A witch - final

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O cheiro do ensopado com legumes preenchia a cabana com a sensação confortável de um lar. Era Nick quem preparava a iguaria, receita de família , segundo ele, criada para aproveitar as noites em tempos chuvosos ao lado de uma lareira.

-Não quer mesmo participar do Lammas essa noite, Nick? Tenho certeza que seria mais divertido do que passar mais uma noite aqui no meio do nada.

- Aqui eu tenho tudo que mais quero, Charlie.

O olhar intenso de Nick deixava o moreno encabulado. Nem em seus mais belos sonhos imaginaria ter alguém como Nick ao seu lado, que simplesmente goste de estar ao seu lado. Tentando mudar de assunto, Charlie exclamou:

-Escreva a receita para mim depois, por favor! - O loiro o olhou com curiosidade e surpresa - O que foi? Só porque moro na floresta, não quer dizer que não tenha o mínimo de instrução...

-...Bem... Você não pode me culpar. Nem mesmo os escudeiros costumam ser letrados. Eu só aprendi porque já estive a serviço de um monge...

- Digo o mesmo. Monsenhor Ajayi pode ter me expulsado da igreja depois, mas... Tive tempo suficiente para aprender.

- Então vou lhe escrever cartas quando tiver de viajar. Para que não se esqueça de mim!

-Eu jamais te esqueceria, sir - o moreno lhe abraçou com carinho - Talvez eu possa lhe acompanhar em suas viagens.

Ouvir essa possibilidade lhe transbordou de felicidade. Sem jeito, acabou se segurando no caldeirão e queimando a ponta dos dedos, logo dizendo um "estou bem" para tranquilizar Charlie.

-Acho que consigo encontrar alguma lenha seca longe do rio... Quem sabe algum bálsamo para sua mão.

-Obrigado! Se precisar de ajuda, é só me chamar.

-Eu sei me virar na floresta, sir.

Dizendo isso, Charlie beija Nick mais uma vez, um hábito que ele adoraria manter pelo resto de seus dias. Saindo da cabana, o moreno colocou sua capa habitual e andou em direção ao local onde a selva era mais densa e possivelmente a chuva não teria encharcado toda a madeira.

Sempre atento, logo percebeu movimentações incomuns na floresta. Menos animais noturnos, um clima de apreensão... Então viu ao longe no sul o que pareciam ser tochas acompanhadas de armas empunhadas. Charlie sabia que seria uma questão de tempo até que aqueles brutamontes tentassem ir atrás de sua irmã. Ao menos assim pensava, quando começou a distinguir os gritos:

-SPRING! Capturem o Louco Spring!Vamos queimar a bruxa!

Estavam atrás dele. Por um segundo, aquilo o paralisou. O que faria?Fugiria? Será que Nick lhe... Acompanharia?

Por sorte, conhecia aquela floresta como a palma de sua mão, saberia como voltar para casa sem ser visto e avisar Nick do problema a caminho.

-Nick!

Minutos depois já estava em casa novamente. O loiro experimentava o ensopado e parecia se deliciar com aquele momento. Uma cena adorável. Apesar do tamanho, o escudeiro parecia uma criança empolgada se divertindo na cozinha. Com ingenuidade e ternura, foi pego em flagrante enquanto lambia a ponta dos dedos, dando um sorriso sem graça. Irresistível.

-Não encontrou madeira?

-Eu... - Num lapso de racionalidade, viu flashes dos últimos dias ao lado de Nick, das pequenas explosões de alegria, da sensação de enfim ter alguém com quem pudesse partilhar . Charlie estava acostumado a ser maltratado, poderia sobreviver a perseguição e viver escondido, mas Nick não. Nick merecia ser feliz, em paz. Ainda que fosse longe dele... Não podia estragar sua vida - Você tinha razão. Preciso de ajuda com a madeira, subindo o rio. Pode pegar para mim?

Cinco Vidas - HeartstopperOnde histórias criam vida. Descubra agora