Pride and Crown - final

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Nada como tempo para cobrir a fantasia dos contos de fadas com uma boa camada de realidade. Não demorou muito para David assumir o ducado e, surpreendentemente, cumpriu a promessa, por seu irmão, de apoiar o fim da criminalização do amor entre homens na Câmara do Lordes. Nick já não estava por perto para comemorar, mas recebeu uma carta empolgante de Charlie narrando cada detalhe. Aquela foi a única carta no ano de 1967. Então... Silêncio durante dois longos anos.

Charlie não queria alimentar esperanças em Nick e fez o mesmo prometer que seguiria sua vida antes de se mudar para o outro lado do Atlântico. O loiro, por sua vez, aceitou suas condições restritas para contato. Ele sempre esteve, é claro, completamente apaixonado pelo mais novo e isso implica concordar com suas decisões absurdas.

Acompanhando de longe as notícias da corrida espacial, o moreno gostava de ver as imagens na TV sobre um grande projeto de levar o "homem ao espaço". Parte dele desejar olhar para aquele tubo luminoso e ver estampado o rosto sorridente que tanto gostava. Parte dele temia por mesmo correr risco de vida. Outra parte, uma pequena, se arrependia de ter proposto o afastamento. Afinal, nos primeiros raios da manhã, quando sua loja estava prestes a abrir e a luz do sol iluminava o local prevendo uma grande horda de compradores devido a primavera fresca da Inglaterra... Charlie não podia deixar de lembrar de Nick em sua garupa viajando na Harley. Vento nos cabelos, o sol aconchegante, o abraço reconfortante. Esses pequenos detalhes lhe impediam de se sentir completo.

Já era noite quando o rádio avisou sobre o sucesso do lançamento da Apollo 11: a primeira tripulação a pousar em solo lunar.

-..."Um pequeno passo para o homem, um gigantesco passo para a humanidade!"

Foram as primeiras palavras do astronauta Neil Armstrong ao caminhar sobre a lua!...

O movimento da da loja de Milkshakes era inexistente, afinal, todas as famílias permaneciam em casa assistindo o lançamento da espaçonave em plena terça-feira. O moreno se arrependia de não ter fechado a loja e ficado em seu quarto nos fundos ou pelo menos ido para a Pride, onde veria todos seus amigos.

Até que, subitamente, o sino da loja tocou.

"Clientes!"

-Seja bem vindo! Em que posso servi-lo?

Quando se virou para encarar o recém chegado, o loiro misterioso retirou o chapéu revelando um rosto doce acompanhado por um corpo másculo. E o sorriso. Aquele sorriso.

-Oi...

-Oi.

Por um segundo, Nick esqueceu o que pretendia dizer e se perdeu nos olhos de Charlie. Mas tão se rápido se perdeu, logo voltou a realidade.

-Boa noite. Vou querer todos.

-Todos?

-Todos os sabores, é claro.

Seu coração palpitava como se pudesse sozinho chegar à lua. Sua reação instintiva era pular o balcão e se jogar em seus braços, mas precisava se conter. Foi ele quem propôs o distanciamento, afinal de contas. Precisava honrar o espaço que deu ao loiro para pensar em sua vida e prioridades.

Decidiu entrar na brincadeira. O primeiro milkshake? Baunilha com morango, para iniciar uma conversa suave e sem pretenção.

-Obrigado.

Nick deu o primeiro gole de olhos fechados, como se saboreasse uma iguaria extraordinária e por sua expressão, parecia de fato uma bebida fantástica.

-Como... Foi a viagem?

Charlie começou com um assunto neutro.

-Mais tranquila que a volta, definitivamente. O mundo parou para acompanhar a apolo, mesmo uma linha internacional como essa estava vazia.

Cinco Vidas - HeartstopperOnde histórias criam vida. Descubra agora