média. Em minha concepção e realidade eles não eram assustadores, gigantescos e fedidos. Mas pequenos, adoráveis e, no máximo, esquisitos.
Enfim, agora que já apresentei os Trolls do meu mundo posso iniciar uma das partes perigosas da aventura, o dia em que minhas fantasias infantis foram destruídas, o dia em que encontrei com tais criaturas em meu caminho. Depois desse dia posso afirmar que NUNCA mais verei os Trolls da mesma forma e que JAMAIS sairei em busca de algum novamente.
Não sou capaz de dizer com precisão sobre a passagem de tempo desde o último acontecimento narrado até o evento que irei contar nesse capítulo. Depois de certos dias seguindo caminho por aquele ambiente inóspito, começando a aceitar que seria impossível acordar do sonho lúdico mais comprido que tive, parei de contar a passagem de tempo e me deixei levar pelo mundo que seguia acreditando ser imaginário. Principalmente por estar cada vez mais deprimida com aquela viagem. Os dias se alongavam, as horas passadas no lombo dos cavalos duravam uma eternidade, meu corpo era incapaz de descansar durante as noites que pareciam durar segundos e a aventura tornava-se cada vez mais insuportável.
Durante esses dias me apelidei carinhosamente de "Lady Murphy", uma referência direta vinda da "Lei de Murphy", a lei universal do meu mundo criada pelo capitão Edward Murphy em 1949 que significa "Que qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível". Dito isso creio que seja capaz de compreender onde quero chegar, uma vez que o ciclo de merda começa a dar errado é quase impossível quebra-lo.
Não é necessário dizer em voz alta que o dia havia começado da pior maneira possível, tudo o que tinha de dar errado no caminho estava dando. Primeiro Gandalf havia sumido com a desculpa esfarrapada de que olharia a frente, não tivemos notícias daquele mago cretino durante toda tarde e parte da noite. A chuva havia regressado com força total, extremamente gelada e sem indícios de que cessaria em algum momento.
Demoramos horrores para encontrar um local seguro e "seco" para montar o acampamento, o mais perto disso foi embaixo de um maciço arbóreo. A palavra "seco" está em aspas, pois com o farfalhar das folhas de acordo com o vento que as acertava os pingos de água caiam pesados e gelados sobre nós, apesar de ter diminuído a quantidade de água em nossos lombos seguíamos molhados e irritados. Para a infelicidade geral da companhia, nem mesmo os melhores fazedores de fogo – Oín e Gloín – conseguiam acender a porcaria da fogueira.
Mas como desgraça pouca é bobagem, os pôneis se assustaram com algo no meio da floresta e caíram na água em sua tentativa falha de fuga. Os mais jovens do grupo, Fili e Kili, foram obrigados a pularem dentro da água gelada para salvarem os pobres animais. Apesar do ato heroico bem executado perdemos grande parte da carga, a qual assistimos pesarosamente ser levada pela enxurrada, a quantidade de mantimentos que já era pouca foi diminuída para quase nada.
Os anões não paravam de resmungar sobre a má sorte que assolava a companhia durante todo o dia, Oín e Gloín discutiam sobre suas tentativas fúteis de acender a fogueira, Fili e Kili tentavam enxugar as vestes enquanto praguejavam em Khuzdul, para ajudar Bilbo sentou ao meu lado numa tentativa de puxar assunto. Entretanto meu anseio era gritar, furar meus olhos e ouvidos com galhos de árvores, fazer qualquer coisa para despertar do pior dia de viagem até o momento. Para tentar me afastar da confusão e não surtar definitivamente, tampei ambas as orelhas com as mãos, fechei os olhos e encostei a cabeça no troco da árvore enquanto cantarolava aos berros "Ironic" da cantora Alanis Morissette, pois não existia outra música que se enquadrasse melhor no momento. Não irei escrever a música inteira, mas a parte principal é mais ou menos assim:
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐎𝐓𝐇𝐄𝐑 𝐒𝐈𝐃𝐄 ⇢ 𝑇𝘩𝑒 𝐻𝑜𝑏𝑏𝑖𝑡
FanfictionSempre nos ensinaram a ordem natural da vida é: Nascer, viver e morrer. Mas no meu caso, precisei realmente morrer para poder viver. THE HOBBIT / LOTR PERSONAGEM ORIGINAL ...